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Tragédia de Bangladesh só perde em mortes para 11 de setembro

Ativista protesta em frente a loja de roupas em Barcelona, durante ato pelas vítimas de Bangladesh - Luis Gene/AFP
Ativista protesta em frente a loja de roupas em Barcelona, durante ato pelas vítimas de Bangladesh Imagem: Luis Gene/AFP

Do UOL, em São Paulo

07/05/2013 14h02

Sem contar o desabamento do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, no qual cerca de 3.000 pessoas morreram em um atentado terrorista, a tragédia de Bangladesh é o maior desabamento da história em número de mortes. O colapso do prédio, em 24 de abril, já deixou mais de 700 mortos, contra as cerca de 500 vítimas soterradas na queda de um shopping center em Seul, capital da Coreia do Sul, em junho de 1995, o segundo desmoronamento sem agente externo mais fatal.

O desabamento de Bangladesh aconteceu dia 24 de abril, em um complexo têxtil nos arredores de Daca, capital do país. Segundo o exército de Bangladesh, nas últimas horas as equipes de resgate recuperaram 36 novos cadáveres. No total, 2.437 pessoas foram resgatadas com vida. Este último número permaneceu inalterado desde a semana passada.

Um número indeterminado de trabalhadores continua desaparecido, provavelmente muitos deles sepultados sob a enorme massa de escombros. O Exército e outros órgãos públicos ainda trabalham para retirar os restos do prédio.

Protestos

Nesta terça-feira (7), protestos religiosos e trabalhistas movimentaram a capital do país. Ativistas, familiares e centenas de trabalhadores das cinco oficinas têxteis localizadas no complexo reivindicam o pagamento de salários atrasados e outras compensações.

De acordo com o portal "Bdnews 24", os empregados bloquearam durante duas horas uma rodovia que une Daca com a cidade de Savar, onde está situado o edifício de nove andares que desabou.

O presidente da Associação de Manufatureiros e Exportadores de Artigos de Ponta de Bangladesh (BGMEA), Atiqul Islã, afirmou à imprensa local que o assunto dos salários será resolvido nesta tarde.

A fonte lembrou, no entanto, que seu organismo só recebeu por enquanto a lista de trabalhadores de duas das cinco oficinas implicadas na tragédia, a maior da indústria têxtil na história de Bangladesh, o que complica o pagamento de salários.

Pela Europa, também houve manifestações. Na Espanha, ativistas da UGT (União Geral de Trabalhadores) protestaram em frente à loja Mango, no centro de Barcelona, nesta terça-feira (7).

Roupas de grife a custo baixo

Bangladesh é o país com salários mais baratos na indústria da roupa e por isso empresas de todo o mundo, incluindo da China, estão transferindo parte de sua produção ao país asiático, de acordo com a Campanha Roupa Limpa.

As companhias internacionais Primark, El Corte Inglês, Bon Marché, Joe Fresh e Benetton confirmaram produzir em alguma das empresas locais implicadas no acidente, e outras como a Mango tinham feito pedidos de prova nas oficinas.

Bangladesh se transformou no destino favorito para as grandes companhias de moda, desbancando a China e o Vietnã. O motivo é que seus salários estão entre os mais baixos do mundo. A indústria têxtil representa 80% das exportações do país asiático, e emprega quatro milhões de trabalhadores.

Os proprietários das quase 5.000 fábricas existentes formam uma poderosa elite que financia os dirigentes políticos e ocupa cadeiras no parlamento. Não é por acaso que o proprietário do edifício derrubado, que violava todas as normas de construção, foi um membro importante do partido no poder.

É certo que muitas das grandes companhias ocidentais que operam em Bangladesh assinaram acordos com os provedores para garantir as condições laborais dos trabalhadores. Nisso está sua reputação. Mas é óbvio que o sistema falha. Para ampliar seus benefícios, os fabricantes locais costumam subcontratar outras empresas ilegais que não cumprem as condições mínimas de trabalho.