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Sobrevivente é encontrada após 17 dias presa em escombros de desabamento em Bangladesh

Do UOL, em São Paulo

10/05/2013 08h13Atualizada em 10/05/2013 10h13

Uma mulher foi encontrada viva nesta sexta-feira (10) após ficar presa por 17 dias entre os escombros do complexo têxtil de nove andares que desabou perto de Dacca, em Bangladesh, e que deixou até agora mais de mil mortos, informou a imprensa local.

A sobrevivente foi localizada nesta manhã pelas equipes de resgate, que relataram que lhe deram água e biscoitos e que o estado de saúde dela é relativamente bom, segundo os jornais "Bdnews24" e "The Daily Star".

O resgate da mulher, identificada pela mídia de Bangladesh apenas como Reshma, foi mostrado ao vivo por emissoras de TV do país. Ela saiu em uma maca e foi carregada a uma ambulância, recebendo uma máscara de oxigênio.

No hospital, Reshma deu uma breve entrevista a jornalistas locais. 

“Eu ouvi as vozes dos trabalhadores de resgate nos últimos dias. Eu ficava batendo nos escombros com pedaços de madeira para chamar a atenção deles”, afirmou, na cama do hospital.

Veja o resgate da sobrevivente

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“Ninguém me ouviu. Eu nunca imaginei que veria a luz do dia de novo”, completou.

Reshma também contou que conseguiu sobreviver porque havia comida seca em um local próximo onde ela estava. Ela se alimentou assim por 15 dias.

“Nos últimos dois dias, eu só tinha água. Eu bebia pouquinho para não desperdiçar tudo”, disse.

A sobrevivente foi encontrada no segundo andar do prédio que desabou, dentro de um salão de orações. 

Tragédia

Até agora, a tragédia já deixou 1.006 mortos, depois que mais corpos foram encontrados nos escombros do prédio.

O registro de mortes do maior desastre industrial de Bangladesh chegou a 1.006 nesta sexta-feira, depois que mais corpos foram encontrados no prédio de nove andares que desabou perto da capital Dacca.

Outro porta-voz do Exército, o capitão Shahnewaz Zakaria, afirmou que operários dotados de "gruas, pás mecânicas e escavadoras" retiraram, na quinta-feira (9), cerca de 130 corpos em decomposição, funcionárias das confecções em sua maioria, enquanto continuavam avançando para níveis inferiores do prédio.

O oficial Siddiqul Alam Sikder, que supervisiona as operações de busca, disse à AFP que espera terminar o trabalho nesta sexta. "Falta apenas fazer a busca no subsolo", informou Sikder.

O prédio Rana Plaza, que abrigava cinco confecções, desabou em 24 de abril, um dia depois da advertência de operários sobre enormes rachaduras nas paredes. Mais de 3.000 pessoas estavam trabalhando.

Na quinta-feira, em outra tragédia ligada às condições precárias de trabalho no setor têxtil no país, pelo menos oito pessoas morreram no incêndio de uma confecção no bairro de Darussalam de Dacca.

O incêndio, de causas ainda desconhecidas, começou de madrugada no terceiro andar de um prédio de 11 andares, onde funcionam duas confecções.

Presas em uma escada, as vítimas morreram por asfixia pela "fumaça tóxica emitida pelo tecido sintético", explicou à AFP o diretor de Operações dos Bombeiros de Bangladesh, Mahbubur Rahman.

O proprietário da fábrica de suéteres Tung Hai está entre as vítimas. "O incêndio foi importante, mas conseguimos reduzi-lo para um único andar", contou Rahman.

O setor têxtil é fundamental para a economia de Bangladesh, gerando US$ 29 bilhões de receita ao ano. Em 2012, correspondeu a 80% das exportações do país. Os baixos salários e a abundante mão de obra tornam o segundo maior produtor de roupas do mundo, atrás apenas da China.

Há anos, as ONGs denunciam as péssimas condições de trabalho e as normas de segurança dessa indústria no país. Os incêndios costumam ser frequentes nas cerca de 4.500 confecções de Bangladesh. Em novembro de 2012, pelo menos 111 pessoas morreram em um incêndio em uma empresa têxtil.

Na quarta-feira (8), o governo de Bangladesh anunciou o fechamento de 18 fábricas têxteis em Dacca e Chittagong, a segunda cidade do país, depois de se comprometer com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) a tomar medidas imediatas para reforçar a segurança nas fábricas.

Também na quarta-feira, um grupo de especialistas da ONU pediu às grandes marcas internacionais do setor que não deixem Bangladesh, e sim que cooperem com o governo, com as organizações internacionais e com a sociedade civil para melhorar as condições trabalhistas. (Com agências internacionais)