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Taleban pede que população deixe o aeroporto, após 12 mortes desde domingo

Do UOL, em São Paulo

19/08/2021 07h17Atualizada em 19/08/2021 08h31

Doze pessoas foram mortas dentro e nos arredores do aeroporto na capital do Afeganistão, Cabul, disseram membros do Taleban e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), desde que o grupo fundamentalista tomou a cidade, no domingo, segundo a agência Reuters.

A tomada do poder pelo Taleban desencadeou uma onda de medo em grande parte da população afegã, que tenta fugir para outros países. Imagens de multidões nas pistas do aeroporto chocaram o mundo. Centenas de pessoas corriam tentando alcançar aviões que estavam prestes a decolar — algumas até tentaram se segurar a uma aeronave em movimento.

Os Estados Unidos iniciaram uma investigação sobre restos humanos encontrados na roda de um avião que decolou de Cabul, capital do Afeganistão. A aeronave em questão é um C-17 e o material foi descoberto após o pouso no Catar.

As 12 mortes foram causadas por tiros de arma de fogo ou em tumultos, disse hoje à Reuters um oficial do Taleban, que não quis se identificar. Ele pediu às pessoas que ainda estavam amontoadas nos portões do local a voltar para casa se não tivessem o direito legal de viajar. "Não queremos machucar ninguém no aeroporto", disse o oficial.

Ontem, o aeroporto registrou novos tumultos. Tropas dos Estados Unidos dispararam alguns tiros para o alto para tentar controlar a multidão, segundo relato da agência ANSA. Ao menos 17 pessoas ficaram feridas.

Os tumultos ocorreram em meio à intensificação das operações de evacuação que países ocidentais têm feito para tirar seus cidadãos do país.

"Não haverá democracia no Afeganistão"

O Afeganistão pode ser comandado por um conselho de governo agora que o Taleban assumiu o controle, e o líder supremo do movimento militante islâmico, Haibatullah Akhundzada, provavelmente permanecerá no comando geral, disse um membro sênior do grupo à Reuters.

O Taleban também vai tentar convencer que ex-pilotos e soldados das Forças Armadas afegãs se unam às suas fileiras, acrescentou Waheedullah Hashimi, que tem acesso às decisões do grupo, em uma entrevista.

Muitas questões sobre como o Taleban vai governar o Afeganistão ainda precisam ser finalizadas, explicou Hashimi, mas o Afeganistão não será uma democracia.

"Não haverá sistema democrático porque não há nenhuma base em nosso país", disse ele. "Não discutiremos que tipo de sistema político devemos aplicar no Afeganistão porque está claro. É a lei sharia e é isso."

Biden admite adiar saída de tropas

O presidente Joe Biden disse ontem à emissora ABC que seria impossível que os Estados Unidos deixassem o Afeganistão após duas décadas de guerra sem um "caos" e assegurou que as tropas podem permanecer no país além da data limite para garantir a evacuação dos cidadãos americanos.

Quando perguntado se as tropas americanas permaneceriam no país da Ásia central depois da data limite de 31 de agosto se for necessário para garantir a evacuação de todos os americanos, ele respondeu "sim".

Cerca de 5 mil pessoas foram retiradas pelos Estados Unidos do Afeganistão nos últimos dias, e as autoridades americanas querem acelerar o ritmo, declarou ontem o Chefe do Estado-Maior da Defesa, Mark Milley.

Afegãos relatam pânico

Cidadãos afegãos que chegaram à Alemanha na manhã de ontem descreveram cenas de horror que presenciaram no aeroporto de Cabul antes de conseguirem embarcar nos aviões militares alemães.

Os relatos foram publicados pela agência Reuters no aeroporto de Frankfurt, onde chegaram homens, mulheres e crianças que conseguiram deixar o Afeganistão depois que o Taleban tomou o poder.

"Tivemos que forçar a entrada e meu filho caiu. Estávamos com medo, mas conseguimos. Um cara americano mostrou boa vontade e percebeu que estávamos totalmente exaustos. Ele pegou os passaportes para verificar se eram autênticos. Aí ele disse 'tudo bem, pode entrar'. Outros atrás choraram e deitaram no chão. Foi assustador", contou uma mulher, que não quis se identificar. Os afegãos temem retaliações contra familiares.

* Com informações da AFP, Reuters e Ansa