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"Chefes de Estado mal sentaram para discutir", reclamam movimentos sociais

Ban Ki Moon, secretário geral da ONU, se reuniu na sexta (22) com representantes da Cúpula dos Povos, fórum paralelo à Rio+20 - Júlio Cesar Guimarães/UOL
Ban Ki Moon, secretário geral da ONU, se reuniu na sexta (22) com representantes da Cúpula dos Povos, fórum paralelo à Rio+20 Imagem: Júlio Cesar Guimarães/UOL

Maria Denise Galvani

Do UOL, no Rio

22/06/2012 12h14Atualizada em 22/06/2012 19h01

Os representantes da sociedade civil envolvidos nas negociações da Rio+20 levaram ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, críticas quando à estrutura da reunião de cúpula da Conferência. Porta-vozes de grandes ONGs com atuação transnacional falam em uma “crise de liderança” dos governantes globais.

“É inacreditável que mais de 100 chefes de Estado estejam aqui e não passem nem uma hora discutindo os problemas do mundo. O trabalho todo foi deixado para servidores públicos, burocratas”, disse Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace internacional.

“Acho que nossos líderes devem sofrer de algum problema cognitivo: todos aqui falamos do senso de urgência, da necessidade de mudança, mas eles não conseguem ir além”, afirmou ainda Naidoo, em entrevista após participar de um encontro com o secretário-geral da ONU.

A reunião de cúpula da Rio+20, conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável que termina nesta sexta (22) no Rio, foi organizada em torno de uma sessão plenária onde discursam 192 chefes de Estado ou representantes de alto nível. Eles receberão pronta a declaração final da Conferência, negociada até o último momento pelas missões diplomáticas enviadas ao Rio. Mesas-redondas temáticas para se avançar em questões mais concretas acontecem em paralelo, entre ministros e representantes nacionais de menor escalão.

Sharon Burrow, secretária-geral da Confederação internacional dos Sindicatos, disse que os processos de negociação na ONU pouco fazem para aliviar o sofrimento das pessoas. “Fizemos questão de deixar claro que há amargos desapontamentos nessa declaração final”, ela disse.

“As pessoas estão perdendo a confiança na democracia e no multiletaralismo, a maioria delas sente que não têm influência nenhuma nas decisões da ONU”, afirmou Burrow. Segundo ela, restou aos movimentos sociais apelar a Ban Ki-Moon que apoie e reconheça as decisões tomadas em fóruns paralelos, como a Cúpula dos Povos, que acontece no Aterro do Flamengo no mesmo período da Rio+20.

Barbara Stocking, diretora da ONG internacional Oxfam, disse que o mundo vive uma crise de liderança. "O que temos no momento é um mundo onde as pessoas sentem medo e insegurança e isso vai aumentar, a menos que nossos líderes mostrem uma visão inspiradora", afirmou.

Stocking ressalta, no entanto, iniciativas pontuais que fizeram a Rio+20 valer a pena -- o acordo em torno dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, uma frente de combate à fome, e a "energia" que se produziu na cúpula dos povos.

ONU e ativismo

Um dos representantes brasileiros a participar da reunião com Ban-ki-Moon, Rubens Born, coordenador da ONG Vitae Civilis, disse que o secretário-geral da ONU recebeu bem as críticas dos movimentos sociais. “Ele inclusive nos falou que foi educado, quando jovem, a sempre buscar resultados ambiciosos. Mas disse que os processos da ONU são assim mesmo, e que o documento vai abrir espaço para os Estados tomarem ações concretas no futuro”, contou Born.

Participaram do encontro com Ban-Ki-Moon, além de Born, representantes da Via Campesina e da ONG Friends of the Earth, além de outros participantes da Cúpula dos Povos.

Naidoo, do Greenpeace, disse que os movimentos sociais também terão responsabilidade de cobrar da ONU os próximos passos concretos. “Desafiamos os governos dizendo que eles não conseguem avanços negociando como sempre, mas nós também não podemos fazer ativismo como sempre. Temos que superar barreiras do passado: intensificar a luta integrada por causas ambientais, sociais e econômicas, e fazer parceiras com os governos e empresários mais progressistas.”