Em sessão tumultuada, Câmara de Vereadores de SP aprova homenagem à Rota
Sob vaias, aplausos e xingamentos vindos de uma plateia dividida, a Câmara de Vereadores de São Paulo aprovou na tarde desta terça-feira (3) a “Salva de Prata” ao batalhão da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), tropa de elite da Polícia Militar.
A homenagem foi proposta pelo vereador Paulo Telhada (PSDB), coronel da PM, ex-comandante da Rota e integrante da chamada bancada da bala na Casa --composta ainda pelos vereadores Álvaro Camilo (PSD), ex-comandante-geral da PM, e Conte Lopes (PTB), capitão aposentado que também atuou na Rota e foi deputado estadual.
A homenagem foi aprovada por 37 votos favoráveis, uma abstenção e 15 votos contrários. As bancadas de PT, PSOL e PC do B, além do vereador Ricardo Young (PPS), votaram contra a proposta.
Após a proclamação do resultado, parte da plateia recebeu a "Salva de Prata" com gritos de "polícia, fascista, não passarão" e "assassinos"--sobretudo ativistas de direitos humanos. Outra parte dos presentes, composta principalmente por policiais militares da ativa e aposentados, além de amigos e familiares de PMs, aplaudiram a cessão da homenagem e exibiram faixas com a mensagem "Contra o crime e a corrupção. O povo de bem está com a Rota".
Veja como cada vereador votou
A homenagem ao batalhão acontece após quatro sessões extraordinárias e depois de duas semanas de polêmica no Legislativo municipal.
Rota sempre defendeu "liberdade da população", diz Telhada
Pouco antes de iniciar a votação nominal, Telhada destacou que há pelo menos dez dias o impasse em relação à matéria travava os trabalhos na Câmara. Em seguida, defendeu que a aprovação seria uma demonstração de respeito “aos mais de 800 homens que têm levado segurança à população” ao longo dos 122 anos de existência da Rota.
"O monumento aos mortos no batalhão possui quase 150 nomes de PMs que sacrificaram suas vidas; gostaria que isso fosse levado em consideração”, pediu o tucano. Para ele, a despeito dos relatos recorrentes de excessos investigados contra homens do batalhão, na imprensa, “a Rota sempre lutou pela ordem, pela liberdade da população e pelo cumprimento da lei."
"Resposta à sociedade paulistana"
Líder da bancada do PC do B, o vereador Orlando Silva fez um apelo antes de votar contrariamente à “Salva de Prata”: “Fui cobrado sobre a posição da Câmara acerca dessa homenagem. Peço aos vereadores que reflitam, porque essa é uma decisão que maculará a história de casa um de vocês.” Silva concluiu: rechaçar a proposta seria uma espécie de "resposta à sociedade paulistana."
Vereadora diz que Rota é violenta
Para a líder da bancada do PT, vereadora Juliana Cardoso, votar contra a homenagem não seria uma postura partidária, “mas uma postura ideológica”.
“Este projeto está demorando sim porque é polêmico. Chega de violência. E esse tipo de violência que a Rota coloca na cidade a gente não quer”, declarou a petista, que criticou a incursão do batalhão, principalmente, “dentro das periferias e com a nossa população negra”.
Há um mês, policiais da Rota eram condenados
A homenagem à Rota acontece exatamente um mês após o julgamento da maior e mais violenta etapa do episódio que ficou conhecido como o massacre do Carandiru. Os jurados decidiram condenar 25 policiais militares da Rota acusados da morte de 52 presos que estavam no terceiro pavimento do pavilhão 9 do presídio no dia 2 de outubro de 1992. Eles receberam uma pena de 624 anos de reclusão cada um, mas recorrerão em liberdade.
O julgamento do caso já é considerado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo o maior realizado pela Justiça do Estado e representa uma segunda etapa: em abril, no primeiro júri do massacre, 23 PMs haviam sido condenados a 156 anos acusados da morte de 13 internos que estavam no segundo pavimento do presídio. Ao todo, o massacre –assim classificado pela OEA (Organização de Estados Americanos) no ano 2000 ---teve 111 mortos e 84 policiais denunciados. Destes, 78 estão vivos. Mais dois julgamentos do caso ocorrerão este ano e início do ano que vem.
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