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Gerente foi responsabilizada por perdas e fez ameaças, diz Petrobras

Venina Fonseca foi transferida para Cingapura após fazer denúncias na estatal - Divulgação/ Inlac Brasil
Venina Fonseca foi transferida para Cingapura após fazer denúncias na estatal Imagem: Divulgação/ Inlac Brasil

Do UOL, em São Paulo

12/12/2014 21h54

A Petrobras divulgou uma nota na noite desta sexta-feira (12) para rebater as declarações da ex-gerente Venina Velosa da Fonseca, reveladas em reportagem publicada hoje pelo jornal “Valor Econômico”. A estatal afirmou que a funcionária foi responsabilizada pela comissão interna que investigou irregularidades na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e que ela fez ameaças a seus superiores para se manter na gerência.

“A empregada foi ouvida nesta comissão, momento em que teve a oportunidade, mas não revelou os fatos que está trazendo agora ao conhecimento da imprensa. A empregada guardou estranhamente por cerca de cinco anos o material e hoje possivelmente o traz a público pelo fato de ter sido responsabilizada pela comissão”, disse a empresa.

“A empregada foi destituída da função de diretora presidente da empresa Petrobras Singapore Private Limited em 19/11/2014, após o que ameaçou seus superiores de divulgar supostas irregularidades caso não fosse mantida na função gerencial”, prosseguiu o comunicado.

Foi a segunda nota que a Petrobras divulgou em menos de 24 horas sobre o caso. No primeiro comunicado, emitido no fim da noite de quinta-feira (11), a empresa evitou fazer ataques à funcionária e frisou que as denúncias feitas foram investigadas. O argumento foi repetido na nota de hoje: a estatal alegou ter aprimorado procedimentos e tomado providências.

Em 2008, a geóloga Venina apontou problemas em contratos de comunicação da diretoria de Abastecimento da Petrobras. Uma comissão interna concluiu que foram pagos R$ 58 milhões em contratos de comunicação para serviços não realizados. O diretor da área era, à época, Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava Jato e réu no processo aberto na Justiça Federal. Venina era gerente executiva da mesma diretoria e subordinada a Costa.

Depois, ela denunciou um esquema em que empresas suspeitas de cartel venciam concorrências para contratos aditivos que elevavam o custo das obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Foi a comissão criada para apurar este caso que citou a geóloga por causa de “responsabilidades por não conformidades consideradas relevantes”.

Em maio passado, quando chefiava o escritório da Petrobras em Cingapura, na Ásia, Venina fez uma denúncia interna sobre perdas que a estatal sofria em operações internacionais. Sobre este caso, a Petrobras disse ter adotado “providências administrativas e negociais cabíveis”.

De acordo com o “Valor”, em e-mail enviado à presidente da Petrobras, Graça Foster, no último dia 20, a ex-gerente reclamou que vinha sofrendo assédio e ameaçadas desde que fez as primeiras denúncias.

“Desde 2008, minha vida se tornou um inferno, me deparei com um esquema inicial de desvio de dinheiro, no âmbito da Comunicação do Abastecimento. Ao lutar contra isso, fui ameaçada e assediada. Até arma na minha cabeça e ameaça às minhas filhas eu tive”, afirmou. Ela enviou a mensagem um dia após ser afastada da empresa junto ao rol de suspeitos investigados pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Abaixo a íntegra da nota da Petrobras:

Com referência às matérias publicadas na imprensa a respeito de denúncias feitas pela empregada Venina Velosa, a Petrobras reitera que tomou todas as providências para elucidar os fatos citados nas reportagens. Não procede a afirmação de que não houve apuração por parte da Companhia em nenhum dos três casos citados por ela: RNEST [Abreu e Lima], Compra e Venda de BUNKER [em operações no exterior] e Irregularidades da Gerência de Comunicação do Abastecimento.

A Petrobras instaurou comissões internas de apuração, entre as quais uma referente aos procedimentos de contratação nas obras da RNEST [Abreu e Lima], em 2014. A empregada foi ouvida nesta comissão, momento em que teve a oportunidade mas não revelou os fatos que está trazendo agora ao conhecimento da imprensa. A empregada guardou estranhamente por cerca de 5 anos o material e hoje possivelmente o traz a público pelo fato de ter sido responsabilizada pela comissão.

A empregada foi citada no relatório desta Comissão com referência a responsabilidades por não conformidades consideradas relevantes. O resultado foi enviado às Autoridades Competentes (MPF, PF, CVM, CGU e CPMI) para as medidas pertinentes. A empregada foi destituída da função de diretora presidente da empresa Petrobras Singapore Private Limited em 19/11/2014, após o que ameaçou seus superiores de divulgar supostas irregularidades caso não fosse mantida na função gerencial.

A Petrobras instaurou comissões internas em 2008 e 2009 para averiguar indícios de irregularidades em contratos e pagamentos efetuados pela gerência de Comunicação do Abastecimento. O ex-gerente da área foi demitido por justa causa em 3 de abril de 2009, por desrespeito aos procedimentos de contratação da Companhia. A demissão não foi efetivada naquela ocasião porque seu contrato de trabalho estava suspenso, em virtude de afastamento por licença médica. A demissão foi efetivada em 2013. O resultado das análises foi encaminhado para a CGU e MP/RJ e há uma ação judicial em andamento visando ao ressarcimento dos prejuízos causados à companhia pelo ex-empregado.

Após resultado do Grupo de Trabalho constituído em 2012, a Petrobras aprimorou os procedimentos de compra e venda de bunker, com a implementação de controles e registros adicionais. Com base no relatório final, a Companhia adotou as providências administrativas e negociais cabíveis. A Petrobras possui uma área corporativa responsável pelo controle de movimentações e auditoria de perdas de óleo combustível, que não constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014.