Topo

Janot vê "canal de vazamento" da Lava Jato para poderosos

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

25/11/2015 12h54Atualizada em 25/11/2015 19h03

No pedido de prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), acusado de tentar interferir nas investigações da Operação Lava Jato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma existir um “canal de vazamento” de informações da operação destinado a abastecer “pessoas em posição de poder”.

A afirmação de Janot foi feita porque as investigações identificaram que o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, possuía uma cópia de trecho do acordo de delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, antes mesmo de o acordo ser protocolado na Justiça.

“No bojo desse terceiro assunto, vem à tona a grave revelação de que André Esteves tem consigo cópia de minuta de anexo do acordo de colaboração premiada afinal assinado por Nestor Cerveró, confirmando e ilustrando a existência de canal de vazamento na Operação Lava Jato que municia pessoas em posição de poder com informações do complexo investigatório”, escreveu Janot no pedido de prisão enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal).

A informação foi obtida por meio de gravação, feita pelo filho de Cerveró, Bernardo, de reunião no dia 4 de novembro, em hotel de Brasília, entre Delcídio, Bernardo, o chefe de gabinete do senador, Diogo Ferreira, e o advogado Edson Ribeiro, que representou Cerveró na Lava Jato.

Segundo a PGR, o documento sobre a delação de Cerveró foi novamente exibido em reunião no escritório de Edson Ribeiro, no Rio de Janeiro, no último dia 19, quando também foi discutido a compra do silêncio de Cerveró sobre o envolvimento do senador.

O ministro do Supremo Teori Zavascki autorizou a prisão de Delcídio, Esteves, Ribeiro e Ferreira, suspeitos de tentarem atrapalhar as investigações da operação.

Segundo a Procuradoria, Delcídio prometeu uma mesada de R$ 50 mil reais à família de Cerveró, além de ter oferecido um plano de fuga do país ao ex-executivo. O objetivo do senador, segundo a Procuradoria, era evitar que Cerveró fechasse acordo de delação premiada ou, se aceitasse a colaboração, que não citasse irregularidades cometidas por Delcídio e Esteves.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que representa o banqueiro André Esteves, afirmou que seu cliente não estava presente nas reuniões gravadas em que foi discutida a suposta interferência nas investigações e que ele agora busca saber em que circunstâncias Esteves foi citado.

“André está tranquilo. Ele não participou, absolutamente, muito menos da [proposta] de fuga [de Cerveró]”, afirmou Kakay.

Propina a Collor

Segundo a Procuradoria, Cerveró cita em seu acordo de colaboração o envolvimento de Delcídio em práticas de corrupção na aquisição de sondas pela Petrobras e na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Cerveró citaria ainda, segundo a Procuradoria, que André Esteves, por meio do banco BTG Pactual, pagou propina ao senador Fernando Collor (PTB-Al) relacionada a um contrato de embandeiramento de 120 postos de combustíveis em São Paulo, que pertenciam conjuntamente ao banco e a um outro grupo empresarial.

Em nota enviada por sua assessoria, Collor afirmou que não teve participação ou conhecimento das tratativas do BTG relacionadas ao contrato dos postos de combustíveis e “muito menos” teria recebido vantagem pelo negócio.

O senador também criticou a atuação da Procuradoria-Geral da República nos acordos de delação premiada.

“O concerto de versões entre delatores para a garantia de benefícios mútuos lamentavelmente tem se mostrado prática comum na chamada Operação Lava Jato, no mais das vezes gestada no cárcere comum compartilhado pelos investigados, com o beneplácito do órgão da acusação. Assim, embora lastimável, não chega a ser novidade que o mais novo delator siga a cantilena soprada pelos seus antecessores, sob a batuta da Procuradoria-Geral da República”, diz a nota enviada por Collor.