Topo

Covid-19 já é a maior causa de mortes no Brasil registrada em um único ano

29.abr.2020 - Enfermeira faz atendimento a paciente de Covid-19 na UTI do Hopistal Albert Einstein em São Paulo - Avener Prado/UOL
29.abr.2020 - Enfermeira faz atendimento a paciente de Covid-19 na UTI do Hopistal Albert Einstein em São Paulo Imagem: Avener Prado/UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

15/09/2020 04h03Atualizada em 15/09/2020 12h29

O Brasil alcançou neste domingo a marca de 132 mil óbitos causados pela covid-19, e a doença se tornou a causa-morte com mais vítimas em um único ano já registrado no país. A primeira morte brasileira pela doença ocorreu em 12 de março, segundo revisão do Ministério da Saúde.

O UOL analisou os dados do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade), do Ministério da Saúde, que contabilizam essas informações desde 1979. O levantamento usa como base a CID (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) e restringe a causas específicas, não a grupos de doenças.

Entre as classificações de causas naturais ou externas de mortalidade do SIM, as doenças isquêmicas do coração (que incluem os infartos) lideraram historicamente a lista de causa-morte e atingiram seu auge em 2019, com 116 mil óbitos em 12 meses, segundo dados ainda preliminares do SIM.

No caso de doenças respiratórias, a pneumonia sempre foi a que mais matou, e o recorde de óbitos em único ano ocorreu também em 2019, quando ela causou 83 mil óbitos.

Entre os cânceres, o de pulmão, brônquios e traqueia é o que leva o maior número de mortes no Brasil, mas nunca chegou a 30 mil em um ano.

Ainda em termos de comparação, as mortes causadas pela covid-19 em apenas seis meses já correspondem a mais que o dobro do recorde histórico de homicídios, ocorrido em 2017, quando foram mortas 62 mil pessoas de forma violenta. Já os acidentes de trânsito tiveram seu maior número na década em 2012, com 46 mil vítimas.

Letalidade de 0,6% é número extremamente alto, diz pesquisadora

A professora e pesquisadora em doenças tropicais da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Vera Magalhães, afirma que um impacto significativo da covid-19 no número de mortes no país já era esperado.

"O vírus realmente tem um impacto imenso no mundo inteiro, não é no Brasil, só. E apesar da letalidade parecer pequena —de 0,6%, segundo estima a OMS [Organização Mundial de Saúde] no mundo— é um número extremamente alto porque é uma doença que está tendendo a uma estabilização em um ponto alto de casos e ainda de óbitos", explica, citando que a letalidade de gripes —como a H1N1 e outras— é bem menor e varia de 0,01% a 0,08%.

Para a pesquisadora, é preciso levar em conta que além das altas taxas de contaminação e letalidade, a covid-19 é uma doença de tratamento e prevenção limitados. "O problema é que ainda não temos uma medicação específica ou uma vacina. Apesar de várias vacinas em teste serem promissoras, ainda há um longo caminho a ser percorrido até a comercialização e vacinação da população que permita interromper a circulação do novo coronavírus", afirma.

Para a vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), a sanitarista Bernadete Perez, apesar de mortes serem esperadas pela doença, o número brasileiro foi bem maior porque o país não atuou bem no enfrentamento à covid-19. "Essas 133 mil mortes são um número altíssimo. É importante a gente lembrar que essa é uma doença evitável", diz.

Outro ponto que a sanitarista cita como determinante nesse número alto é que o Brasil não conseguiu conter o avanço da doença ainda em sua fase inicial da transmissão. "Isso era possível com uma rede ampla de atenção primária à saúde, com capacidade de fazer vigilância epidemiológica que conseguisse fazer busca ativa, mapeamento e rastreamento. Assim, a gente conseguiria quebrar a cadeia de transmissão do vírus; a gente viu isso em vários países. Em que pese as diferenças sociais e regionais, era possível ter evitado grande parte dessa tragédia."