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Honra e medo de carregar o Bonecão de Bolsonaro no Carnaval de Olinda

Natan José de Oliveira (de branco) e o bonecão de Jair Bolsonaro no Carnaval de Olinda de 2019 - Divulgação
Natan José de Oliveira (de branco) e o bonecão de Jair Bolsonaro no Carnaval de Olinda de 2019 Imagem: Divulgação

Daniel Lisboa

Colaboração para o UOL

20/12/2018 04h00

Aos doze anos de idade, Natan José de Oliveira já conseguia equilibrar vinte quilos de fibra de vidro nos ombros e na cabeça. Hoje, aos 24, é uma referência no assunto. Viaja pelo Brasil orientando futuros especialistas neste ofício. 

Ano após ano, nas ladeiras de Olinda, não há folião exaltado ou poça de urina capaz de desequilibrar Oliveira, manipulador profissional dos famosos bonecões do Carnaval da cidade. Mas ele ainda não tem certeza se poderá desfilar em 2019. Ao menos, não carregando o personagem para o qual foi designado: o presidente eleito Jair Bolsonaro. 

É que o racha político do país não tem sido páreo nem para pessoas como Oliveira. É muito peso nas costas até para ele. O boneco de Bolsonaro já está pronto, e a Apoteose dos Bonecos Gigantes de Olinda marcada para o dia 4 de março. Mas a organização ainda não confirmou se a versão de Bolsonaro moldada em argila de fato desfilará: há medo de protestos e atos de violência. 

"Fico bastante preocupado que aconteça o pior. Comigo e com o presidente eleito", diz Oliveira. Eleitor de Bolsonaro, ele é minoria em um estado que ainda é reduto eleitoral do PT. Fernando Haddad venceu em Pernambuco com 66,50% dos votos. A diferença foi menor em Olinda - 56,51% a 43,49% para o petista -, mas o manipulador diz que, ainda assim, sua campanha entusiasmada pelo candidato do PSL rendeu a perda de algumas amizades. 

"Muita gente me desejou boa sorte quando eu anunciei que iria carregar o boneco do Bolsonaro. Mas muita gente também disse para eu tomar cuidado, que iria levar facada...Não sei se era brincadeira ou não", diz Oliveira. "Algum medo dá. Mas, se for para sair, eu saio e seja o que Deus quiser. Estarei lá para mostrar para o povo que Carnaval é paz e alegria."

Bonecão - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Ganhar uma representação na apoteose não é um privilégio do novo comandante do país. Lula, Dilma, Temer, entre outras figuras ligadas à política nacional, também tiveram seus bonecões. Tampouco seria a primeira vez que um boneco deixaria de ir às ruas como precaução: os de Dilma e Temer, por exemplo, já foram vetados em desfiles. 

Mas a preocupação agora é maior dado o inegável aumento da escalada da agressividade. Jair Bolsonaro levou uma facada em Juiz de Fora (MG) e ainda carrega uma bolsa de colostomia. Um levantamento realizado pela Agência Pública contabilizou 65 tipos de agressões com motivação política entre os dias 10 e 30 de outubro, no auge do segundo turno. Partidários de Bolsonaro teriam sido autores da grande maioria delas: 46. 

"Se o Haddad tivesse vencido, eu carregaria do mesmo jeito", diz Oliveira. "O manipulador tem que ser profissional. Já carreguei o Lula e a Dilma sem problema nenhum." 

Carregar um boneco gigante de Olinda está longe de ser uma tarefa simples. O manipulador precisa apoiar uma peça pesada e desengonçada nos ombros com a ajuda apenas de um suporte de madeira e uma camada de espuma para proteger a cabeça. 

A visão do que acontece ao redor, claro, fica comprometida, mas alguém já experiente como Oliveira explica que é possível estar atento ao que acontece ao redor e se prevenir de eventuais ataques. "Estive em Caldas Novas (GO) dia desses, para ensinar sobre manipulação de bonecos, e expliquei o seguinte aos alunos: dá para você olhar para todos os lados. É uma questão de técnica", diz Oliveira. "Eu fico atento. Mas não saio de casa para fazer inimizade. Saio para fazer a alegria do povo."

Criador e produtor da Embaixada dos Bonecos Gigantes de Olinda, Leandro Castro confirma que ainda está avaliando se o bonecão de Bolsonaro sairá ou não pelas ruas da cidade. Também eleitor do candidato vitorioso, ele lamenta que o clima tenha chegado a este ponto. Acredita que política se faz nas urnas, não nas ruas em dia de Carnaval. 

"No Brasil, não tem o que é de direita e o que é de esquerda. Na minha opinião, tem o que é certo e o que é errado. Lugar de bandido, por exemplo, é na cadeia. Não tem possibilidade de tirá-lo de lá. Tem que é colocar mais ladrão na prisão. Independente de partido. Eu e a minha esposa nunca recebemos nada de graça de político nenhum", diz Castro. 

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