Amanda Cotrim

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Reportagem

Aeroportos, transporte público, restaurantes: o que para na Argentina hoje

A CGT (Confederação Geral de Trabalhadores da Argentina), maior central sindical do país, convocou hoje (24) uma greve geral que deve afetar diversos serviços em protesto ao megadecreto e à Lei de Bases, projetos propostos por Javier Milei que desregularizam a economia, privatizam empresas estatais e revogam leis.

A primeira paralisação enfrentada pelo presidente desde sua posse, em dezembro, tem previsão de durar 12 horas e será um termômetro político e social, já que pesquisas realizadas nas últimas semanas apontam que mais de 60% dos entrevistados apoiam a gestão Milei.

Além da paralisação, haverá um protesto encabeçado por centrais sindicais e organizações sociais em frente ao Congresso, em Buenos Aires, a partir das 12h. O objetivo é pressionar os legisladores a vetarem tanto a "lei ônibus" como o megadecreto.

De acordo com a CGT, a manifestação será conduzida por colunas até a praça do Congresso, cumprindo o protocolo antiprotesto de rua, do Ministério da Segurança, que proibiu protestos que obstruam vias públicas, com ameaça de repressão.

Voos cancelados impactam brasileiros

A CATT (Confederação Argentina de Trabalhadores em Transportes) determinou a paralisação total do transporte aéreo entre meio-dia e meia-noite. Isso inclui sindicatos do setor aeronáutico — afetando voos e aeroportos em todo o país.

Brasileiros que tinham voos para Argentina pela Latam e Gol informaram à coluna que as companhias ofereceram opção de reagendar o voo para um dia antes ou depois da greve ou reembolso. Alguns decidiram mudar o destino da viagem.

Transporte público será interrompido à noite

Metrô, trens e ônibus funcionarão em Buenos Aires até as 19h para facilitar o transporte até o protesto no Congresso, disseram os sindicatos do setor. Depois, o transporte ficará paralisado até meia-noite.

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Já os transportes de carga, logística e serviços vão aderir à paralisação total, segundo a imprensa argentina. Os bancos ainda não confirmaram se vão parar durante todo o dia ou apenas após o meio-dia.

Turismo, gastronomia e cultura contra reformas

O Sindicato dos Trabalhadores em Turismo, Hotelaria e Gastronomia da Argentina também vai aderir à greve geral. De acordo com a imprensa local, restaurantes fecharão as portas contra as reformas de Milei.

O primeiro decreto de Milei eliminou nove de 18 ministérios, entre eles o da Cultura.

Trabalhadores da área da cultura afirmaram que vão aderir à paralisação e estarão no protesto. A capital argentina é reconhecida por seus espetáculos teatrais na famosa avenida Corrientes.

Funcionalismo adere e governo ameaça desconto salarial

O Sindicato dos Trabalhadores do Estado também confirmou presença no protesto e adesão à greve, assim como o sindicato único que representa trabalhadores rurais e empregados de postos de serviços e saúde, conforme apurou o jornal argentino Página 12.

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O governo informou que irá descontar da folha de pagamento o salário de trabalhadores do Estado que participarem do movimento. Ontem (23), o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, afirmou que todos têm direito e liberdade de protestar desde que não interfira no direito de outras pessoas — como, segundo ele, a liberdade de decidir trabalhar e não aderir à greve.

O governo também voltou a afirmar que todo o custo operacional do protocolo antiprotesto será enviado a organizações que aderirem à manifestação.

Os recuos de Milei na "lei de bases"

A "lei ônibus" está em discussão em Comissões na Câmara desde o início de janeiro, bem como o Decreto de Necessidade e Urgência, vigente desde 29 de dezembro.

Com a expectativa de ter apoio do Congresso, o governo recuou em alguns artigos da lei e reformulou algumas propostas iniciais. De acordo com informações apuradas pelo UOL junto a fontes do Congresso, Milei tem a expectativa de conseguir levar o texto final da "lei ônibus" à votação no plenário da Câmara amanhã (25). Mas, para isso, o governo terá que negociar com os blocos políticos.

A petroleira YPF foi retirada da lista de estatais que serão privatizadas e ficou estabelecido que outras empresas que atuam em ramos estratégicos só podem ser parcialmente privatizadas — a exemplo do Banco Nação, empresas de energia atômica e de satélites.

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Milei também retirou o polêmico artigo que exigia que qualquer reunião com mais de três pessoas fosse previamente comunicada à polícia.

O governo ainda recuou sobre a eliminação das eleições primárias e da reconfiguração da representatividade de deputados na Câmara, que daria mais espaço a partidos menores, como o do próprio presidente (Liberdade Avança).

Outra mudança no texto original foi sobre manter a atualização automática da aposentadoria a partir do índice de inflação mensal, o que o governo queria eliminar. O novo texto propõe congelar o mecanismo automático até abril, quando depois seria retomado.

A Lei de Bases também é chamada de "lei ônibus". Na Argentina, é utilizado o termo "ley ómnibus" para descrever projetos legislativos mais extensos, que contêm muitas reformas — e que são votadas ao mesmo tempo.

*Com Stella Borges, do UOL, em São Paulo

Reportagem

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