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Companheiros fazem malabarismo por indicação da esposa de Rui Costa ao TCM
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Em erupção. É assim que se encontra o meio político devido à candidatura da esposa do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), a conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia —cargo vitalício com salário mensal de R$ 41,8 mil.
Entre acusações de patrimonialismo e nepotismo, a indicação da ex-primeira-dama da Bahia, Aline Peixoto, tem causado desconforto tanto na oposição quanto em líderes petistas.
Além de constranger o novo governo do presidente Lula, a polêmica em torno da candidatura tem obrigado parlamentares, companheiros de Rui Costa, a realizarem verdadeiros malabarismos para defender que a vaga fique na família do ex-governador.
Deputados aliados levantam falsas justificativas de preconceito contra os profissionais da saúde —a candidata é enfermeira— e outros chegam a apontar machismo na crítica a essa candidatura.
A situação é ainda mais constrangedora para o governo Lula por chamar atenção para o fato de que Aline não é a primeira esposa de um ministro do atual governo a ter a candidatura ao cargo de conselheira no Tribunal de Contas emplacada pelas relações políticas dos maridos.
- Renata Calheiros, mulher do ministro dos Transportes Renan Filho (MDB), foi eleita em dezembro a nova conselheira do Tribunal de Contas do Estado de Alagoas.
- Em janeiro, a deputada federal Rejane Dias, mulher do ministro do Desenvolvimento Social Wellington Dias (PT), foi indicada pela Assembleia Legislativa para uma cadeira no Tribunal de Contas do Estado do Piauí.
Autoritarismo e ataque à imprensa da era bolsonarista
Há deputados petistas que tentam defender a candidatura de Aline Peixoto com ataques a profissionais de imprensa, nos forçando a lembrar o autoritarismo e perseguição a jornalistas que presenciamos de forma ferrenha na gestão Bolsonaro —simplesmente por exercermos a nossa função social de noticiar os fatos.
O lembrete dos tempos sombrios que vivemos nos últimos quatro anos vem a partir de uma excelente matéria publicada na Folha de S.Paulo pelo jornalista João Pedro Pitombo.
A reportagem traz que a esposa do ministro da Casa Civil não revelou em seu currículo de candidatura que ocupou um cargo na Secretaria de Saúde da Bahia há pelo menos nove anos, incluindo oito em que o seu marido foi governador do estado. Neste período, como primeira-dama, ela assumiu a coordenação das Voluntárias Sociais do Estado. As verdades da matéria geraram ataques ao repórter por parte de políticos petistas.
O deputado estadual Rosemberg Pinto (PT), líder de Rui Costa e, agora, de Jerônimo Rodrigues na Assembleia Legislativa da Bahia, foi responsável pelos piores ataques ao colega João Pedro Pitombo.
Em um vídeo publicado pelo portal Aratu On, Rosemberg Pinto acusou o repórter de ser "mentiroso e contra a Bahia", alegando inconsistências na matéria. A postura do deputado, no entanto, destoa de líderes nacionais do partido, inclusive o senador Jaques Wagner, contrário à candidatura da ex-primeira dama, que buscam uma boa relação com a imprensa e entendem o papel do Jornalismo na democracia.
A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), o Sinjorba (Sindicato dos Jornalistas da Bahia), a Associação Bahiana de Imprensa e a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) reagiram aos ataques contra o direito da sociedade à informação.
Carta da Fenaj e Sinjorba
Em carta conjunta, o Sinjorba e a Fenaj manifestaram irrestrita solidariedade ao jornalista João Pedro Pitombo.
"À luz da prática do bom jornalismo, como defendem o Sinjorba e a Fenaj —tão necessário nesse tempo de circulação de fake news—, não há qualquer inverdade na referida matéria, apurada segundo critérios técnicos, com informações confirmadas por fontes da Secretaria de Saúde do Estado e corroboradas pelo ex-secretário da pasta, o médico Fábio Vilas-Boas, a quem Aline Peixoto, concorrente a uma vaga de conselheira no Tribunal de Contas dos Municípios, esteve subordinada.
O Sinjorba e a Fenaj chamam atenção da imprensa e de outros segmentos sociais para a necessidade de se discutir os critérios não técnicos que sempre foram utilizados na indicação aos postos dos tribunais de contas, inclusive na Bahia. Que este caso lamentável de agora alerte para as responsabilidades envolvidas no ato de fazer críticas, além de evidenciar a importância do critério jornalístico nas apurações, para servir à sociedade, contribuir com o combate às fake news e ajudar na mudança de práticas políticas deletérias."
Em vez de lançar insultos aos profissionais da imprensa ou de pongar em movimentos sérios, como a luta contra o preconceito e contra a desigualdade de gênero, os companheiros de Rui Costa deveriam estar preocupados em demonstrar à sociedade as capacidades técnicas de Aline Peixoto que a legitimam a exercem o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios, órgão importante na fiscalização das contas públicas.
O enigma está lançado à espera de uma resposta: a ex-primeira dama possui experiência na gestão pública? Se, sim, esta foi desenvolvida enquanto seu marido era governador do Estado?
Para ocupar o cargo no TCM, o critério fundamental deveria ser a transparência.
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