Só Bolsonaro derruba Bolsonaro: está tudo dominado e aparelhado no Brasil
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Nos discursos solenes dos manda-chuvas em Brasília, todos gostam de louvar a "independência entre os Três Poderes" e garantem que "as instituições estão funcionando".
Mas não é bem assim que acontecem as coisas neste mundo encantado do Brasil que Bolsonaro apresentou na ONU na semana passada.
Desde aquela famigerada reunião ministerial de 22 de abril, convocada para proclamar, com ameaças e aos palavrões, que quem manda no governo é ele, Bolsonaro abandonou o presidencialismo de confrontação.
Balançando no cargo naquela época, agora em sua nova versão "Jairzinho paz e amor" o presidente passou a adotar o presidencialismo de cooptação da "velha política" que ele tanto combatia na campanha.
Em vez de ficar numa guerra permanente, Bolsonaro ressuscitou o "é dando que se recebe" e trocou a braveza pelos agrados aos demais poderes, todos eles preocupados apenas em manter seus privilégios e penduricalhos na República Corporativa do Brasil.
Começou pela aquisição do Centrão, que lhe garante folgada maioria no Congresso, depois ele assumiu o comando da Polícia Federal, trabalhando em parceria com a PGR de Augusto Aras, que já se alinhou com o governo mais de 30 vezes e só moveu uma ação contra Bolsonaro, como a Folha publicou hoje. .
Cervejinha no STF
No Palácio do Planalto, transformou os generais em obedientes ajudantes de ordens.
Para completar a bem-sucedida estratégia de reunir os Três Poderes num só, sob o controle dele, faltava nomear o sucessor de Celso de Mello, a última pedra no sapato do presidente, para ter maioria também no STF.
Qualquer que seja o indicado, "terrivelmente evangélico" ou "muito amigo, de tomar cerveja junto", o tribunal que tomava decisões com placares apertados de 6 a 5, agora poderá ter 7 a 4 a favor do governo, seja qual for o assunto em julgamento.
O novo presidente do STF, Luiz Fux, ao anunciar a pauta até o final do ano, já deixou bem claro que não criará problemas ao governo, muito ao contrário.
Pôquer no Congresso
Cada vez mais popular e empoderado, Bolsonaro também não terá dificuldades para eleger o novo presidente da Câmara no lugar de Rodrigo Maia e vai fazer o possível para manter o aliado Davi Alcolumbre na presidência do Senado.
O único perigo é o capitão querer assumir também a liderança da estropiada oposição, como já fez em outros momentos do seu governo.
Só Bolsonaro poderá derrubar Bolsonaro.
Se alguém botar a cabeça de fora, basta acionar a Polícia Federal, como acaba de fazer com Guilherme Boulos, do PSOL, candidato a prefeito de São Paulo, que ousou criticá-lo nas redes sociais.
Com isso, acabou dando um mote para a campanha de Boulos que reagiu no Twitter.
Novo conceito de governo
"Precisa desenhar? Bolsonaro quer eleger Russomanno e acionou a PF pra tentar me intimidar. O medo deles do nosso crescimento só mostra que estamos no caminho certo. São Paulo vai ser a capital da resistência", postou Boulos.
E assim será com qualquer "comunista" que se colocar no caminho dos candidatos do presidente, que não iria participar da campanha, mas não faz outra coisa na vida, já mirando 2022.
Presidente sem partido, pode se aliar a quem quiser, o que for mais conveniente para detonar adversários e preparar as bases para a reeleição.
Enquanto Bolsonaro passa o rolo compressor nas instituições cooptadas e amansadas, Ricardo Salles continua passando a boiada do Ministério do Meio Ambiente nas leis de proteção ambiental, agora para liberar faixas de vegetação nas praias à especulação imobiliária e as áreas de manguezais para produção de camarão.
Rápido sobrevoo sobre o noticiário desta segunda-feira dá conta que já está tudo dominado e aparelhado pelo bolsonarismo em marcha batida, para fazer do Brasil o acampamento de um grande quartel, onde todos terão que bater continência e achar bonito, "sim, senhor".
O que falta ainda para inventarmos a ditadura constitucional?
Vida que segue.
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