Carla Araújo

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Defesa de coronel aliado de Bolsonaro diz que PF o coagiu a adotar silêncio

O advogado do Coronel Marcelo Costa Câmara, Eduardo Kuntz, disse que seu cliente não pôde ser interrogado ontem porque a Polícia Federal alegou "falta de tempo". O coronel Câmara está preso desde o dia 8 de fevereiro —ele era assessor especial do ex-presidente Jair Bolsonaro no governo.

O advogado, que também defende Tércio Arnaud Thomaz, afirmou que o coronel "não teve oportunidade de responder as perguntas, pois a autoridade policial disse que não tinha tempo de aguardar o encerramento do depoimento de Tércio Arnaud".

Em razão disso, foi coagido a usar do silêncio, sem a presença de sua defesa técnica. Algo totalmente novo, reprovável e que não se pode admitir em um Estado Democrático e de Direito.
Eduardo Kuntz, advogado

Kuntz informou que pretende acionar a OAB para avaliar o caso. Ele disse que pediu que a PF marque o quanto antes o depoimento do coronel, já que ele está detido no Batalhão do Exército.

"Aguarda-se, portanto, imediata definição de nova data para que possa exercer o seu direito de defesa de forma plena e, em ato contínuo, reiterar o seu pedido de liberdade que está pendente de apreciação desde o dia 14.02", diz a defesa.

Segundo o advogado, o coronel não adotou a mesma estratégia do ex-presidente Bolsonaro.

"Está sendo dito que ele simplesmente ficou em silêncio. É mentira. Ele não teve oportunidade de responder as perguntas. Foi levado ao quartel sem que o ato tenha ocorrido", afirmou à coluna.

Procurada, a Polícia Federal afirmou que Câmara "foi intimado com antecedência regulamentar e apresentou-se no dia e horários definidos (22/2, às 14:30). Todavia, não compareceu acompanhado de advogado". Kuntz, que representa o coronel, acompanhava o depoimento de Tércio no mesmo momento.

Segundo a PF, foi solicitado o adiamento da oitiva para 16:30, mas - novamente - Câmara apresentou-se sem advogado. "Foi facultado a ele prestar depoimento sem assistência advocatícia, o que ele optou por não fazer e decidiu ficar em silêncio. Em seguida, assinou o termo", diz a PF, em nota.

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A operação da PF

Kuntz esteve na sede da Polícia Federal ontem para acompanhar seus clientes. Segundo ele, Tercio respondeu as 168 perguntas feitas pelas autoridades.

A operação que apura a suspeita de uma tentativa de golpe para manter Bolsonaro no poder ocorreu com base na delação do tenente-coronel Mauro Cid. A Defesa de Tércio e de Câmara reclama ainda que não teve acesso a todo o material da investigação, o que atrapalha a ampla defesa.

A operação foi chamada pela Polícia Federal de "Tempus Veritatis", ou "hora da verdade", em latim.

Coronel era do núcleo de inteligência não oficial, diz PF

De acordo com as investigações, o coronel é apontado como integrante de um "núcleo de inteligência não oficial" de Bolsonaro.

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A acusação é de que ele coletava informações que serviriam de base para a tomada de decisões do então presidente e estaria monitorando o ministro do STF Alexandre de Moraes.

O acompanhamento dos passos de Moraes ocorreu até numa véspera de Natal. Os investigadores sustentam que Câmara atuou em uma "inteligência paralela".

O ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão do coronel Câmara por falta de garantia de que ele parou de monitorar autoridades. Outro motivo foi evitar a destruição de provas.

"Não se descartando a possibilidade, inclusive, de outras autoridades do Poder Judiciário estarem sendo monitoradas, o que põe em risco a garantia da ordem pública e a segurança das autoridades", argumentou Moraes na decisão.

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