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Racha político faz Alagoas e Maceió terem festas separadas para São João
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O morador de Maceió que receber o convite para a festa de rua de São João neste ano vai ter de perguntar: "Vamos para qual delas?".
Após dois anos sem arrasta-pé por causa da pandemia, a capital alagoana terá duas festas públicas de São João: uma promovida pelo governo do estado, outra pela prefeitura.
No último dia 18, a prefeitura realizou um grande evento para anunciar o "maior São João do litoral do país". Cinco dias depois, foi a vez de o governo do estado anunciar, ontem, "o maior São João de todos os tempos", que inclui Maceió e 14 cidades do interior no roteiro.
As duas festas ocorrerão com muitos nomes repetidos. Uma dessas atrações é o cantor Wesley Safadão, que poderá ser visto tanto no palco pago com dinheiro estadual como no pago pelo erário municipal.
A festa em Maceió vai durar 15 dias e começa no dia 15 de junho, com metade dos shows no palco do bairro do Benedito Bentes e a outra metade no bairro histórico de Jaraguá.
Surfando na popularidade dos nomes anunciados para fazer os shows —como Elba Ramalho, Alok, Gusttavo Lima, Xand Avião, Luan Santana e Ludmilla—, a festa ganhou o até o apelido de "Jotapalooza" (uma ligação do nome usado pelo prefeito, JHC, ao do festival Lollapalooza)
A prefeitura não informou quanto a festa junina vai custar, mas a expectativa é que movimente R$ 100 milhões na economia local nos 15 dias.
Logo após anunciar a festa, o perfil do governador tampão Paulo Dantas (MDB) e as redes oficiais do governo pediram para que ninguém "marcasse nada" até saber a programação do São João do estado.
Ontem pela manhã, Dantas divulgou uma outra grande festa com nomes nacionais, entre os dias 1º a 30 de junho, com artistas como Zé Ramalho, Bell Marques, Maiara e Maraísa e Simone e Simaria. As festas vão ocorrer em quatro bairros.
Segundo o governo, serão gastos R$ 20 milhões com as festas em 15 municípios, e a expectativa é que o São João do estado movimente R$ 50 milhões.
Em entrevista coletiva, Dantas negou que exista rivalidade e disputa de quem faz a maior festa da capital. "Eu parabenizo a prefeitura por fazer o São João. O governo de Alagoas não disputa com ninguém, e o que queremos é trabalhar de maneira integrada, inclusive com a Prefeitura de Maceió, para termos festas ainda melhores", disse.
A prefeitura informou à coluna que o estado não procurou o município para que realizassem a festa em conjunto. Entretanto, segundo apurou o UOL, a falta de convite foi recíproca: a prefeitura também não chamou integrantes do governo estadual para dividir os festejos.
Quem gostou foi o fã dos artistas que vão tocar mais de uma vez na capital alagoana.
Wesley Safadão, por exemplo, fará dois shows: no dia 14 no Benedito Bentes 2, no palco montado pelo estado; e no dia 28, no palco da Prefeitura de Maceió.
Baby Som mal terá tempo de viajar: faz show no dia 12, pago pelo estado; e no dia 15, pago pelo município.
Há ainda shows repetidos de Limão com Mel, Garota Sertaneja, Cláudio Rios, Jorge de Altinho, Tierry e Mano Walter.
Briga por espaço político
A disputa entre prefeitura e governo do estado tem como pano de fundo a disputa por espaço político e a eleição de outubro e remonta à época em que Renan Filho (MDB) era governador e alfinetava em redes sociais com o prefeito João Henrique Caldas, o JHC (PSB).
A briga ficou mais acirrada entre os grupos com a eleição indireta da assembleia, no dia 15, vencida por Paulo Dantas.
Judicializada e com atraso de 13 dias, a votação foi precedida de farpas entre o senador Renan Calheiros (MDB) e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), que se acusaram de golpismo.
Paulo Dantas foi o eleito e será candidato à reeleição apoiado pelo grupo liderado dos Calheiros e pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (MDB). Ele contará com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Já JHC é aliado de primeira hora do senador Rodrigo Cunha (União), que será candidato ao governo apoiado pelo prefeito de Maceió. Ele ainda tem uma torcida pessoal pelo socialista, já que a mãe de JHC é a primeira suplente de Cunha —em caso de vitória em outubro, Eudócia Caldas herdará quatro anos de cadeira no Senado.
Cunha ainda deve ter o apoio de Arthur Lira, que provavelmente vai indicar sua prima, a deputado estadual Jó Pereira (PSDB), como candidata a vice-governadora.
De olho em visibilidade
Para o cientista político e professor da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) Ranulfo Paranhos, o objetivo dos políticos com as grandes festas de São João é tentar ganhar visibilidade com o público, atraído pelos artistas nacionais.
"O que está em jogo é a busca do político para entrar em evidência. Essas festas se convertem em uma campanha antecipada para quem tem a máquina pública nas mãos", diz.
No Nordeste, as festas juninas são a maior comemoração popular, que mobiliza grande parte da população no próximo mês.
Paranhos lembra que os políticos não precisam realizar licitações para escolher as atrações, o que faz com que possam escolher nomes populares e caros.
"Não existe critério objetivo para contratar, e isso garante certa liberdade a cada gestor", afirma.
O cientista político diz que fica "claro que tem um interesse político por trás". "O JHC quer se manter como um político ativo, com a ideia de transformar Maceió em um polo de turismo e lazer. Já o governador está tentando se tornar mais conhecido, e as festas são uma boa oportunidade", diz.
Um dos fatores que ajudam a entender o grande investimento do estado, diz Ranulfo, é que Paulo Dantas é um político ainda pouco conhecido e que tem pouco tempo até que a Lei Eleitoral vede a participação dele em atos públicos.
Ele é um deputado estadual de uma região específica do estado, que não foi nem o mais votado e precisa se tornar mais conhecido. Um bom jeito disso é ter palanque antecipado. Como ele não pode montar um palanque só para chamar as pessoas, um caminho são as festas juninas."
Ranulfo Paranhos, cientista político
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