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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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'Ainda esperamos Ciro para a campanha de Lula', diz governadora do Ceará

Ciro Gomes aplaude governadora Izolda Cela em sua posse, em abril, na Assembleia do Ceará  - Divulgação/Governo do Ceará
Ciro Gomes aplaude governadora Izolda Cela em sua posse, em abril, na Assembleia do Ceará Imagem: Divulgação/Governo do Ceará

Colunista do UOL

25/10/2022 04h00Atualizada em 25/10/2022 11h13

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Atual governadora do Ceará, Izolda Cela (sem partido) afirmou que ainda mantém esperanças de que o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) volte a se unir politicamente aos irmãos e se engaje na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na reta final do segundo turno.

"A expectativa é que ele possa vir e fortalecer essa frente, que reúne desiguais: há pessoas que não são petistas de jeito nenhum, fazem críticas ao partido, mas que estão se colocando para essa batalha cívica", diz ela, em entrevista ao UOL.

No primeiro turno, Izolda se manteve distante da disputa presidencial, mas agora no segundo turno mergulhou na campanha petista. "É a nossa obrigação cívica. Eu me sinto convocada como cidadã. Como governadora, vejo isso como uma obrigação."

Ela afirma que os irmãos de Ciro, o senador Cid Gomes e o prefeito de Sobral, Ivo Gomes, ambos do PDT, já estão empenhados na campanha. Na quinta, eles vão participar de um ato em Sobral, que é terra natal dos Gomes e de Izolda. Ciro não se pronunciou sobre se vai ou não ao evento.

Desde o fim do primeiro turno, Ciro só gravou um vídeo em que dizia seguir a decisão do PDT de apoiar Lula, mas sem citar o nome do petista nem uma vez sequer. Foi tudo até o momento.

Em entrevista à coluna, Izolda falou também, pela primeira vez, sobre o veto do PDT à sua candidatura à reeleição —-que resultou na sua saída do partido e no rompimento de uma aliança entre PT e PDT após 16 anos.

"Não sei se contavam com a força dessa liderança [de Camilo Santana] em torno de um projeto. A nossa defesa sempre foi o projeto. O resultado da eleição foi uma amostra do crédito de confiança da população ao que acontece aqui no Ceará", diz, sobre a vitória de Elmano de Freitas (PT) ainda no primeiro turno.

Considerada como principal nome por trás da revolução da educação no Ceará, estado que tem hoje 87 das 100 melhores escolas públicas do país, Izolda despistou sobre os rumores de se tornar a ministra da Educação caso Lula seja eleito: "Lula tem de ganhar primeiro a eleição. Depois as coisas vão se definir".

Lula gravou recentemente um vídeo com Izolda ressaltando as qualidades dela como educadora. O vídeo foi divulgado nas redes sociais da governadora.

Veja os principais pontos da entrevista de Izolda Cela:

Mergulho na campanha de Lula

"É a nossa obrigação cívica. Eu me sinto convocada como cidadã a me posicionar e mais que isso: a me movimentar e trabalhar no meu campo de influência. Claro, estando como governadora, vejo isso como uma obrigação. Este é um momento muito importante e grave da nossa agenda democrática. A situação do país exige mais do que nunca empenho e esforço daqueles que veem a necessidade de um novo rumo, de um caminho mais favorável para o país retomar seu desenvolvimento e suas políticas sociais."

Ciro fora da campanha de Lula

"Do nosso lado, esperamos esse apoio dele, como tivemos de tantos outros que estão no campo democrático. Precisamos de todas as pessoas que são progressistas; e Ciro tem esses valores progressistas, democráticos, republicanos e de responsabilidade. Ele demonstrou isso ao longo de toda a vida dele. A expectativa é que ele possa vir e fortalecer essa frente, que reúne desiguais: há pessoas que não são petistas de jeito nenhum, fazem críticas ao partido, mas que estão se colocando para essa batalha cívica.

Nós temos aqui o exemplo do senador Tasso Jereissati (PSDB), que ao longo de sua história política fez enfrentamentos ao PT, mas agora está se posicionando de forma aberta e direta."

Lula durante encontro com o senador Tasso Jereissati em Fortaleza  - Ricardo Stuckert/Divulgação - Ricardo Stuckert/Divulgação
Lula durante encontro com o senador Tasso Jereissati em Fortaleza
Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação

Motivo para ausência até aqui de Ciro

"Eu acho que ele se magoou neste período do final do primeiro turno com a movimentação para o voto útil. Creio que isso abalou o Ciro fortemente. Ele ficou desagradado, até em alguma medida se achou desrespeitado, porque alguns queriam que ele tivesse retirado a candidatura. Mas o momento exige a união. Quando a gente acha que já viu de tudo nesse bolsonarismo, vem outra coisa pior. É uma temeridade [não derrotar Bolsonaro nas urnas]. Nós estamos com a missão de lutar não só pelo exercício democrático, mas pela civilidade."

Veto do PDT à sua reeleição

"A defesa naquele momento era manter o nosso arco de alianças, que vem sendo muito importante para garantir a governabilidade. Nós sempre defendemos, como o Cid Gomes [senador], o Ivo Gomes [prefeito de Sobral]. Mas houve uma impossibilidade: o partido optou por fazer uma definição protocolar, com a convocação do diretório estadual [para votação de quem seria o candidato ao governo]. Com a decisão tomada, aliados nossos não aceitaram. Acredito que não se sentiram ouvidos devidamente. Então o PT decidiu lançar candidatura própria, que contou com apoio de outros partidos que faziam parte da aliança."

A saída do PDT

"Com o lançamento do nome de Roberto [Cláudio, derrotado no primeiro turno] e a divisão da base, eu me senti na obrigação de me posicionar e esse posicionamento inicial foi me desfiliando do PDT. Isso me deixou em uma condição mais confortável para lidar, como governadora, nessa nova tarefa de manter a nossa base unida em prol do governo do Ceará."

O que resultou na eleição de Elmano

"No final das contas, eu penso que o movimento [do PDT] não considerou alguns pontos importantes. O principal é que não sei se contavam com a força dessa liderança [de Camilo Santana] em torno de um projeto. A nossa defesa sempre foi o projeto. O resultado da eleição foi uma amostra do crédito de confiança da população ao que acontece aqui no Ceará."

Busca por novo partido

"Não tenho nada em mente ainda. Eu estou concentrada nessa finalização do governo, nesses dois meses de gestão, em fazer a transição da melhor maneira possível."

Izolda discursa para público durante sua posse; ela é a primeira mulher a governar o Ceará  - Governo do Ceará/Divulgação - Governo do Ceará/Divulgação
Izolda discursa para público durante sua posse; ela é a primeira mulher a governar o Ceará
Imagem: Governo do Ceará/Divulgação

"Campanha" para ser ministra da Educação

"Já vi algumas dessas manifestações. É sempre uma honra ser lembrada, mas não tenho nada planejado, não houve conversa —até porque [Lula] tem de ganhar primeiro a eleição. Depois as coisas vão se definir."

Prejuízos na educação

"Se vencermos essa eleição, a educação será uma das coisas mais importantes. O MEC não tem a presença que deveria ter com municípios e estados. Isso já deveria ocorrer em condições normais, mas deveria se aprofundar depois de uma pandemia que resultou na suspensão das aulas presenciais e no prejuízo aos alunos. Há necessidade da restauração da aprendizagem, e o MEC está de costas para o povo brasileiro. Aliás, uma das coisas que se perdeu no governo Bolsonaro foi esse regime de colaboração entre estados e municípios. Ele trata como se fossem inimigos."