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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Ainda longe de metas, cobertura vacinal cresce em 2022 após 3 anos de queda

Vacina produzida pelo Butantã sendo preparada para aplicação  - Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil
Vacina produzida pelo Butantã sendo preparada para aplicação Imagem: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil

Colunista do UOL

05/02/2023 04h00

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Depois de quedas sucessivas entre 2019 e 2021, a cobertura vacinal de crianças no Brasil teve uma leve recuperação no ano passado, apresentando alta em todos os principais imunizantes.

Mesmo assim, as taxas continuam em níveis baixos, longe da meta e preocupantes, segundo especialistas consultados pela coluna.

Ainda estamos longe do ideal de 95% de cobertura para a maioria das vacinas, mas temos uma tendência de recuperação. E isso é uma boa notícia."
Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm

Os dados de 2022 não estão totalmente fechados, porque alguns municípios ainda devem mandar informações que serão inseridas no sistema do PNI (Programa Nacional de Imunização), do Ministério da Saúde.

Para Kfouri, os anos de 2020 e 2021 foram muito influenciados pela pandemia e a alta de 2022 já esperada porque houve um retorno à quase normalidade e alerta maior de entidades e imprensa para o risco da volta de doenças.

"Foram várias campanhas que falaram do risco da reintrodução de sarampo, da pólio, por exemplo", diz.

Os dados do PNI apontam que a cobertura vacinal contra tuberculose foi a que teve alta mais significativa —saltou de 74,9% para 83,7%.

Mas ainda é cedo para comemorar: a taxa é bem menor que a registrada até 2018 —quando ficava acima de 95%.

Um dos problemas persistentes nos últimos anos e que ainda pode ter consequências é que a gestão de Jair Bolsonaro ignorou as políticas de incentivo à vacinação.

No ano passado, o então ministro Marcelo Queiroga chegou a estimular a imunização infantil contra o coronavírus em entrevista enquanto o próprio site do Ministério da Saúde mantinha orientação criticada por especialistas —de que, antes de vacinar os filhos, os pais deveriam procurar o médico. O próprio ex-presidente repetiu que era contra a vacinação desta faixa etária.

Não houve nesses últimos anos, por parte do governo, uma campanha de informação e estímulo à vacinação. Ao contrário, a vacinação contra covid foi desestimulada nas crianças. Houve uma difusão de conceitos equivocados, o que contaminou outras vacinas."
Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm

Para Ricardo Gurgel, doutor em saúde da criança e do adolescente pela USP e professor da UFS (Universidade Federal de Sergipe), é necessário combater o "sentimento" antivacina na sociedade e a hesitação vacinal —quando os pais não levam os filhos ou atrasam doses.

"Com a pandemia, esse número cresceu porque sempre que o governo, em especial o presidente, falou de vacina, foi de forma pejorativa", diz. Gurgel chegou a ser nomeado para chefiar o PNI na gestão Bolsonaro, mas não tomou posse.

Além disso, como revelou a coluna no final do ano, a ampliação de cobertura pode esbarrar na falta de planejamento por parte do Ministério da Saúde na aquisição de doses para 2023. Na previsão de compra feita pelo governo federal ao Instituto Butantan, maior produtor de vacinas do país, não houve aumento no pedido de aumento de produção.

Apesar dos problemas, Gurgel acredita que 2023 deve marcar um esforço pela retomada da vacinação e de campanhas informativas oficiais sobre o tema.

Uma coisa que o governo deveria fazer é não desperdiçar oportunidade perdida, que é quando uma pessoa procura um serviço de saúde, mas não se confere a caderneta. O certo é a pessoa chegar para fazer um curativo, e ser questionada se as vacinas estão em dia. Se não estiver, vacina na hora. Seria muito eficiente."
Ricardo Gurgel, UFS

À coluna, o Ministério da Saúde afirmou que ampliar a cobertura vacinal é prioridade da nova gestão. "Com o fortalecimento do PNI é possível estabelecer metas de vacinação em todas as faixas etárias, resgatando as altas coberturas vacinais no país", diz.

Na terça-feira passada (31), a pasta divulgou o cronograma do Programa Nacional de Vacinação 2023, que também prevê atuação nas escolas —com foco na vacinação infantil e dos adolescentes.

A estratégia, diz o ministério, será elaborada em conjunto com o Ministério da Educação, estados e municípios.

"É importante ressaltar que para todas as estratégias de vacinação propostas, as ações de comunicação e de comprometimento da sociedade serão essenciais para que as campanhas tenham efeito", completa.