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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Emergência da covid termina com 65% de crianças sem vacina completa no país

Indígena Stella Pará Poty Fernandes Martins, uma das primeiras crianças a receber vacina contra a covid em SP - SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Indígena Stella Pará Poty Fernandes Martins, uma das primeiras crianças a receber vacina contra a covid em SP Imagem: SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

06/05/2023 04h00

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A emergência da covid-19 foi encerrada ontem pela OMS (Organização Mundial de Saúde) no mundo inteiro, mas o Brasil segue longe de alcançar uma alta cobertura vacinal contra a doença no público infantil. Só uma em cada três crianças estão imunizadas com o primeiro ciclo completo no país.

O que aconteceu

Das 33,4 milhões de crianças entre seis meses e 11 anos aptas a serem imunizadas, apenas 11,7 milhões tomaram ao menos duas doses, ou 35% do total. Os números são do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado em 6 abril.

As fake news e a minimização dos riscos da covid no público infantil foram os principais motivos para a baixa adesão, afirmam especialistas ouvidos pela coluna. As vacinas pediátricas estão à disposição desde o final de 2021 em postos de saúde em todos os municípios brasileiros.

A liberação da vacina contra covid para crianças foi criticada por negacionistas, como Jair Bolsonaro. O ex-presidente disse à época ser "inacreditável" a aprovação pela Anvisa do imunizante infantil.

Não houve nenhuma morte causada por reação adversa a vacina em crianças e adolescentes, ao contrário de notícias falsas que circularam. O dado é do boletim especial do Ministério da Saúde publicado em abril de 2022, o último sobre óbitos em decorrência do imunizante.

Governo Lula diz que vacinar é prioridade e um dos focos está nas crianças. O Ministério da Saúde destaca que, além das campanhas informativas já iniciadas, prepara ações voltadas ao público infantil, como a de Multivacinação, para menores de 15 anos, que "deve ter início em breve".

O que dizem os especialistas

A desinformação tem dificultado evoluir nas coberturas vacinais, e a [vacina contra] covid foi a mais impactada de todas. Foi a que mais teve disseminação de notícias falsas, e isso abala a confiança. Temos de trabalhar muito para reverter."
Juarez Cunha, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações)

Segundo o médico Cunha, outro ponto que pesou foi a ideia disseminada de que crianças saudáveis não correriam riscos se contraíssem a doença.

Temos 3,5 mil crianças que morreram de covid no Brasil -- em um universo de 700 mil [mortes], parece pouco. Mas ela mata nessas faixas etárias e leva à covid longa, que acomete de 30 a 40% das crianças, e a gente não sabe o impacto disso no futuro."
Juarez Cunha

A falta de adesão ao imunizante infantil tem sido motivo de preocupação para especialistas em saúde pública, segundo a pediatra Melissa Palmieri, diretora da SBIm-SP e do departamento de Infectologia e Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Em casos raros, as crianças podem evoluir para a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, que é uma infecção grave. Segundo os últimos dados, 70% das crianças acometidas [pela síndrome] são saudáveis, sem nenhuma comorbidade".
Melissa Palmieri, pediatra e diretora da SBIm-SP

Segundo o Ministério da Saúde, 2 mil casos da síndrome foram confirmados no país até 7 de março, com 141 mortes até então. Nesse caso, não há grupos de maior ou menor risco, e o acometimento é considerado imprevisível.

Palmieri reforça que a vacina de crianças também é uma proteção para as pessoas que convivem com ela.

Existe a mobilidade dessas crianças, que visitam os avós, por exemplo, e há o risco de levarem a covid para pessoas idosas."
Melissa Palmieri

O que diz o Ministério da Saúde

Retomar as altas coberturas vacinais é prioridade, diz o Ministério da Saúde do governo Lula. "Esse é o mote principal do Movimento Nacional pela Vacinação, lançado em fevereiro", destaca a pasta em nota.

"A principal mensagem do Ministério da Saúde é que as vacinas são seguras e eficazes, protegem crianças, adultos e idosos, salvando vidas", acrescenta a pasta.

O fim da declaração de emergência não significa o fim da circulação da covid-19. Por isso, a vacinação segue como ação fundamental. Precisamos da mobilização de todos para ampliar a cobertura vacinal e combater a desinformação que questiona a segurança e a eficácia dos imunizantes."
Nísia Trindade, ministra da Saúde

A sequência de liberações das vacinas

A primeira vacina contra covid para crianças aprovada no Brasil foi a Pfizer para o público de 5 a 11 anos, liberada pela Anvisa em dezembro de 2021.

Em julho de 2022, foi a vez da Coronavac ser liberada para a faixa etária de 3 a 5 anos.

Por último, em setembro do ano passado, a Anvisa liberou a vacina Pfizer para bebês de 6 meses até crianças de 4 anos.

A vacina pediátrica da Pfizer foi a primeira a ser liberada pela Anvisa para crianças de 5 a 11 anos  - Myke Sena/MS - Myke Sena/MS
A vacina pediátrica da Pfizer foi a primeira a ser liberada pela Anvisa para crianças de 5 a 11 anos
Imagem: Myke Sena/MS