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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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PF expulsa invasores que fizeram fábrica com energia solar em área indígena

Estrutura achada pela operação de PF, Funai e Ibama na TI Karipuna - PF
Estrutura achada pela operação de PF, Funai e Ibama na TI Karipuna Imagem: PF

Colunista do UOL

11/05/2023 20h09

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A PF (Polícia Federal) deu início hoje a uma operação conjunta com Ibama e Funai para retirar os invasores da TI (Terra Indígena) Karipuna, em Rondônia.

O que se sabe da operação

Ao todo, são 20 madeireiras e serrarias mapeadas que ficam no entorno da área Karipuna. A ação ocorre após um trabalho de inteligência que teve início em janeiro.

Logo no primeiro dia, a equipe encontrou uma madeireira estruturada e com fornecimento de energia solar.

Ela faz parte de um conjunto de pelo menos outras 20 pequenas indústrias de retirada e trabalho com madeira ilegal da terra indígena.

Para retirada, foram mobilizados 80 policiais federais e 11 profissionais de Ibama e Funai. Uma aeronave da PF ajudou no deslocamento do efetivo e na análise de pontos de interesse.

Durante as ações, a PF informou que vai atuar nos 12 maiores pontos de alertas de desmatamento existentes no interior da TI. O prazo total da operação de retirado não foi informado.

O que dizem os indígenas

A operação foi comemorada pelo povo Karipuna. "Denunciamos essa ocupação desde 2017 e estamos muito felizes com essa operação", afirma o cacique Adriano Karipuna.

Sabemos que será demorado reparar o desmatamento. Foram destruídos inúmeros hectares de floresta karipuna. Mas a ação feita agora é importante porque aqui ainda temos povos livres."
Adriano Karipuna, cacique

PF achou muita madeira retirada ilegalmente de terra Karipuna - PF - PF
PF achou muita madeira retirada ilegalmente de terra Karipuna
Imagem: PF

A investigação

De acordo com a investigação, a madeira era extraída da TI ilegalmente e vendida por essas pequenas indústrias "mediante um engenhoso esquema fraudulento que esquentava a origem dos produtos florestais extraídos".

Como era feito o esquema ilegal:

Havia emissões e transferências simuladas de créditos do Sistema de Documento de Origem Florestal por meio de "laranjas".

Além disso, eles usavam planos de manejo fraudados não só em Rondônia, mas também em outros estados.

As pessoas envolvidas faziam o loteamento e comercialização ilegal de terras por meio de grilagem para extração ilegal de madeira.

A PF informou que todos os bens apreendidos serão destruídos, assim como toda estrutura montada, como pontes e outros meios de acesso à TI instalados sem autorização.

Os responsáveis presos estão conduzidos à sede da PF para a adoção dos procedimentos necessários.

A PF e os demais órgãos atuam de forma constante para manter a integridade do território indígena, de forma que ações que atentem contra os interesses dos povos indígenas serão reprimidas com o rigor da lei penal e ambiental."
Nota da PF

Povo Karipuna tem denunciado invasões e destruição de seu território causado por grileiros e madeireiros - Chico Batata / Greenpeace - Chico Batata / Greenpeace
Terra Karipuna tem invasões e destruição de seu território causado por grileiros e madeireiros
Imagem: Chico Batata / Greenpeace

Povo e ameaças

Homologada em 2018, a Terra Indígena Karipuna tem 153 mil hectares e fica entre os municípios de Porto Velho e Nova Mamoré.

O problema é antigo e já foi denunciado internacionalmente em pelo menos três oportunidades:

Em 2018, na 17ª Sessão do Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas das Nações Unidas, em Nova York.

Em 2019, com discursou em evento paralelo durante a 41ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, na Suíça.

Em 2020, as denúncias foram no Sínodo da Amazônia, no Vaticano.

Adriano Karipuna e Leila Guarani e Kaiowá durante sessão do Fórum Permanente, em abril de 2018 - Luiz Roberto Lima - Luiz Roberto Lima
Adriano Karipuna durante sessão do Fórum Permanente, em abril de 2018
Imagem: Luiz Roberto Lima

O povo Karipuna é um dos menores e mais antigos povos que habitam a Amazônia. Eles chegaram a ser ameaçados de extinção nos anos 1970, quando o território deles foi invadido pelo "homem branco", deixando apenas 4 sobreviventes.

Hoje, são apenas 62 moradores que resistem e fazem o povo seguir no mapa de etnias do país. O número segue crescendo: em 2004, eram apenas 14.