Carlos Madeiro

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Com eventos extremos, desastres afetaram 13% da população no país em um ano

O ciclone extratropical que afetou estados da região Sul foi mais um evento extremo no país. O Brasil vem registrando aumento no número de desastres: em 2022 foram contabilizados 4.749, um recorde desde 1991, segundo dados da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.

Também no ano passado o país teve o maior número de pessoas afetadas por esses eventos, com 26 milhões de atingidos de alguma forma, o que equivale a cerca de 12,8% da população do país (203 milhões, segundo o Censo).

Por que mais eventos extremos?

Eventos extremos estão se tornando mais comuns por conta das mudanças climáticas, que aumentaram a temperatura do planeta e geram uma série de alterações no clima que resultam em mais desastres, segundo especialistas.

Chuvas, secas e ciclones mais intensos e frequentes. Os dados do Atlas de Desastres no Brasil, da Secretaria Nacional de Defesa Civil, apontam para uma alta no número de casos registrados nos últimos anos, o que inclui vários tipos de eventos extremos.

O número de afetados por esses desastres também cresceu no país e chegou ao seu maior patamar no ano passado. Os números parciais de 2023 não constam no Atlas.

Ciclone foi efeito colateral

Ciclone que afetou o Sul nesta semana foi um "efeito colateral" da frente fria que trouxe muita chuva, explica Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operação e Modelagem do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

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"O evento não pegou ninguém de surpresa." Segundo ele, foi alertado na semana passada que os estados do Sul passariam por período de alta precipitação.

Não foi um episódio difícil de prever. Estávamos acompanhando há vários dias: na terça-feira da semana passada já sabíamos, na quarta comunicamos a Defesa Civil Nacional e na quinta, 31, conversamos com as defesas civis da região Sul e Mato Grosso do Sul sobre o que poderia acontecer.
Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operação e Modelagem do Cemaden

Ciclones extratropicais são formações comuns no Sul do país. Os dados do Atlas apontam que as ocorrências variam ao longo dos anos. Entretanto, também há uma tendência de aumento médio no número de casos.

Não é possível relacionar o evento desta semana com o El Niño, por exemplo. Nem mesmo cravar se esse tipo de evento é registrado com mais frequência por falta de dados históricos, segundo Seluchi.

Não temos dados de longo prazo confiáveis do oceano, só dos últimos 30 anos. É muito pouco para fazer uma estatística. O mesmo vale para mudança climática, o tempo é pouco para cravar.
Marcelo Seluchi

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Vítimas são resgatadas de casa inundada após chuvas em Passo Fundo (RS)
Vítimas são resgatadas de casa inundada após chuvas em Passo Fundo (RS) Imagem: Prefeitura de Passo Fundo/Facebook

Se foi previsto, por que mata tanto?

Prevenir tragédia não é só levar informações de meteorologia, afirma José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden. Somente no Rio Grande do Sul, foram 22 mortes confirmadas até ontem, 15 delas no município de Muçum, região central do estado.

Santa Catarina, por exemplo, tem uma Defesa Civil que está preparada. Ela foi informada. Os problemas não ocorrem só pela falta de informação, mas mais pela falta de percepção de que um desastre pode acontecer.
José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden

Muitas vezes as defesas civis alertam para que as pessoas deixem as casas, mas elas não têm rota de fuga ou não têm para onde ir. Tem muita coisa que precisa ser melhorada, e o Brasil precisa se preparar para esses eventos. Tem de ser dialogado entre Poderes para se construir uma política de redução de risco de desastre.
José Marengo

Corpo de Bombeiros de Pernambuco atua no Jardim Monte Verde, no bairro do Ibura, no Recife, após deslizamentos em 2022
Corpo de Bombeiros de Pernambuco atua no Jardim Monte Verde, no bairro do Ibura, no Recife, após deslizamentos em 2022 Imagem: Corpo de Bombeiros PE
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Eventos extremos já são responsáveis pela migração climática forçada e devem crescer ainda mais no Brasil, caso não seja adotada uma política específica, comenta o pesquisador Humberto Barbosa, coordenador do Lapis (Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite da Universidade Federal de Alagoas). Ele afirma que já existem tecnologias de monitoramento eficientes no país, mas para enfrentar os problemas é preciso ir além.

Não adianta apenas monitorar o risco de desastres hidrometeorológicos de grande dimensão e avisar às prefeituras algumas horas antes. É necessário criar canais de comunicação fluidos com as lideranças e diretamente com as pessoas. E não se pode esperar apenas pelos governos. A sociedade civil pode exercer um papel muito relevante, se houver incentivos e recursos.
Humberto Barbosa, pesquisador da Universidade Federal de Alagoas

Também é importante fazer um zoneamento das áreas de ocupação irregular para que se invista em novas moradias. "Reduzindo o déficit habitacional e a ocupação de áreas mais propensas a desastres, você reduz riscos. Áreas perigosas não deveriam estar ocupadas", opina Barbosa.

16.mai.2012 - Casa colocada a venda denuncia êxodo rural em Santa Brígida (BA)
16.mai.2012 - Casa colocada a venda denuncia êxodo rural em Santa Brígida (BA) Imagem: Beto Macário/UOL

Governo diz que investe

Sobre desastres, o MIDR (Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional) afirma que tem projetos e programas em andamento e enfatiza a "importância de iniciativas voltadas ao conhecimento, que contribuem para a geração de informações relevantes nessa área".

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O MIDR também destaca o compromisso com o cidadão, ressaltando a implementação de ações como o envio de alertas e a divulgação de medidas de autoproteção, além do primeiro Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil, que é um marco nesse sentido.

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