Sem acordo sobre restauro, 5ª igreja mais antiga do país pode desabar
Construída em 1537 e quinta igreja mais antiga do país, a Capela de Nossa Senhora de Santana, na zona rural de Ilhéus (BA), corre risco de desabamento. Tombada pelo patrimônio histórico desde 1984, a obra está em um terreno que está em movimentação em direção ao rio Santana, segundo o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Mas há um impasse para que as obras de conservação do local sejam feitas: a capela está em uma propriedade particular, e o restauro deveria ser custeado pelo proprietário. Entretanto, a família dona da área alega não ter recursos. O caso está sendo acompanhado pelo MPF (Ministério Público Federal).
O que diz o relatório
A capela do Rio do Engenho de Santana, como também é conhecida, é uma das raras construções do tipo em área rural. Foi também o primeiro prédio erguido em Ilhéus e até hoje o local tem missas mensais.
Pelo seu valor histórico cultural, o local é visitado por turistas com frequência.
Após vistoria, o Iphan viu a necessidade de obras emergenciais para contenção do terreno. Para isso, diz no relatório, devem ser contratados engenheiros estruturalista e arqueologista para acompanhar as escavações.
Outra obra emergencial solicitada é nas fundações de pedra da capela, que precisam de "consolidação e reforço."
Em termos estruturais, o órgão federal pede ainda que sejam feitas revisões completas elétrica e hidráulica, além de obras de acessibilidade e instalação de para-raios e sistemas de prevenção a incêndios e segurança patrimonial.
Em nota à coluna, o Ipahn afirma que obras emergenciais de contenção estrutural são necessárias para garantir a integridade física da capela. Entretanto, diz que não seria o poder público o responsável pelos reparos.
A igreja é uma propriedade privada e a responsabilidade pela conservação das edificações tombadas é de seus proprietários e/ou responsáveis, devendo estes proceder às obras e serviços necessários, após aprovação da proposta de intervenção por este Instituto.
Iphan
O texto lembra ainda que, nos anos de 2012 e 2013, o Iphan já havia executado "obras emergenciais e serviços de restauração no bem" ao custo de R$ 297 mil. À época, diz, a construção apresentava "péssimo estado de conservação e risco de arruinamento."
Monumento atrai turistas
A capela feita em alvenaria de pedra e cal é um das raras capelas rurais do século 16, e pertenceu ao antigo Engenho de Santana. No século 19, após a expulsão da ordem dos jesuítas, o engenho passou à coroa portuguesa.
Segundo Maria Aparecida Maranhão, responsável pelo local, seu pai comprou o terreno onde está a capela nos anos 1940. "Ele faleceu muito jovem, e foi minha mãe quem tocou a vida e as terras deixadas por ele."
Ela admite que o prédio apresenta rachaduras causadas pela movimentação do terreno, que necessita de obras de contenção.
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Quero receberA gente está nessa luta há um bom tempo. Nem eu, nem meus [três] irmãos temos recursos financeiros para reformar uma igreja tão antiga porque o Iphan pede um engenheiro colonial para fazer o projeto. A prefeitura até tentou fazer um projeto, mas eles rejeitaram.
Na última segunda-feira, ela enviou um e-mail para o Iphan reafirmando que a família não tem condições financeiras para arcar com os custos da reforma da capela e das imagens. Também acionou o MPF na Bahia informando da situação.
Ela conta que a mãe dela faleceu em 2003, e o terreno ficou para ela e os irmãos. O corpo de Alice Dias, inclusive, está enterrado ao lado do altar da capela.
Segundo Maranhão, que ficou responsável pela capela, não há qualquer faturamento com a igreja que possa bancar as obras.
A capela não possui dízimo, e agora que está se tentando fazer com que os visitantes paguem uma taxa, mas não é obrigatório. Quem cuida dela é Ednilson Nascimento, que sempre zelou pela capela voluntariamente.
Segundo Maranhão, apenas a prefeitura está tentando ajudar a solucionar o problema. A Secretaria de Cultura de Ilhéus informou que chegou a fazer uma consulta a um engenheiro para realizar a obra de contenção, mas o valor cobrado assustou: R$ 300 mil. "Isso, fora a reforma da igreja e a mão-de-obra. A prefeitura não seguiu", diz a proprietária.
Mesmo que fosse rica, não reformaria a igreja para fazer turismo para uma cidade. Quem tem de fazer é a prefeitura. Tem de haver uma medida que resolva a situação.
A situação indefinida tem deixado a família apreensiva.
Eu tenho muito receio que aconteça algo com a capela. É muita responsabilidade. Eu ainda mantenho essa capela pelo amor à minha família. Mas estou quase sem dormir com essa situação porque não quero ser penalizada.
Procurado pelo UOL, o MPF confirmou que está acompanhando o caso, mas as apurações ainda estão em fase inicial.
Foi instaurado um procedimento preparatório e, até o momento, foram colhidas informações do Iphan, Ipac [Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia] e solicitadas informações à Prefeitura de Ilhéus, dentre outras diligências pontuais. Após a conclusão dessa etapa inicial haverá a análise e a decisão por arquivar, solicitar mais providência, abrir um inquérito ou ajuizar uma ação judicial.
Também procurado, o Ipac não retornou o pedido de informações à reportagem.
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