Remédio para 3 semanas acabou em 3 dias em Gaza, diz Médicos sem Fronteiras
A entidade MSF (Médicos Sem Fronteiras) está ajudando autoridades de saúde palestinas com medicamentos e insumos em Gaza, mas alertou ontem que o número de feridos é maior do que a capacidade de atendimento e que os insumos estão acabando.
Somente para o principal hospital de trauma de Gaza, o Al-Awda, MSF doou suprimentos para emergência suficientes para dois meses de atendimento. Entretanto, uma quantidade que duraria três semanas foi consumida em apenas três dias. A entidade filantrópica atua ainda em mais dois hospitais.
Relato de Médicos Sem Fronteiras
100% dos pacientes recebidos no local ontem eram crianças ou adolescentes entre 10 e 14 anos, afirma o vice-coordenador do projeto MSF na cidade de Gaza, Ayman Al-Djaroucha.
A maioria dos feridos em Gaza são mulheres e crianças, pois são as pessoas que, com mais frequência, estão nas casas que acabam sendo destruídas nos bombardeios aéreos.
Ayman Al-Djaroucha, em fala exclusiva repassada à coluna por MSF no Brasil
Segundo MSF, a situação em Gaza é "catastrófica". Os bombardeiros não param, o que tem vitimado muitos civis. Isso vem gerando uma alta demanda por cuidados médicos, em meio a suprimentos escassos.
No local são atendidos pacientes com ferimentos de bala e estilhaços de bombas espalhados em todas as partes do corpo. Há muitas pessoas também queimadas após bombardeios.
A capacidade de leitos do hospital Al-Awda foi aumentada para o máximo (26 leitos) e todos estão ocupados.
As nossas equipes têm trabalhado 24 horas por dia desde o início do conflito. Na segunda-feira (9), por exemplo, 50 pessoas chegaram ao hospital Al-Awda após um ataque no campo de refugiados Jabalya, vizinho ao hospital.
Comunicado MSF
Há outros problemas, como a falta de combustível para geradores de energia. Ambulâncias para remover feridos também não estão sendo utilizadas pelo risco de bombardeios.
O governo de Israel implantou um bloqueio que cortou energia, comunicação e água na faixa de Gaza, onde vivem 2 milhões de palestinos. O bloqueio também dificulta que a coordenação de MSF faça contato por telefone com equipes em Gaza.
Ataques em instalações de saúde
Bombas têm explodido em áreas que deveriam ser preservadas por serem de atendimentos a feridos, relata Léo Cans, coordenador-geral de MSF na Palestina, em comunicado por vídeo.
Um dos hospitais que apoiamos foi atingido por um ataque aéreo e ficou danificado. Outro ataque aéreo destruiu uma ambulância que transportava os feridos, bem em frente ao hospital onde trabalhamos. A equipe de MSF, que estava operando um paciente, teve que deixar o hospital às pressas. Hoje, em Gaza, as pessoas estão aterrorizadas.
Léo Cans, de MSF na Palestina
A situação no local, relata, está diferente de outros cenários de guerra, e as equipes estão fragilizadas.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberFalo regularmente com nossos colegas de lá. Eles são pessoas muito fortes porque, infelizmente, já passaram por muitas guerras, mas a situação atual está lhes causando extrema ansiedade. Eles dizem que desta vez é diferente: eles não veem uma saída e se perguntam como tudo isso vai acabar. Eles estão enfrentando um terrível sofrimento mental. Não há palavras para descrever o que as pessoas estão passando."
Léo Cans
O coordenador-geral de MSF em Gaza, Matthias Kanne, relata o drama de atuar no local em meio ao som de bombas.
Deixe seu comentário