Semiárido brasileiro cresce 7,5 mil km² ao ano e se expande por MG e NE
Estudo produzido por cientistas dos órgãos federais Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) aponta que a região com clima semiárido no Brasil aumentou em média 7.500 km² ao ano desde 1990 — o que equivale a cinco vezes a área da cidade de São Paulo.
O que aconteceu
O aquecimento global é apontado como causa para o aumento da região com clima semiárido no Brasil. A informação consta em nota técnica publicada pelo Cemaden e pelo Inpe — e assinada pelos pesquisadores Ana Paula Cunha, José Marengo e Javier Tomasella. O texto reúne dados desde 1960.
Esse tipo de clima mais seco se expande "de maneira consistente ao longo das décadas", segundo o documento. Foram feitos quatro mapas com médias históricas por períodos de 30 anos.
O aumento da área ocorre principalmente no oeste da região Nordeste e se expande pelo norte de Minas Gerais.
Nota técnica INPE e Cemaden
No último mapa — com dados até 2020 — foi registrada a primeira região árida no país: 5.700 km² no norte da Bahia, perto da divisa com Pernambuco. Até então, a área era classificada como semiárida.
Isso é fruto do aquecimento global: com as temperaturas mais altas, aumenta a evaporação. Como o índice de aridez é dado pela razão entre precipitação e evaporação potencial, se a evaporação aumenta o índice se reduz.
Javier Tomasella, do INPE e coordenador do estudo
A escala para classificar uma área pela aridez usa uma fórmula internacional: pega-se a precipitação anual e divide-se pela evaporação potencial média. Se a conta der abaixo de 0,2, a região é considerada árida. Já quando esse índice está entre 0,21 e 0,5, a região é classificada como semiárida.
Para evitar distorções, o período de análise médio é de 30 anos — que é considerado o indicado para classificar mudanças no clima.
Áreas mais secas
Ao mesmo tempo que as áreas de semiárido crescem e a árida aparece, aquelas consideradas em subúmido seco mostraram redução média de 1,2 mil km² por ano.
Para os especialistas, isso quer dizer que áreas que mantinham um padrão climático de mais chuvas agora estão ficando mais secas.
O estudo revela que a aridez só não aumentou na região Sul do país, pois a quantidade média de chuva aumentou.
Na prática, isso significa condições mais secas em quase todo o país devido ao aumento de evaporação.
Javier Tomasella
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O documento de Inpe e Cemaden foi entregue ao MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima) e demais órgãos que devem compor o plano de ação de mitigação do problema.
O MMA está se articulando com os governos dos estados no sentido de retomada da política, de repactuação de ações que atendam a necessidade de implementação de práticas e tecnologias concretas de combate à desertificação.
Alexandre Pires, coordenador do Departamento de Combate à Desertificação do MMA
Hoje, oficialmente, o país tem 1.427 municípios no semiárido em uma área que ocupa parte dos nove estados do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo. Entretanto, a área oficial (que é delimitada pela Sudene) não utiliza apenas critérios de clima.
Na semana passada, cientistas e autoridades se reuniram em um seminário em João Pessoa. O debate do tema foi promovido pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado), que coordena uma rede com quatro outros tribunais (de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Sergipe) para ajudar gestores com informações e planos de mitigação de impactos da desertificação.
Ou se cuida disso imediatamente, ou a desertificação obrigará a remoção das populações do semiárido.
Nominando Diniz, presidente do TCE-PB
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