Motorista volta ao ES após morar mais de 3 anos em carreta quebrada em AL
Foram três anos e dois meses morando dentro da cabine de uma carreta parada no bairro de Santa Lúcia, em Maceió. Mas ontem, finalmente o caminhoneiro Luís Carlos de Oliveira, 57 iniciou sua viagem de volta para Linhares (ES), sua terra natal. Já seu caminhão foi para uma oficina em Paulínia (SP), onde vai ser reformado.
Essa história começa em dezembro de 2020, quando Luís estava na capital alagoana, e a caixa de marcha da sua carreta ano 1995 deu problema. Empenhado, o caminhoneiro conseguiu estacionar o veículo em uma área verde, mas não saiu mais dali nos últimos três anos.
Sem dinheiro para fazer a reforma, ele diz que sequer teve coragem de pedir um orçamento.
Sabia que ia ser muito caro, nem fui atrás. Parei ela aqui e fiquei morando nele.
Luís Carlos
Bem acolhido
Desde que se instalou no local, Luís foi bem acolhido pelos vizinhos, que o ajudavam dando comida e oferecendo pequenos serviços remunerados.
Na cabine do veículo, ele tinha como único "luxo" um ventilador ligado para amenizar o calor de até 35ºC do verão alagoano. Em uma pequena cozinha que montou, preparava suas refeições.
Luís conta que a carreta que estava parada foi adquirida por ele após a família receber um terreno de herança do pai, que foi vendido.
Eu não poderia abandonar uma coisa que era do meu pai, sem contar que é minha profissão: são 37 anos rodando o país.
Luís Carlos
Canal divulga caso
A vida de Luís começou a mudar quando o mecânico Manoel Oliveira, que atua há 38 anos na área em Maceió, divulgou o caso em um canal que possui do Youtube.
Vi uma matéria no Instagram local e decidi vir conhecer a história em abril [de 2023]. Fizemos um vídeo, marcamos caminhoneiros e alcançamos milhares de visualizações.
A audiência rendeu a ideia de uma campanha para ajudar Luis, que arrecadou R$ 35 mil.
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Quero receberCom o dinheiro, Luís pagou R$ 14 mil de débito que tinha de combustível com um posto de Linhares, comprou peças e pagou serviços que amenizaram, mas não resolveram o problema da carreta
Ela estava muito pior do que agora. A gente ajeitou o câmbio, trocamos os dois tanques, mudamos escapamento; fizemos muitas parcerias para receber peças para o veículo, mas não foi suficiente para ela voltar a andar. Pelo tempo que ela está parada, precisa de mais coisas.
Segundo Manoel, o caminhão precisa de pelo menos 10 novos pneus, além de amplos serviços de lanternagem, entre outros.
Já a parte de trás da carreta —a carroceria— está com problemas mais sérios e não vai viajar: ela deve ser vendida a um ferro velho. Essa parte do caminhão foi atingida após a queda de uma árvore em 2022. Por conta disso, a lateral da carroceria quebrou e afundou uma parte dela.
Viagem até Paulínia
Graças à boa repercussão, nesta quarta-feira (21) a carreta foi levada de guincho para Paulínia (SP), onde será inteiramente reformada em uma oficina especializada.
Quatro empresas se uniram para bancar o frete e a reforma do veículo, foram elas: PneuStore, Pesadão, TR 242 Sorte e Scanvol.
Fernando Ramos, da TR 242, é o motorista do guincho e afirma que a viagem até Paulínia deve durar três dias.
Ele salienta que os custos da reforma só serão conhecidos após análise minuciosa da oficina.
Será feita uma reforma completa, mas o que será feito será avaliado depois de desmontar a carreta. Mas a gente calcula que serão 3 meses para reformar inteira.
Luis embarcou junto com o guincho e vai com ele até Feira Santana (BA), de onde vai embarcar em um ônibus para Linhares. Lá, ficará na casa do irmão até a carreta ser revitalizada (Luís não tem mais casa).
Nesta quarta-feira, os amigos que fez em Maceió vieram se despedir. O eletricista Alfredo Silva, 61, era uma das pessoas que o ajudava sempre. "Vi a história dele em uma reportagem, fique sempre visitando, dando comida e conversando."
O militar Adriano Silva dos Santos, 39, também lembra que foi necessário, muitas vezes, dar conselhos a Luís.
Ele às vezes pensava besteira, e eu dizia sempre que a hora dele ia chegar; e chegou agora.
Sem vacina, sem emprego
Para se virar em Maceió, Luís diz que fazia bicos de serviços mecânicos e elétricos na região. Também recebeu o Auxílio Emergencial durante a pandemia. Após o fim do pagamento, diz que preferiu não pedir Bolsa Família (na época ainda chamado de Auxílio Brasil). "Nunca fui atrás."
Ao longo desses mais de três anos, Luis chegou a se cadastrar para vagas de emprego na cidade, mas acabou não sendo chamado. "Eles pediam a carteira de vacinação [contra covid-19], e eu não me vacinei."
Além de não ter a vacinação em dia, Luís ainda relata que teve problemas após ser roubado há alguns anos. Os ladrões levaram seus documentos, que estariam sendo usados em crimes. "Criminosos foram presos na Bahia com documentos meus. Fiz boletim de ocorrência.
Luis tem dois filhos de um relacionamento que teve com uma mulher de Natal, que morreu em 2021. "Mas desde 2018 que não os vejo, nem tenho notícias", diz.
Ele diz, que assim que receber o caminhão, vai voltar a trabalhar de imediato.
Está no sangue, não tem para onde correr, vou viajar de novo.
Luís Carlos
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