'Quem vai é outro': MP cobra Uber após racismo religioso com mãe de santo

A mãe de santo denunciou o caso à polícia, e o MP-PB (Ministério Público da Paraíba) cobrou explicações da Uber. A empresa informou que o motorista já foi banido da plataforma e estimula que passageiros denunciem qualquer ato nesse sentido (leia nota abaixo).

A situação da semana passada não é isolada. Líder de terreiro há 42 anos, a mãe de santo conta que já está acostumada com o alto número de desistências de motoristas de aplicativo ao verem o ponto de partida. "Os outros cancelaram, e não diziam nada; esse falou."

Eu já coloquei que se trata de terreiro para deixar claro. Sobre o racismo religioso, sempre foi assim, só que eu não estou mais querendo me calar. Daqui para frente irei para a justiça porque eu não aguento mais.
Mãe de santo Lúcia Oliveira

Em outras duas viagens, os motoristas mandaram ela descer do carro após saber o destino da viagem. Em uma dessas ocasiões, chovia bastante na cidade. "Fui para o hospital com a pressão alta", conta a mãe de santo.

Caso não é único, diz MP

O caso gerou grande repercussão no estado, e o MP-PB solicitou explicações da plataforma na semana passada.

Essa prática racista religiosa vai ser apurada em duas esferas: na criminal, já que a religiosa prestou ocorrência; e também na esfera cível, que apura a responsabilidade da empresa.
Fabiana Maria Lobo da Silva, promotora da área de defesa da cidadania na capital

O motorista, segundo a promotora, faz parte do quadro da Uber e, por isso, "a empresa precisa prestar esclarecimentos, não só sobre esse fato, mas também com relação à informação de que não foi a primeira vez que isso ocorreu".

Outros religiosos já se manifestaram na promotoria de que, quando solicitam corridas, e se sabe que essa corrida é de origem um terreiro, há o cancelamento.
Fabiana Maria Lobo da Silva, promotora

A Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) divulgou nota de solidariedade e repúdio a "todo e qualquer ato ou ação de intolerância religiosa, discriminação, preconceito, ou quaisquer outros atos que atentem contra a liberdade de crença ou livre exercício dos cultos religiosos".

A entidade lembrou ainda na nota que o Disque 100 é um "serviço gratuito para denúncias de violações de direitos humanos", com funcionamento 24 horas por dia.

A Lei 7.716 e o artigo 5º da Constituição nos dão o direito de adorarmos a Deus da forma que escolhermos. A gente pode adorar Deus de várias formas, não só existe uma religião no país, o Estado não tem religião. Eu quero que me respeitem, porque eu respeito as pessoas.
Mãe de santo Lúcia Oliveira

Uber diz não tolerar discriminação

Em nota, a Uber afirma que já baniu o motorista e relatou seu posicionamento referente a casos do tipo:

"A Uber não tolera qualquer forma de discriminação e informa que a conta do motorista está banida da plataforma. Em casos dessa natureza, a empresa encoraja a denúncia tanto pelo próprio aplicativo quanto às autoridades competentes e se coloca à disposição para colaborar com as investigações, na forma da lei.

A Uber busca oferecer opções de mobilidade eficientes e acessíveis a todos. A empresa reafirma o seu compromisso de promover o respeito, igualdade e inclusão para todas as pessoas que utilizam o app."