Tremores de terra crescem 13 vezes após mineração e assustam cidade de AL
A DPU (Defensoria Pública da União) entrou com um pedido de tutela de urgência na Justiça Federal de Alagoas para que autoridades e a mineradora Vale Verde financiem estudos para saber porque a cidade de Craíbas, localizada na região central do estado, registrou um aumento de ao menos 13 vezes no número de tremores de terra desde o início das atividades de extração do Projeto Serrote, em 2021.
Os moradores da cidade estão com medo. Em fevereiro, um mapeamento social apresentado pela prefeitura apontou que 87% dos moradores próximos à área alegaram sentir os tremores.
Segundo moradores, as explosões para alcançar o subsolo durante a operação da mineradora causam, além dos tremores, rachaduras em casas e prédios da zona rural de Craíbas, no agreste alagoano —e algumas já foram desocupadas.
Em janeiro, o SGB (Serviço Geológico Brasileiro) apontou em relatório, feito a pedido da justiça, aponta que essas rachaduras não foram por fenômenos geológicos ou por conta de falhas na construção, o que reforça a suspeita de que os tremores seriam os responsáveis. de 95 imóveis, 16 apresentaram maior intensidade de problemas.
O empreendimento teve licença em 2017 para beneficiamento do minério de cobre. Com reservas de 52 milhões de toneladas, a vida útil da mina está estimada em 14 anos. Para retirar e vender o cobre, a empresa fez um investimento de cerca de R$ 1 bilhão.
Tremores crescem quase 13 vezes
Segundo dados constantes na ação e levantados pela Defesa Civil de Arapiraca —cidade vizinha a Craíbas—, o aumento no número de tremores medidos é expressivo. Em um relatório de setembro de 2023, o órgão aponta que, entre 2015 e 2020, Craíbas registrou 3 tremores. Já entre 2021 e a data do relatório, esse número saltou para 41.
Segundo Anderson Nascimento, pesquisador do Laboratório de Sismologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), não é possível definir o porquê do aumento exagerado no número de tremores registrados na região.
A gente não tem como prever terremotos, então pode ser uma falha que se reativa naturalmente; pode ser um efeito que tenha a ver com a atividade de mineração; ou pode ser a mistura dos dois. Só um monitoramento pode dizer.
Anderson Nascimento
Segundo o defensor público da União Diego Alves, autor da ação, existem hoje cerca de 70 casas que precisam de avaliação mais detalhada para ver se há risco e se é caso de interdição.
A gente vem provocando a prefeitura desde fevereiro, e o município não fez nada. A situação tem um roteiro clássico de omissão do município, junto com a empresa, que não adotam segurança das pessoas que estão em risco.
Diego Alves
Na ação, a DPU alega que a mineradora teria concordado "em financiar o estudo a ser realizado pela UFRN", mas isso não saiu do papel.
A DPU lembra que o IMA (Instituto do Meio Ambiente) de Alagoas chegou a cotar um estudo técnico mais completo pela UFRN, no valor de R$ 787 mil.
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Quero receberNão é possível mensurar os riscos da atividade mineradora em virtude da ausência de estudos sobre o impacto ambiental causado, o que se agrava pela ausência de corpo técnico e pessoal da Defesa Civil do Município para fazer frente a eventual desastre.
Manifestação da DPU
Outro ponto que a DPU quer se refere à estruturação da Defesa Civil de Craíbas, que "continua com um único servidor."
Respostas
A mineradora Vale Verde afirmou que, "desde o início da Ação Civil Pública (ACP), esteve aberta ao diálogo e disposta a alcançar um consenso ainda na fase conciliatória, o que não tem se mostrado possível."
A Companhia reitera a confiança na regularidade do seu empreendimento, devidamente licenciado pelo órgão ambiental competente, e que seguem as melhores práticas de segurança e de sustentabilidade. A MVV informa que apresentará suas considerações técnicas e jurídicas, assim que for intimada pelo juízo competente, sem perder de vista a postura colaborativa adotada desde a propositura da ação judicial.
Mineradora Vale Verde, em nota
O secretário do Meio Ambiente de Craíbas, Nivaldo Batista Pinheiro, diz que a prefeitura está ciente da reclamação e "fazendo a nossa parte."
O levantamento dos imóveis do entorno fomos nós que fizemos, há ainda um entendimento em andamento com a Defesa Civil Estadual para nos auxiliar para realização dessas vistorias, que já se iniciaram com a realização de algumas visitas a imóveis.
Nivaldo Pinheiro
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