Carlos Madeiro

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Reportagem

Tremores de terra crescem 13 vezes após mineração e assustam cidade de AL

A DPU (Defensoria Pública da União) entrou com um pedido de tutela de urgência na Justiça Federal de Alagoas para que autoridades e a mineradora Vale Verde financiem estudos para saber porque a cidade de Craíbas, localizada na região central do estado, registrou um aumento de ao menos 13 vezes no número de tremores de terra desde o início das atividades de extração do Projeto Serrote, em 2021.

Os moradores da cidade estão com medo. Em fevereiro, um mapeamento social apresentado pela prefeitura apontou que 87% dos moradores próximos à área alegaram sentir os tremores.

Segundo moradores, as explosões para alcançar o subsolo durante a operação da mineradora causam, além dos tremores, rachaduras em casas e prédios da zona rural de Craíbas, no agreste alagoano —e algumas já foram desocupadas.

Em janeiro, o SGB (Serviço Geológico Brasileiro) apontou em relatório, feito a pedido da justiça, aponta que essas rachaduras não foram por fenômenos geológicos ou por conta de falhas na construção, o que reforça a suspeita de que os tremores seriam os responsáveis. de 95 imóveis, 16 apresentaram maior intensidade de problemas.

O empreendimento teve licença em 2017 para beneficiamento do minério de cobre. Com reservas de 52 milhões de toneladas, a vida útil da mina está estimada em 14 anos. Para retirar e vender o cobre, a empresa fez um investimento de cerca de R$ 1 bilhão.

Rachadura vertical no meio de parede em casa de Craíbas (AL)
Rachadura vertical no meio de parede em casa de Craíbas (AL) Imagem: Reprodução/SGB

Tremores crescem quase 13 vezes

Segundo dados constantes na ação e levantados pela Defesa Civil de Arapiraca —cidade vizinha a Craíbas—, o aumento no número de tremores medidos é expressivo. Em um relatório de setembro de 2023, o órgão aponta que, entre 2015 e 2020, Craíbas registrou 3 tremores. Já entre 2021 e a data do relatório, esse número saltou para 41.

Segundo Anderson Nascimento, pesquisador do Laboratório de Sismologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), não é possível definir o porquê do aumento exagerado no número de tremores registrados na região.

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A gente não tem como prever terremotos, então pode ser uma falha que se reativa naturalmente; pode ser um efeito que tenha a ver com a atividade de mineração; ou pode ser a mistura dos dois. Só um monitoramento pode dizer.
Anderson Nascimento

Segundo o defensor público da União Diego Alves, autor da ação, existem hoje cerca de 70 casas que precisam de avaliação mais detalhada para ver se há risco e se é caso de interdição.

A gente vem provocando a prefeitura desde fevereiro, e o município não fez nada. A situação tem um roteiro clássico de omissão do município, junto com a empresa, que não adotam segurança das pessoas que estão em risco.
Diego Alves

Na ação, a DPU alega que a mineradora teria concordado "em financiar o estudo a ser realizado pela UFRN", mas isso não saiu do papel.

A DPU lembra que o IMA (Instituto do Meio Ambiente) de Alagoas chegou a cotar um estudo técnico mais completo pela UFRN, no valor de R$ 787 mil.

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Não é possível mensurar os riscos da atividade mineradora em virtude da ausência de estudos sobre o impacto ambiental causado, o que se agrava pela ausência de corpo técnico e pessoal da Defesa Civil do Município para fazer frente a eventual desastre.
Manifestação da DPU

Outro ponto que a DPU quer se refere à estruturação da Defesa Civil de Craíbas, que "continua com um único servidor."

Rachadura encontrada em uma das casas ao lado da Mineração Vale Verde
Rachadura encontrada em uma das casas ao lado da Mineração Vale Verde Imagem: Reprdouação/SGB

Respostas

A mineradora Vale Verde afirmou que, "desde o início da Ação Civil Pública (ACP), esteve aberta ao diálogo e disposta a alcançar um consenso ainda na fase conciliatória, o que não tem se mostrado possível."

A Companhia reitera a confiança na regularidade do seu empreendimento, devidamente licenciado pelo órgão ambiental competente, e que seguem as melhores práticas de segurança e de sustentabilidade. A MVV informa que apresentará suas considerações técnicas e jurídicas, assim que for intimada pelo juízo competente, sem perder de vista a postura colaborativa adotada desde a propositura da ação judicial.
Mineradora Vale Verde, em nota

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Planta da Vale Verde, em Craíbas (AL), onde é extraído cobre
Planta da Vale Verde, em Craíbas (AL), onde é extraído cobre Imagem: Divulgação

O secretário do Meio Ambiente de Craíbas, Nivaldo Batista Pinheiro, diz que a prefeitura está ciente da reclamação e "fazendo a nossa parte."

O levantamento dos imóveis do entorno fomos nós que fizemos, há ainda um entendimento em andamento com a Defesa Civil Estadual para nos auxiliar para realização dessas vistorias, que já se iniciaram com a realização de algumas visitas a imóveis.
Nivaldo Pinheiro

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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