Carlos Madeiro

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Reportagem

Agência só fiscaliza uma em cada 40 atividades de mineração por ano no país

A ANM (Agência Nacional de Mineração) só consegue fiscalizar no país uma a cada 40 operações de mineração - chamadas de lavras - devido à reduzida quantidade de fiscais nos quadros do órgão.

A informação consta em um extenso documento produzido pelo órgão e encaminhado à CPI da Braskem no Senado após questionamento dos parlamentares sobre vários aspectos da atuação e fiscalização da Braskem na exploração de sal-gema do subsolo de Maceió.

A ANM diz que existe no Brasil um universo fiscalizável de 40.111 títulos de lavra —que é a concessão que credencia uma empresa para exploração mineral. Os dados foram atualizados até 8 de março.

A ANM, considerando seu quadro de pessoal atual e situação operacional-técnica- financeira, só consegue fiscalizar pouco mais de 1000 títulos de lavra por ano.
Nota técnica da ANM

O número de lavras tende a crescer mais ao longo dos próximos anos, já que a ANM concedeu 92,5 mil alvarás que autorizam pesquisa de minérios para eventual exploração em todo o Brasil.

Seriam necessários mais de 4 mil fiscais

Segundo a agência, para fiscalizar todos os títulos "de maneira acurada, detalhada e conforme todos os parâmetros", seria necessário um reforço no quadro de aproximadamente 4.000 fiscais —hoje são 140.

A ANM explica que a fiscalização, porém, segue o que determina o Código de Mineração, aprovado em 2018, que determina que a agência fiscalize por amostragem, observando "critérios de definição de prioridades".

Considerando o quadro de pessoal cada vez mais reduzido em virtude da não realização de concurso público para reposição de seu quadro, aliado às mudanças tecnológicas e a demanda da sociedade por maior eficiência e qualidade nos serviços públicos, a ANM adota o critério da amostragem para definição das áreas a serem fiscalizadas presencialmente.
Nota técnica da ANM

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Nas fiscalizações, a ANM diz que "geralmente, são observados aspectos técnicos e básicos da execução da lavra e demais operações associadas."

Área de mineração da Vale em Parauapebas (PA)
Área de mineração da Vale em Parauapebas (PA) Imagem: Lunae Parracho

Braskem era quem monitorava minas em AL

No caso das minas de sal-gema em Maceió, a agência diz que essa fiscalização é "ainda mais dificultada", já que não é viável o acesso às cavidades, "pois se encontram em grandes profundidades."

As fiscalizações se resumem a avaliar o estado de conservação e operacionalidade dos equipamentos de monitoramento, que esses sim, são os 'olhos' dos técnicos e fiscais que acompanham a lavra.
Nota técnica da ANM

Por conta disso, a ANM afirma que era a Braskem quem monitorava as condições das minas e informava sobre elas por meio de relatórios à ANM. A agência diz no documento à CPI que isso "de forma alguma se trata de terceirizar a fiscalização."

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A ANM se baseia nas informações de monitoramento e controle prestadas pela empresa para análise e apuração da segurança e conformidade das operações, (...) uma vez que a obrigatoriedade de prestação de dados fidedignos pelos regulados estão embasados na legislação pertinente.
Nota técnica da ANM

Área de mineração da Braskem no bairro do Mutange, em Maceió
Área de mineração da Braskem no bairro do Mutange, em Maceió Imagem: Itawi Albuquerque/Secom

A Braskem está sendo investigada pela PF (Polícia Federal) por suspeita de fraude nos dados repassados a fiscalizações em Alagoas, omitindo eventuais riscos e afundamentos do solo em Maceió. A empresa nega que tenha feito isso, diz que coopera com a investigação e alega que sempre atendeu aos requisitos legais exigidos fiscalização da ANM.

Além disso, em Alagoas, nas duas últimas décadas, a agência possuía apenas um fiscal para monitorar todas as atividades de mineração —entre elas a de sal-gema da Braskem.

Pedido de concurso

Em nota, a ANM alegou ao UOL que encaminhou pedido de concurso ainda em 2023, mas que ele "não foi analisado no mérito, até o momento". No pedido, foram solicitadas 1.003 vagas. Já em 2024, após a repercussão do colapso da mina 18 da Braskem, a ANM fez outro pedido de mais 300 vagas.

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O órgão disse que ainda não há data para lançar o edital, nem quantas vagas serão destinadas, porque depende de aprovação do MGI [Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos] para dar andamento aos processos de contratação.

Questionado, o MGI informou que, em setembro de 2023, autorizou a nomeação de 27 candidatos aprovados em concurso da ANM.

Sobre um novo concurso, diz que a Lei 8.112, de 1990, "proíbe a abertura de novo concurso, enquanto houver candidato aprovado em concurso anterior com prazo de validade não expirado."

Segundo a pasta, o concurso da ANM de 2021 expirou em agosto de 2023 e desde então "iniciou processo para autorização de um novo concurso para a Agência." O ministério, porém, não deu prazos.

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