Carlos Madeiro

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Reportagem

Destino provável de barco que chegou ao PA era Europa, dizem especialistas

Os imigrantes que deixaram a Mauritânia, na África, morreram no caminho e acabaram sendo encontrados no litoral do Pará provavelmente tinham como destino as Ilhas Canárias, na Espanha.

A PF diz que o barco deixou o país do noroeste africano em algum momento depois de 17 de janeiro —data do seu último registro na Mauritânia—com 25 pessoas a bordo. Mas todas morreram no trajeto de 4.800 km, e só nove corpos foram encontrados na embarcação, em Bragança (PA). Todos os ocupantes devem ter morrido de fome e sede na viagem, segundo a PF. A hipótese é que os demais corpos tenham sido jogados no mar.

Segundo o professor de história e relações internacionais da África da UnB (Universidade de Brasília), Pio Penna Filho, os migrantes da região da Mauritânia não têm histórico de deixar o país para chegar ao Brasil, ainda mais cruzando o Atlântico. Em regra, eles buscam chegar à Europa.

Até existe um fluxo migratório que sai da Mauritânia, mas para as Ilhas Canárias, porque elas são muito mais próximas [que o Brasil]. Tenho certeza absoluta de que eles não estavam a caminho do Brasil de propósito.
Pio Penna Filho

Imagem
Imagem: Arte/UOL

Pelas imagens, Penna aponta que o barco que chegou ao Pará tem traços similares aos de embarcações de pesca da Mauritânia. Mas o número de pessoas a bordo indica que elas não estavam em busca de peixes.

A PF está fazendo perícia no barco e ainda não sabe exatamente de onde ele teria saído. A capital da Mauritânia, Nouakchott, fica às margens do Atlântico.

Penna explica que o principal ponto de origem para migração de fuga na África pelo Atlântico é o Senegal, país vizinho à Mauritânia, pela fronteira sul. A Mauritânia não tem um histórico de imigrações recorrentes, como outros países.

A Mauritânia não é um país que tem guerra, ele é islâmico radical e muito fechado. Mas não tem refugiados por perseguição.
Pio Penna Filho

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Capital da Mauritânia, Nouakchott
Capital da Mauritânia, Nouakchott Imagem: EITI/Divulgação

Correntes marítimas corroboram tese

Quem concorda com a tese, mas pela análise de correntes marinhas, é Marcus Silva, professor do Departamento de Oceanografia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Segundo ele, a distância torna inviável que se chegue da Mauritânia às Ilhas Canárias em um barco sem propulsão. Nesse caso, ele precisaria de um motor ou leme e vela para navegar em direção contrária à das correntes marinhas locais, explica.

O barco deve ter pegado a corrente equatorial norte e descido até chegar próximo à linha do Equador, quando virou e começou a vir em direção à América.
Marcus Silva

Barco sendo levado por outro para corpos serem periciados no Pará
Barco sendo levado por outro para corpos serem periciados no Pará Imagem: Reprodução/PF

Questionado sobre o tempo de viagem entre continentes, ele diz que o trajeto pode ter sido feito em 90 dias, como calcula inicialmente a PF.

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É um período compatível com uma corrente superficial de 2,5 km/h, em média. E aí, quando ele chegou mais próximo, caiu em uma corrente que o levou à região Norte.
Marcus Silva

Marcus afirma que a embarcação provavelmente só chegou ao Brasil, sem controle de navegação, porque o tempo estava bom.

Se ele tivesse pegado tempestade, com certeza naufragaria, porque enfrentaria ondas de até oito metros. Mas se pegou mar calmo, veio só à deriva até aqui.
Marcus Silva

Segundo a PF, o caso é o segundo registro nesta década de barco da Mauritânia que chega ao Brasil com corpos. O outro caso ocorreu no Ceará, em 2021, com três mortos.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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