Carlos Madeiro

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Novo Oropouche se replica até 100 vezes mais que vírus original, diz estudo

Um estudo publicado nesta terça-feira por um grupo de cientistas brasileiros aponta que a nova variante do vírus Oropouche que circula no país demonstrou uma "capacidade de se replicar significativamente maior" em comparação ao vírus original, o que indica uma maior facilidade de infectar pessoas.

O rearranjo de Oropouche de 2023-2024 replicou-se aproximadamente 100 vezes mais em células de mamíferos em comparação com a cepa protótipo, especialmente após 12 e 24 horas após a infecção.
Trecho do estudo

Segundo o estudo, assinado por 23 pesquisadores de diversos centros de pesquisa e universidades, além da nova variante tem uma "maior eficiência" na capacidade de multiplicar-se, ela também consegue furar a imunidade de quem já teve a doença na versão original do vírus.

Para os pesquisadores, a maior quantidade de vírus aliada à reduzida capacidade dos anticorpos prévios para neutralizar, podem levar a um aumento na propagação da febre oropouche, como vemos atualmente no Brasil.

A replicação mais rápida pode levar a uma viremia [vírus circulante no sangue] mais alta em indivíduos infectados, tornando-os mais propensos a transmitir o vírus para vetores durante a picada.
Trecho do estudo

A nova variante foi descrita em estudo, publicado na semana passada, coordenado pela Fiocruz Amazônia, que apontou que ela está por trás da disseminação do vírus pelo país a partir do final de 2022 e do aumento de casos visto esse ano.

Testes para verificar vírus Oropouche no Lacen de Pernambuco
Testes para verificar vírus Oropouche no Lacen de Pernambuco Imagem: SES-PE/Divulgação

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O que achou a nova pesquisa

Com a replicação viral aumentada e a capacidade de furar a imunidade de quem já teve a doença, o novo estudo sugere que a variante explica o "ressurgimento" em 2023. "Isso pode contribuir para sua capacidade de causar surtos e propagar-se para novas áreas."

A pesquisa também descobriu que essa nova variante forma placas 2,5 maiores e 1,7 mais numerosas do que a cepa originária, o que sugere uma maior virulência —ou seja, maior gravidade da doença.

Quanto maior a placa, maior capacidade de destruir células humanas.

Na semana passada, o Ministério da Saúde confirmou as primeiras mortes do mundo pela doença, de duas mulheres jovens e sem comorbidades na Bahia. Além disso, dois óbitos fetais tiveram o vírus Oropouche identificado por exames em Pernambuco e reforçam a capacidade uma transmissão vertical com potencial problemas a mulheres grávidas.

Cidades com mortes por febre oropouche
Cidades com mortes por febre oropouche Imagem: Arte/UOL
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Os cientistas afirmam que os resultados da pesquisa apresentam limitações e defendem que são necessários mais estudos para identificar o avanço da nova variante do vírus.

Este cenário [visto] pode contribuir para a introdução e estabelecimento de Oropouche nas Américas e outros continentes, como observado anteriormente com dengue, Zika e Chikungunya.
Trecho do estudo

Eles também citam que é necessário ter estratégias de "preparação para a saúde pública e o desenvolvimento de vacinas que forneçam proteção mais ampla contra o Oropouche e suas variantes para responder a futuros surtos de forma eficaz."

O ressurgimento do Oropouche em 2023-2024 ressalta a necessidade de estratégias robustas de vigilância molecular visando pelo menos dois segmentos do genoma viral. Além disso, a infecção deve ser considerada no diagnóstico diferencial de doenças febris e complicações neurológicas. Mais investigações são necessárias para definir a carga da doença grave da febre de Oropouche.
Trecho do estudo

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A doença

A febre oropouche, causada por vírus de mesmo nome, tem se espalhado pelo país este ano e sua transmissão já foi confirmada em 16 estados. A doença é transmitida pelo inseto Culicoides paraensis, também conhecido como maruim, meruim ou mosquito-pólvora, dependendo da região.

Os sintomas são parecidos com os da dengue e da chikungunya: dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, náusea e diarreia.

Segundo o Ministério da Saúde, até agora foram 7.044 casos confirmados no Brasil, com transmissão autóctone em 16 estados. Outros três estados estão com essa transmissão em investigação.

Não há terapias específicas para o manejo clínico da febre oropouche. O tratamento visa o alívio dos sintomas.
Ministério da Saúde

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