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Carlos Madeiro

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Reportagem

Voo que caiu encarou frio extremo e água supercongelada, diz meteorologista

O avião da Voepass que caiu nesta sexta-feira (9) em Vinhedo (SP) enfrentou uma frente fria extrema, que resultou em uma água supercongelada (característica quando o ponto de congelamento fica abaixo de -18ºC).

Segundo o meteorologista e coordenador do Lapis (Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite) da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Humberto Barbosa, isso pode gerar uma camada de gelo nas asas —tese que está sendo usada para explicar a perda de sustentação e queda da aeronave.

À pedido da coluna, ele analisou os dados climáticos e imagens de satélite do momento em que o voo cruzava os céus de Paraná e de São Paulo.

Ele afirma que a condição climática do momento era rara, com a influência intensa de dois fatores: uma nuvem de fumaça gigante vinda das queimadas da Amazônia e a frente fria que atinge o centro-sul do país desde a quarta-feira.

"O avião estava sujeito a condições meteorológicas que incluíam uma corrente de ar fria se deslocando e uma nuvem de partículas de poluição. Isso gerou uma instabilidade atmosférica, que se reflete no padrão das nuvens. Toda a região estava em um caos", afirma.

Mapa mostra área com temperaturas baixas na região onde o voo da Voepass cruzou
Mapa mostra área com temperaturas baixas na região onde o voo da Voepass cruzou Imagem: Lapis/Ufal/Divulgação

Barbosa explica que a frente fria não causou tempestades, o que pode ter feito com que o piloto não percebesse os problemas climáticos e desviasse a rota. "Ele não teria como ele ver porque não tinha tempestade, mas havia uma temperatura do ar muito baixa", afirma.

As imagens de satélite, diz, também não apontam formações de gelo na atmosfera naquele horário, mas isso não impede que ele se forme. "Havia uma umidade muito fria", diz.

A água supercongelada tem como característica ter ponto de congelamento mais baixo. À medida que impurezas do ar foram se misturando e alteram as propriedades físicas dela, isso pode baixar ainda mais. Como ela segue líquida, o avião fica mais úmido e isso facilita formar gelo.

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Ele explica que nesse cenário, uma teoria é que, à medida que o avião foi se deslocando, e a temperatura foi variando para menos, a água foi se tornando gelo. "E aí o gelo foi aderindo à aeronave."

Se a temperatura vai baixando, em algum momento a água vai ter de começar a congelar. E quanto mais água, mas vai aderindo e mais gelo. É mais ou menos quando como aqueles modelos antigos de congelador.

Segundo pilotos e especialistas, essa formação de gelo é perigosa porque cria uma crosta na asa, que altera a aerodinâmica do avião em voo e pode causar perda de sustentabilidade.

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Muita turbulência

Um outro elemento que ele detectou nas imagens é que houve muita turbulência na região que o voo cruzou, já que havia um trecho com nuvens e partículas de queimadas.

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Segundo ele, as nuvens estavam montadas "como se fosse uma área cheia de montanhas."

Ou seja, eram nuvens muito altas e depois nuvens mais baixas. É como uma rua cheia de buracos. O avião cruzou exatamente essa área de instabilidade, e isso cria muito mais turbulência. Você tem mais aerossois por isso."

O relato de turbulência foi relatado à coluna por uma passageira que fez a viagem com o mesmo avião, só que no trajeto de ida entre Guarulhos e Cascavel.

Reportagem

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