CE aprova Bíblia em escolas públicas com apoio do PT e bolsonaristas contra
A Assembleia Legislativa do Ceará aprovou, na quarta-feira (14), um projeto de indicação para incluir a Bíblia na grade curricular das escolas públicas do estado.
A proposta teve sinalização positiva e voto da base do governador Elmano Freitas (PT), porém, apenas para uma parte dela: a compra de bíblias, sem confirmação da inclusão no currículo.
A polêmica ganhou corpo e gerou debate após Elmano participar, na sexta-feira passada (9), do Congresso Ceará Petencnistal na Igreja do Senhor Jesus, fundada pelo deputado e autor do projeto, o apóstolo Luiz Henrique (Republicanos). "E eu tô aqui para dizer a vocês, o projeto será aprovado, as bíblias serão compradas e serão colocadas nas escolas do Estado."
O apóstolo, uma liderança política e religiosa importante em Fortaleza, apoia o colega de Elmano, o deputado Evandro Leitão (PT), na concorrida disputa pela prefeitura da capital cearense.
A fala de Elmano gerou uma onda de críticas da ala que defende a laicidade do estado. Em entrevista à imprensa local na terça-feira, o governador Elmano defendeu o projeto ao dizer que o "brasileiro é um povo religioso."
Acho que faz muito bem a nossa juventude é que na nossa escola, da mesma maneira que tem um livro de literatura, que tem um livro de história, que tem um livro de geografia, é bom também que tenha livros religiosos. Isso não faz mal nenhum, ao contrário, isso faz bem a nossa juventude e vai estar lá de todos os livros de todas as religiões que o nosso povo professa.
Elmano de Freitas
Ele ainda alegou que "não vamos obrigar ninguém a ler um livro ou outro." "É apenas a disponibilização em uma biblioteca. Eu não consigo entender o porquê de uma polêmica".
Entretanto, o projeto aprovado vai bem além de compra de livros.
Fica incluída a temática "Bíblia nas Escolas" como tema transversal na grade curricular das escolas da rede pública mantidas pelo Governo do Estado. A temática poderá ser ministrada por meio de aulas, seminários, palestras ou semanas culturais, abordando conteúdos sobre o Antigo e o Novo Testamento e a influência da Bíblia na literatura, cultura e história do mundo.
Projeto aprovado
Questionado pelo UOL, por meio de sua assessoria, se iria implementar o uso da Bíblia na grade curricular, como prevê o projeto, ele não respondeu.
Inclusão de mais livros
Após ouvir críticas por ser um projeto exclusivo para a Bíblia, no dia da votação, o líder do governo, Romeu Aldigueri (PDT), apresentou uma emenda para que outros livros ou textos sagrados de outras religiões fossem comprados e incluídos juntos ao acervo das bibliotecas das escolas estaduais.
A emenda (junto com o projeto) foi aprovada por 20 votos a seis.
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Quero receberA inclusão de outros livros, por outro lado, irritou a bancada bolsonarista. O deputado Alcides Fernandes (PL), pai do deputado federal e candidato à prefeitura de Fortaleza André Fernandes (PL), criticou a fala de Elmano e do apóstolo. "Esse teatro não funcionou", disse.
Fizeram agora uma emenda de última hora, e até livro de São Cipriano vai ter. Apóstolo, tenha hombridade de dizer em suas redes que o governo foi lá em sua igreja e o enganou, enganou o povo evangélico.
Alcides Fernandes
Além dele, votaram contra a emenda outros cinco parlamentares —alguns deles contrários inteiramente ao projeto. Um deles, o deputado Renato Roseno (PSOL), votou contra por entender que o projeto é "manifestamente inconstitucional."
A imprensa local focou na narrativa de compra de bíblias. Eu alertei várias vezes que o projeto era mais grave. Como vai ensinar biologia ou geografia com a bíblia como conteúdo transversal?
Renato Roseno
A única petista a se opor ao projeto na casa, a deputada Larissa Gaspar —vice-líder do governo— disse que não iria comentar sobre a "posição dos colegas". "Entretanto, ela disse que "escola pública não é lugar de proselitismo religioso."
Não acho adequado um projeto que favoreça uma determinada religião. O estado é laico e as políticas públicas devem respeitar o direito de livre crença religiosa, inclusive o de não ter uma religião. A laicidade e a liberdade religiosa são conquistas que precisam ser respeitadas. Na minha avaliação, é inconstitucional pois viola as conquistas democráticas da laicidade do Estado e da liberdade religiosa.
Larissa Gaspar
Projeto vai além de livros, garante apóstolo
O apóstolo Luiz Henrique, que está de licença do cargo e não votou no projeto, explicou ao UOL que, apesar da fala restrita do governador de compras apenas, o projeto aprovado vai além de levar Bíblia e livros religiosos para as escolas.
"Não é para que a Bíblia esteja na biblioteca apenas, mas para que ela seja usada em aulas, de forma transversal. Um professor pode usar para falar de Roma e do Império. Não estamos falando da religiosidade em si, de forçar alguém a crer; mas de princípios que se aplica para a vida", afirma.
Ele conta que a fala do governador no dia do evento não foi ensaiada, como muitos falaram, e veio após ele citar o projeto da inclusão da Bíblia no acervo de livros no presídio. "Foi então que ele perguntou se tinha algum projeto de bíblia nas escolas, e eu disse que tinha. Aí ele falou que ia aprovar", afirma.
O apóstolo diz que recebe com naturalidade o apoio do PT a um projeto de causa religiosa e criticou o que chamou de "uso da religião" como forma de professar preconceitos por alguns políticos, especialmente da extrema direita. "É algo diabólico a questão do preconceito", diz.
Com certeza criaram esse preconceito com a esquerda, e Deus está me usando para mostrar isso ao Brasil. Existem políticos que se aproveitam e usam em vão o nome sagrado e querem demonizar outros e falar que são por Deus, e que os outros são do demônio. O bom político não é aquele que fica esculhambando outros nas redes sociais.
Apóstolo Luiz Henrique
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