Carlos Madeiro

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Reportagem

PM apura dados vazados da Patrulha Maria da Penha para pedir voto a vítimas

A PM (Polícia Militar) de Alagoas abriu uma investigação para apurar denúncia de vazamento de dados de vítimas de violência doméstica atendidas por um serviço estadual para uma candidata a vereadora em Maceió.

A advogada Isabelle Nemézio, 31, afirma ter recebido, por WhatsApp, um áudio de campanha pedindo voto na tenente-coronel Márcia Danielli (PL). A mensagem, de um número desconhecido, dizia que o número de Isabelle constava em uma lista repassada pela Patrulha Maria da Penha.

Criada por lei estadual de 2016, a patrulha militar fiscaliza o cumprimento de medidas protetivas e assiste ou já assistiu 6.000 mulheres em Alagoas.

Danielli foi coordenadora da patrulha de 2018 até julho deste ano, quando deixou o cargo para se candidatar à Câmara dos Vereadores.

Procurada, ela nega ter vazado dados, alega desconhecer o número que enviou as mensagens e disse "suspeitar se a advogada realmente foi atendida pela patrulha" (leia mais abaixo).

O caso também denunciado à ANPB (Autoridade Nacional de Proteção de Dados).

Patrulha Maria da Penha, da PM em Alagoas, já assistiu 6.000 mulheres
Patrulha Maria da Penha, da PM em Alagoas, já assistiu 6.000 mulheres Imagem: Divulgação/PM-AL

Ação

Isabelle relata que conseguiu uma medida protetiva na Justiça em 2020 e, por isso passou a ser assistida pela patrulha da PM entre outubro e dezembro daquele ano.

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Após receber a mensagem, na semana passada, a advogada questionou o interlocutor sobre como a campanha conseguiu seu número. A resposta, afirma, é que se tratava de "uma lista do pessoal da Patrulha Maria da Penha". "Foi passado o nome e contato telefônico, o pessoal que trabalha com a tenente-coronel Danielli [sic]", dizia a mensagem.

Após reclamar, Isabelle recebeu a explicação que não teriam sido passados dados, mas "apenas" nome e telefone das pessoas.

A coluna tentou contato com o autor das mensagens, mas não houve resposta. Na manhã desta quinta-feira (26), o número destacava no perfil uma imagem com foto, nome e número da candidata. À tarde, a foto foi apagada, e o contato ficou sem imagem.

A advogada Isabelle Nemézio
A advogada Isabelle Nemézio Imagem: Arquivo pessoal

Isabella diz que inicialmente ficou assustada e fez uma denúncia anônima à ouvidoria do governo do estado. Na quarta-feira (25) decidiu também expor o caso publicamente em sua rede social. Ela afirma que vai levar o caso ao MP (Ministério Público) para que se apure se o número foi realmente vazado de dentro da PM.

"Estou me sentindo completamente exposta, desrespeitada e constrangida. Haja vista que não há como mensurar quais e quantas pessoas tiveram acesso aos meus dados pessoais, dados esses que deveriam, por lei, ser protegidos e sigilosos, ainda mais por se tratar de um processo delicado e traumático para a minha vida", disse.

Candidata nega vazamento

A tenente-coronel Danielli afirmou ao UOL que ficou "assustada" ao saber da denúncia da advogada, que diz não conhecer. "Acho que ela nunca foi assistida pela patrulha, se não, saberia o tamanho da minha ética", afirma.

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O UOL questionou novamente a advogada após a afirmação da PM, e ela apresentou à reportagem provas de que a patrulha a atendeu de 5 de outubro, quando a PM confirmou à Justiça a inclusão do seu nome na lista de assistidas, até 22 de dezembro de 2020, quando a advogada disse não precisar mais do serviço.

Tenente-coronel Danielli, candidata a vereadora em Maceió
Tenente-coronel Danielli, candidata a vereadora em Maceió Imagem: Reprodução/Instagram

Questionada sobre o uso de um santinho seu na imagem do número desconhecido e sobre o fato de o interlocutor ter se identificado como pertencente à sua campanha, a candidata disse que "não é minha voz, não é meu número." "Não sei quem é essa pessoa [que procurou Isabelle]", falou.

Eu estou afastada da PM, não tenho acesso a contatos. Não sei o que ela quer, o que está por trás [da denúncia], quem está com esse interesse [de me prejudicar]. Nunca fiz nada que violasse dados. Espero que isso seja esclarecido. Já acionei meus advogados para isso, mas estou em paz
Márcia Danielli

Procurada, a Polícia Militar informou que abriu uma investigação preliminar nesta quinta-feira (26) para apurar a denúncia.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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