PM apura dados vazados da Patrulha Maria da Penha para pedir voto a vítimas
A PM (Polícia Militar) de Alagoas abriu uma investigação para apurar denúncia de vazamento de dados de vítimas de violência doméstica atendidas por um serviço estadual para uma candidata a vereadora em Maceió.
A advogada Isabelle Nemézio, 31, afirma ter recebido, por WhatsApp, um áudio de campanha pedindo voto na tenente-coronel Márcia Danielli (PL). A mensagem, de um número desconhecido, dizia que o número de Isabelle constava em uma lista repassada pela Patrulha Maria da Penha.
Criada por lei estadual de 2016, a patrulha militar fiscaliza o cumprimento de medidas protetivas e assiste ou já assistiu 6.000 mulheres em Alagoas.
Danielli foi coordenadora da patrulha de 2018 até julho deste ano, quando deixou o cargo para se candidatar à Câmara dos Vereadores.
Procurada, ela nega ter vazado dados, alega desconhecer o número que enviou as mensagens e disse "suspeitar se a advogada realmente foi atendida pela patrulha" (leia mais abaixo).
O caso também denunciado à ANPB (Autoridade Nacional de Proteção de Dados).
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Ação
Isabelle relata que conseguiu uma medida protetiva na Justiça em 2020 e, por isso passou a ser assistida pela patrulha da PM entre outubro e dezembro daquele ano.
Após receber a mensagem, na semana passada, a advogada questionou o interlocutor sobre como a campanha conseguiu seu número. A resposta, afirma, é que se tratava de "uma lista do pessoal da Patrulha Maria da Penha". "Foi passado o nome e contato telefônico, o pessoal que trabalha com a tenente-coronel Danielli [sic]", dizia a mensagem.
Após reclamar, Isabelle recebeu a explicação que não teriam sido passados dados, mas "apenas" nome e telefone das pessoas.
A coluna tentou contato com o autor das mensagens, mas não houve resposta. Na manhã desta quinta-feira (26), o número destacava no perfil uma imagem com foto, nome e número da candidata. À tarde, a foto foi apagada, e o contato ficou sem imagem.
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Isabella diz que inicialmente ficou assustada e fez uma denúncia anônima à ouvidoria do governo do estado. Na quarta-feira (25) decidiu também expor o caso publicamente em sua rede social. Ela afirma que vai levar o caso ao MP (Ministério Público) para que se apure se o número foi realmente vazado de dentro da PM.
"Estou me sentindo completamente exposta, desrespeitada e constrangida. Haja vista que não há como mensurar quais e quantas pessoas tiveram acesso aos meus dados pessoais, dados esses que deveriam, por lei, ser protegidos e sigilosos, ainda mais por se tratar de um processo delicado e traumático para a minha vida", disse.
Candidata nega vazamento
A tenente-coronel Danielli afirmou ao UOL que ficou "assustada" ao saber da denúncia da advogada, que diz não conhecer. "Acho que ela nunca foi assistida pela patrulha, se não, saberia o tamanho da minha ética", afirma.
O UOL questionou novamente a advogada após a afirmação da PM, e ela apresentou à reportagem provas de que a patrulha a atendeu de 5 de outubro, quando a PM confirmou à Justiça a inclusão do seu nome na lista de assistidas, até 22 de dezembro de 2020, quando a advogada disse não precisar mais do serviço.
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Questionada sobre o uso de um santinho seu na imagem do número desconhecido e sobre o fato de o interlocutor ter se identificado como pertencente à sua campanha, a candidata disse que "não é minha voz, não é meu número." "Não sei quem é essa pessoa [que procurou Isabelle]", falou.
Eu estou afastada da PM, não tenho acesso a contatos. Não sei o que ela quer, o que está por trás [da denúncia], quem está com esse interesse [de me prejudicar]. Nunca fiz nada que violasse dados. Espero que isso seja esclarecido. Já acionei meus advogados para isso, mas estou em paz
Márcia Danielli
Procurada, a Polícia Militar informou que abriu uma investigação preliminar nesta quinta-feira (26) para apurar a denúncia.
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