Carlos Madeiro

Carlos Madeiro

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Primeira-dama dava gratificações por apoio de facção em João Pessoa, diz PF

Diálogos interceptados pela PF (Polícia Federal) na operação Território Livre sugerem que a primeira-dama de João Pessoa, Lauremília Lucena, presa neste sábado (28) na operação Território Livre, era a pessoa responsável por incluir gratificações de pessoas supostamente ligadas à facção criminosa.

A conclusão consta em relatório feito após análise de diálogos mantidos por um conselheiro tutelar ligado à facção Nova Okaida no bairro São José, na periferia da capital paraibana.

A primeira-dama está sendo investigada dentro de um suposto acordo entre a organização criminosa e a Prefeitura de João Pessoa para apoio nas eleições.

Na esteira deste tema, Josevaldo Gomes [conselheiro tutelar] afirma que 'a gratificação quem bota é LAUREMÍLIA', em alusão à primeira-dama de João Pessoa, que é a pessoa supostamente responsável por incluir gratificações nos contracheques dos servidores da Prefeitura de João Pessoa.
Relatório da PF

O relatório ainda cita que, "nos diálogos apresentados pelos interlocutores, Lauremília Lucena parece ser a pessoa de interlocução e decisão quando o assunto é resolução de demandas relacionadas aos cargos e contratações de pessoal da Secretaria de Ciência e Tecnologia."

Mandado cita gratificações

No mandado de prisão de Lauremília, a juíza da 64ª Zona Eleitoral, Maria de Fátima Ramalho justifica que a primeira-dama e sua secretária Tereza Cristina Albuquerque (também detida neste sábado) "desempenharam papeis centrais na nomeação de pessoas ligadas ao esquema criminoso, mediante acordo com membros da facção criminosa."

Segundo o pedido de prisão feito pela PF, existiria uma "cooptação de funcionários públicos e cargos comissionados, com indicações e promessas de gratificações indevidas, além de ameaça a eleitores opositores."

Os elementos indiciários indicam a possível existência de um esquema criminoso em que integrantes da administração pública, em associação com facções criminosas, viabilizaram a nomeação de servidores comissionados e, em contrapartida, receberiam o apoio político e controle dos territórios durante o período eleitoral.
Pedido de prisão da PF

Continua após a publicidade

Em um dos casos mencionados na decisão, a juíza cita um diálogo da secretária da primeira-dama, Tereza Cristina Albuquerque, que fez "pedido explícito para que haja a substituição de uma nomeação (...) para que a esposa seja contratada no lugar do marido que estava preso."

As provas até então trazidas apontam que as contratações indicadas pela facção criminosa foram efetuadas. Verifica-se que não houve qualquer dissimulação quanto ao motivo: deveria haver a substituição ante a prisão do antigo contratado.
Mandado de prisão

Vídeo endereçado à primeira-dama

Neste sábado, a coluna revelou um vídeo gravado e endereçado à primeira-dama de João Pessoa mostra uma ex-contratada da Prefeitura sugerindo ter chegado a um acordo com um suspeito líder de facção para dar apoio ao prefeito Cícero Lucena da comunidade Alto do Mateus.

"Raíssa e Cícero, a gente está junto, viu? Pode ficar tranquilo que a 'beira da linha' de ponta a ponta aqui é ele", diz um homem citado apenas como "Cabeça". Não se sabe a data exata do vídeo.

A "beira da linha" citada é o nome de um projeto de três décadas que atua na comunidade para promoção educacional, formação profissional, social e cidadã.

Continua após a publicidade

A região do Alto do Mateus tem o crime controlado pela facção Nova Okaida. Para a PF, o grupo tem atuado de forma violenta para coagir eleitores de comunidades sob sua influência a votar em determinados candidatos e para impedir rivais de fazer campanhas nessas áreas.

Prefeito nega crimes

Em nota, o prefeito Cícero Lucena (PP) chamou prisão de "ataque covarde e brutal." Disse ainda que "Lauremília tem uma vida limpa, é uma benfeitora na cidade e do Estado." "Ela provará sua inocência, sendo mais uma vítima de injustiça, assim como Cícero também foi", alega.

Trata-se de uma prisão política. Lauremília tem residência fixa e jamais se recusaria a prestar depoimento ou esclarecer quaisquer fatos. Houve o uso de força desproporcional, já que ela sequer foi convocada para prestar depoimento. Claramente, os adversários de Cícero estão utilizando todos os meios para conquistar o poder a qualquer custo, sem respeito à sua família ou à cidade de João Pessoa.
Nota da assessoria de Cícero Lucena (PP)

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.