Vídeo à primeira-dama de João Pessoa cita apoio de suposto líder de facção
Um vídeo gravado e endereçado à primeira-dama de João Pessoa mostra uma ex-contratada da Prefeitura sugerindo ter chegado a um acordo com um suspeito líder de facção para dar apoio da comunidade onde atua ao prefeito Cícero Lucena (PP) nas eleições de 2024.
Lauremília Lucena, esposa de Cícero, foi presa na manhã deste sábado pela PF (Polícia Federal) suspeita de fechar acordos com facção, que em troca de cargos públicos estaria atuando —segundo as investigações— com "violência e grave ameaça para garantir o controle territorial e eleitoral" das comunidades.
"Raíssa e Cícero, a gente está junto, viu? Pode ficar tranquilo que a 'beira da linha' de ponta a ponta aqui é ele", diz um homem citado apenas como "Cabeça". Não se sabe a data exata do vídeo.
A "beira da linha" citada é o nome de uma comunidade na região do Alto do Mateus, que tem o crime controlado pela facção Nova Okaida. Para a PF, o grupo tem atuado de forma violenta para coagir eleitores de comunidades sob sua influência a votar em determinados candidatos e para impedir rivais de fazer campanhas nessas áreas.
Quem é quem?
A coluna teve acesso a trechos da investigação da operação Território Livre que revelam mais detalhes sobre as pessoas que aparecem no vídeo.
Segundo a PF, "Cabeça" é David Sena de Oliveira, apontado como "gerente" que "domina o tráfico de entorpecentes na região de Alto do Mateus". Ele seria um líder da Nova Okaida na região.
Além disso, a coluna checou que David é réu acusado de assassinar um homem na comunidade em que vive — mas não há informações de quando o assassinato aconteceu. Outras seis pessoas também foram denunciadas, e a acusação foi aceita no último dia 6 pela juíza da 2ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, Aylzia Fabiana Borges Carrilho.
"Cabeça" chegou a ser preso no final de 2023 pelo homicídio e ficou atrás das grades por cinco meses, mas foi solto no dia 11 de abril.
Já Kaline Rodrigues é a mulher que aparece no vídeo. Ela é articuladora da Secretaria Executiva de Participação Popular de João Pessoa e é ligada à vereadora Raíssa Lacerda (PSB) —que, segundo a PF, seria a ponte entre a facção e a Prefeitura.
Kaline e Raíssa foram presas no dia 19 na segunda fase da operação Território Livre. Raíssa, na quarta-feira (25), renunciou à candidatura à reeleição. A articuladora está em prisão domiciliar. Ambas são suspeitas de fecharem acordos de cargos na prefeitura em troca de apoio da facção na comunidade.
Conversa interceptada sugere início de acordo
Uma das conversas que chamou atenção dos investigadores ocorreu no dia 22 de maio, quando Kaline encaminha para Raíssa 13 áudios trocados com "Cabeça". Neles, ela relata que pediu para o líder apoiar sua candidatura. A primeira-dama é citada por Kaline, que diz demonstrar "preocupação para que a prática de controle do território, proibindo a entrada de pessoas, não chame atenção".
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Quero receberDespertam atenção a citação a Lauremília, alcunha homônima da primeira-dama do município de João Pessoa/PB, bem como a solicitação de discrição na atuação, por parte de "CABEÇA", para que a referida ação não trouxesse prejuízos políticos a Gestão - "Sem sujar a Gestão, tu tá entendendo?
Trecho da PF
Na comunidade, a PF descobriu que há uma outra candidata a vereadora também com influência. Entretanto, o apoio a ela foi descartado por ela ter tido desavenças com Kaline após as eleições de 2022. Na atual campanha, ela estaria sendo impedida de pedir voto na comunidade, já que a facção chegou a acordo com Raíssa.
Não obstante pedir apoio para candidatura de Raíssa, a quem já se referiu como 'madrinha' em sua rede social, à Liderança de Facção Criminosa, a nacional Kaline ainda solicita que o faccionado impeça a entrada de "Tassiana" na comunidade.
Trecho da PF
Ainda no relatório, a PF diz que os áudios encaminhados a Raissa "revelam o interesse de 'Cabeça' em participar do pleito eleitoral em função de contrapartida monetária".
A negociação entre Kaline e o gerente do tráfico David já foi devidamente comprovada. Toda a conversa tem como objetivo beneficiar Raíssa Lacerda através do controle do território de Alto Mateus e coação para voto. Em contrapartida, promete-se ao gerente do tráfico carros para serem alugados pelo Município e empregos públicos.
Trecho da PF
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