Carlos Madeiro

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Áreas de risco mais que dobraram entre 1985 e 2023 no Brasil, alerta estudo

As cidades brasileiras viram suas áreas urbanizadas em áreas de risco mais que dobrarem nos últimos 38 anos. O dado consta no levantamento "perfil das áreas urbanas no Brasil", da rede MapBiomas.

Em 2023, zonas urbanas em áreas de risco cresceram 212% em relação a 1985. Eram 115 mil hectares no ano passado, 60,9 mil a mais que há quase anos.

A região Sudeste concentra 48,4% das áreas de risco no país.

O documento traz mapas anuais de cobertura e uso da terra e foi divulgado nesta sexta-feira (8). Ele é produzido em um trabalho colaborativo de mais de 100 pesquisadores de universidades, ONGs e empresas de tecnologia do Brasil.

São consideradas áreas de risco aquelas passíveis de serem atingidas por fenômenos ou processos naturais e/ou induzidos. As pessoas que habitam essas áreas estão sujeitas a danos à integridade física, perdas materiais e patrimoniais. Elas estão sujeitas, por exemplo, a deslizamentos, alagamentos, enchentes e outros tipos de desastres.

Áreas de risco no país
Áreas de risco no país Imagem: MapBiomas/Reprodução

Áreas sob risco de deslizamento

As áreas de encostas que são mais suscetíveis a deslizamentos--aumentaram em um ritmo mais acelerado que as demais regiões. A alta foi de 3,3% ao ano, contra 2,4% do total urbano do país, segundo o MapBiomas. O levantamento encontrou 47,6 mil hectares de áreas urbanas nessas condições em 2023.

O estudo lembra que existe uma Lei Federal (6766/79) que não permite o uso do solo urbano em terrenos com declividade superior a 30% --ou seja, ocupações em áreas de encosta são, na prática, irregulares.

Ao todo, 70% destas ocupações ocorreram nos últimos 38 anos. Dos 33,2 mil hectares ocupados entre 1985 e 2023, a maioria absoluta (93,6%) foi em cidades na Mata Atlântica.

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O Rio de Janeiro é o estado com mais áreas urbanizadas em encostas: 11,8 mil hectares. As cidades com maior quantidade de áreas em declividade urbanizadas em 2023 são:

  1. Rio de Janeiro - 2.695 hectares
  2. São Paulo - 1.526
  3. Belo Horizonte - 1.344
  4. Salvador - 739
  5. Florianópolis - 332
  6. Maceió - 251
  7. Vitória - 250
  8. Manaus - 197
  9. Recife - 178
  10. Fortaleza - 108
Morro do Zinco, no Rio de Janeiro
Morro do Zinco, no Rio de Janeiro Imagem: Divulgação/Saype

Mais favelas

Os dados do MapBiomas também apontam que as favelas seguem se expandindo. A cada ano, o Brasil ganhou, em média, 2.650 hectares de favelas. "Isso equivale, a cada quatro anos, uma área superior ao tamanho da cidade de Lisboa, em Portugal", diz o estudo.

Favela em Manaus
Favela em Manaus Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

O mapeamento constatou que as favelas representam hoje 4,5% das áreas urbanas no Brasil e cresceram de 75,2 mil hectares em 1985 para 180,1 mil em 2023. O avanço total é de 104,7 mil hectares, ou 139,5%.

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A região Norte é a que concentra mais favelas: 24% do total.

Em 2023, o Brasil tinha mais de 10 mil favelas e comunidades urbanas, onde vivem 16,6 milhões de pessoas —ou 8% da população.

Os picos de expansão proporcional das favelas no Brasil se deram entre 1999 e 2003 e coincidem com picos de maior desigualdade de renda na série histórica avaliada pelo MapBiomas.
Documento do MapBiomas

Favelas no país
Favelas no país Imagem: MapBiomas/Reprodução

Total urbanizado no país

As áreas urbanizadas no Brasil somaram 4,1 milhões de hectares no ano passado (2,4 milhões de hectares a mais que em 1985). Isso equivale a 0,5% do território nacional.

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Um dado curioso é que 11,5% dessas áreas estão urbanizadas na zona rural.

A Paraíba é o estado que apresentou maior ritmo de crescimento nesse período, e sua área urbanizada expandiu 3,4% ao ano.

Em 2023, 29 municípios tinham mais de 50% de suas áreas urbanizadas (em 1985 eram apenas 8). Os três municípios mais urbanizados do país são:

  1. São Caetano do Sul (S) - 99,9%
  2. São João do Meriti (RJ) - 98,1%
  3. Osasco (SP) - 88,7%
São Caetano do Sul (SP)
São Caetano do Sul (SP) Imagem: Prefeitura de São Caetano do Sul/Divulgação

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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