Carolina Brígido

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Opinião

Ataques a Moraes fortalecem discurso bolsonarista sem ameaçar ministro

A reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo sobre procedimentos pouco ortodoxos adotados por Alexandre de Moraes na condução do inquérito das fake news acordou aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A nova munição ensejou o movimento da oposição pelo impeachment do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e pela abertura de investigação judicial contra ele.

As duas frentes não têm potencial para prejudicar Moraes. É praticamente nula a hipótese de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), abrir um processo de impeachment contra o ministro. E, ainda que abrisse, é pífia a probabilidade de Moraes ser defenestrado do STF pelo Parlamento.

O pedido de investigação feito pelo partido Novo mal chegou à PGR (Procurador-Geral da República) e foi arquivado pelo chefe da instituição, Paulo Gonet — que, aliás, chegou ao cargo com o auxílio de campanha feita pelo ministro.

No dia seguinte à publicação da reportagem, fez-se uma verdadeira muralha de proteção em torno de Moraes. Na quarta-feira (14), o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, discursou em apoio ao colega. "Na vida, às vezes existem tempestades reais e às vezes existem tempestades fictícias. Acho que estamos diante de uma delas", disse.

Em Brasília, o que difere uma tempestade real de uma fictícia é a adesão à tempestade. No caso de Moraes, os interessados na crise estão todos no campo da oposição. Chefes dos Três Poderes, integrantes do governo e colegas do Judiciário preferem abafar a história.

Ainda que as investidas da oposição dificilmente surtam efeito prático, e que a oposição saiba bem disso, os ataques a Moraes fortalecem o discurso bolsonarista e devolvem ao cenário político o antagonismo entre o STF e a direita, tão explorado por Bolsonaro nos anos em que ocupou o Palácio do Planalto.

Alimentar esse cenário em véspera de eleição municipal, que é uma espécie de antessala para a disputa presidencial de 2026, parece vantajoso para o time bolsonarista. Afinal, uma das bandeiras mais caras aos aliados do ex-presidente é a crítica contundente ao Judiciário e a seus protagonistas.

No próximo 7 de Setembro, o pastor Silas Malafaia, aliado de primeira hora de Bolsonaro, pretende defender o impeachment de Moraes no palanque da avenida Paulista, como relevou o UOL. Em fevereiro, ele evitou ataques ao Judiciário e defendeu a pacificação do país a partir de um acordo com o STF.

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Ao largo das movimentações, os poderes de Moraes seguem inabalados. Ele continua à frente dos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, principais instrumentos de contenção do golpismo no país.

Na semana passada, enquanto a oposição tentava articular um processo de impeachment contra o ministro, ele reforçava a decisão de bloquear perfis do X associados ao senador Marcos do Val (Podemos-ES). Também foram bloqueados até R$ 50 milhões em contas bancárias do parlamentar, que fez ataques ao STF e a Moraes.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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