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Jamil Chade

Caso Flávio complica situação do Brasil na OCDE, "o clube dos países ricos"

Suspeitas de aparelhamento do serviço de inteligência pela família do presidente Bolsonaro arranha imagem do país em espaço internacional para negócios - Pedro França/Agência Senado
Suspeitas de aparelhamento do serviço de inteligência pela família do presidente Bolsonaro arranha imagem do país em espaço internacional para negócios Imagem: Pedro França/Agência Senado

Colunista do UOL

14/12/2020 14h37

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A interferência do Executivo na luta contra a corrupção e em órgãos de Estado complica a situação do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A entidade vem criticando desde 2019 o comportamento do governo nos compromissos de garantir independência da Justiça no combate contra a corrupção. A OCDE se transformou na principal meta de política externa do governo, já que representaria uma espécie de chancela do projeto de abertura da economia e um sinal de confiança ao investidor estrangeiro por fazer parte do "grupo dos países desenvolvidos".

Agora, a revelação de um suposto envolvimento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) deve ampliar as dúvidas sobre o governo e exigirá um esforço maior das instituições para demonstrar no palco internacional que estão agindo sem interferências do pai do senador.

O caso não é uma boa notícia para o Brasil em seus planos no exterior e chamou a atenção de diplomatas estrangeiros que circulam pela sede da entidade, em Paris.

No início do ano, a coluna publicou com exclusividade um rascunho do informe da OCDE sobre o Brasil e revelava uma preocupação real sobre a interferência do presidente Jair Bolsonaro sobre instituições que deveriam manter autonomia para lutar contra a corrupção.

O texto final do informe será publicado nesta quarta-feira e, ao longo dos meses, o governo submeteu informações na esperança de reverter alguns dos pontos mais delicados.

No rascunho, ficava claro que a entidade alertava que "aumentar a eficiência dos gastos públicos não será possível sem mais melhorias no combate à corrupção e aos crimes econômicos".

Mas o alerta da instituição é claro. "Recentemente, a autonomia de fato de todos esses órgãos [Polícia Federal, a unidade de inteligência financeira, o Ministério Público] tem sido questionada por interferências presidenciais incomuns no processo de seleção de postos-chave", indicou.

Situação do Brasil é examinada por entidades internacionais

No mês passado, a entidade Transparência Internacional ainda denunciou ao grupo antissuborno da OCDE e ao Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e Financiamento do Terrorismo (Gafi) os retrocessos no combate à corrupção no Brasil. "Ao contrário do que disse o presidente Jair Bolsonaro, a corrupção não acabou no seu governo", apontou a entidade.

Na semana passada, a revista Época revelou que a Abin encaminhou por escrito, à defesa de Flávio, orientações para tentar inocentá-lo no caso das "rachadinhas". O parlamentar foi denunciado por peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) negou que a Abin tenha sido usada. Em nota divulgada, o GSI aponta que as "acusações são desprovidas de veracidade, se valem de falsas narrativas e abordam supostos documentos, que não foram produzidos pela Agência Brasileira de Inteligência". O gabinete ainda acusa a reportagem de tentar "difamar o GSI, a Abin e seus servidores".

Apesar disso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou que vai apurar a informação sobre uma possível interferência nas investigações. Há poucos meses, a revista havia noticiado uma reunião ocorrida entre o presidente Bolsonaro, o chefe do GSI, ministro Augusto Heleno, o diretor da Abin, Alexandre Ramagem, e advogados de Flávio. O GSI também nega a existência de tal encontro.