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Brasil é alvo de intensa pressão para mudar de posição sobre Putin
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O governo brasileiro está sendo alvo de uma intensa pressão por parte de potências ocidentais para que modifique sua postura em relação à guerra na Ucrânia e sua insistência em se abster em votações para excluir a Rússia de organismos internacionais.
A coluna apurou que diplomatas americanos e britânicos têm liderado a ofensiva, na esperança de ver o Brasil aderir ao bloco ocidental que tenta conseguir um isolamento completo de Vladimir Putin na cena internacional.
Se em vários países pelo mundo a pressão das grandes potências vem atrelada a uma ameaça de corte de apoio a certos programas de desenvolvimento, o cenário não tem se repetido no Brasil. No caso do país, porém, negociadores revelam que o que fica subentendido é que, sem uma mudança na postura do governo Bolsonaro, uma sonhada adesão à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) não prosperaria.
Se, nos primeiros dias da guerra, o Brasil votou no Conselho de Segurança da ONU e na Assembleia Geral por condenar as ações dos russos, o Itamaraty passou a adotar uma postura bem mais moderada em todas as demais votações.
O governo de Jair Bolsonaro optou pela abstenção quando resoluções foram apresentadas para suspender a Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU ou para suspender programas de cooperação da OIT ou da Unesco com Moscou.
No G20, o Brasil também tem trabalho ao lado da Indonésia, China e Índia para evitar que Moscou seja retirada do bloco.
A ideia no Itamaraty é que tal isolamento - ou "cancelamento diplomático da Rússia" - poderia aprofundar a crise e dificultar uma saída negociada para a guerra. Outro temor é de que a suspensão de um dos membros permanentes do Conselho de Segurança signifique um abalo profundo para a sobrevivência do sistema multilateral.
Mas, para potências ocidentais, o temor é de que vozes como a do Brasil garantam o oxigênio que Putin precisa para justificar internamente que não está isolado e, ao mesmo tempo, recursos com suas exportações.
Há também, nos bastidores da diplomacia internacional, o temor de que o Itamaraty não seja o único ator influenciando a posição do Brasil e que a simpatia de Bolsonaro em relação ao presidente Vladimir Putin possa estar também pesando.
Segundo fontes em Brasília, algumas das conversas entre o governo brasileiro e a diplomacia ocidental beiraram à ameaça, insinuando ao Brasil que o governo tem apenas duas opções: estar contra ou a favor do Ocidente.
Próxima batalha: a OMS
A pressão sobre o Brasil não vai ceder. Com o tema "saúde e paz" como foco da agenda neste ano, a Assembleia Mundial da Saúde, que começa no dia 22, esperava ser um marco no esforço global para virar a página da pandemia da covid-19 e iniciar um processo de fortalecimento dos organismos internacionais.
Mas, segundo funcionários do alto escalão da OMS e diplomatas ouvidos pela coluna, o evento em Genebra promete se transformar em mais um palco do enfrentamento entre Rússia e o Ocidente.
O evento contará com a presença do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que já solicitou encontros com a delegação dos EUA e outras.
Mas missões de diferentes regiões indicaram que já foram informadas de que o grupo ocidental planeja dois possíveis cenários para a assembleia. O mais otimista deles seria a proposta de resolução para suspender a Rússia da OMS.
A constituição da agência de saúde estabelece que tal medida poderia ser tomada em apenas duas situações: o calote no pagamento das contribuições obrigatórias ou no evento de "circunstâncias especiais". O caso russo cairia na segunda hipótese e teria de ser alvo de uma votação da Assembleia Mundial.
Caso os autores do projeto constatem que não existe apoio suficiente, nas próximas semanas, a segunda opção em debate será a apresentação de uma resolução que proponha condenar a Rússia pelos ataques contra mais de 180 serviços de saúde na Ucrânia.
Para muitos dentro da OMS, o temor é de que a guerra e a disputa diplomática acabem ofuscando temas urgentes, como a definição de uma estratégia para o fortalecimento da capacidade de resposta da agência para futuras pandemias.
Durante a assembleia, um dos objetivos é de que as lições da pandemia sejam analisadas, assim como recomendações sobre como agir.
Outro tema na agenda será o orçamento. Um acordo preliminar aponta que governos estariam em um entendimento para que, até 2031, o orçamento da agência sofra um aumento de 50%.
De acordo com diplomatas, a crise russa ainda deve tirar o foco de um dos temas que mais atritos gerou nos últimos dois anos: a investigação sobre a origem da covid-19. Segundo representantes da OMS, a China continua bloqueando a visita de uma missão, enquanto EUA e o restante do Ocidente passaram a colocar o foco na guerra na Ucrânia.
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