Às vésperas da Cúpula da Amazônia, indígenas sofrem ataques a tiros no Pará
Às vésperas da cúpula da Amazônia, indígenas são alvos de ataques a tiros. A denúncia está sendo divulgada pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos. Em nota, o órgão explica que as vítimas foram os membros da etnia tembé, moradores da comunidade Turé Mariquita, em Tomé Açu (Pará).
A reunião é considerada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como seu principal ato de política externa em 2023, uma sinal para a comunidade internacional de que o país quer reassumir a soberania e a presença do estado na região.
Segundo o Conselho, porém, os ataques ocorreram nesta segunda-feira, "enquanto uma missão emergencial coordenada pelo Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) se dirigia para o município com o objetivo de apurar denúncias de graves violações a direitos humanos".
O Conselho é um órgão colegiado que tem por finalidade a promoção e a defesa dos direitos humanos no Brasil. Fazem parte do órgão representantes do Conselho Federal da OAB, Conselho Nacional de Justiça, Defensoria Pública da União, Conselho Nacional dos Procuradores, Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Itamaraty, Polícia Federal e outros.
De acordo com a nota, o ataque atingiu três pessoas, sendo duas jovens mulheres e um jovem de 23 anos, Felipe Tembé. "Mesmo ferido com tiros nas costas, ele foi levado à delegacia por policiais e segue preso", afirmou.
Moradores estão, nesta segunda-feira, na porta da delegacia exigindo a soltura imediata do indígena baleado, assim como atendimento médico.
"A comunidade indígena, que esperava a missão de direitos humanos, informou a conselheiros que acredita que os tiros sejam responsabilidade de pessoas ligadas à empresa multinacional Brasil Bio Fulls - BBF, que produz azeite de dendê na região", aponta o órgão.
Segundo o órgão, o ataque teria sido motivado pela denúncia feita por um cacique no último dia 4 de agosto, em Belém do Pará, durante evento promovido pelo CNDH nos Diálogos Amazônicos, preparatório para a Cúpula da Amazônia.
"Na ocasião, o cacique informou, em lágrimas, que seu filho, que ainda é criança, foi alvejada nas partes íntimas durante conflitos na região", afirmou.
Em nota, o Grupo BBF (Brasil BioFuels) "esclarece que o Polo de Tomé-Açu, propriedade privada da empresa, composto pela Agrovila, Administração Geral e Áreas de Infraestrutura, foi invadido mais uma vez, na manhã desta segunda-feira (7), quando teve equipamentos incendiados e edificações destruídas por invasores indígenas".
"Na ação, cerca de 30 invasores armados ameaçaram e agrediram trabalhadores da empresa, antes de incendiar dezenas de tratores, maquinários agrícolas e edificações da companhia", afirmou a empresa. "A equipe de segurança privada da companhia conseguiu conter a ação criminosa dos invasores e resguardar a vida dos trabalhadores que estavam no local", alegaram.
"O Grupo BBF reforça que tomou as medidas jurídicas cabíveis junto ao poder judiciário e solicitou o apoio aos órgãos de segurança pública do Estado do Pará. Dessa forma, aguarda uma rápida solução do caso", disseram.
Já a conselheira do CNDH, Virgínia Berriel, contou ainda que, durante o deslocamento para a missão, a rodovia estava fechada. O objetivo, segundo ela, era o de impedir o acesso da delegação, que conta com representantes da Organização das Nações Unidas, Fabíola Corte Real, da subprocuradora geral do Ministério Público do Trabalho, Edelamare Barbosa Melo, além de representantes da Human Rights Watch, Comissão Pastoral da Terra, Redes de Liberdade, Cimi, entre outras entidades.
"É mais um ataque covarde aos direitos humanos, porque isso só aconteceu devido à nossa vinda ao local", afirma Berriel.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberNa última sexta-feira, outro indígena já foi morto, também na região.
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