Brasileiro repatriado tenta trazer 3 filhos após morte de ex-mulher em Gaza
O brasileiro-palestino Ramadan Hasan Abdou diz que jamais imaginou que viveria um drama de tal proporção. No mês passado, ele foi resgatado de Gaza pelo governo, mas deixou para trás a ex-mulher e três filhos que não tinham cidadania brasileira.
Viajou com sua atual esposa e uma filha.
Se sua vida já havia sofrido um abalo com o conflito, os acontecimentos dos últimos dias deixaram-no sem rumo.
Segundo ele, há uma semana, o prédio onde estava a mãe de seus três filhos foi bombardeado no sul da Gaza. Ela e todos seus parentes morreram. Os corpos continuam sob os escombros do imóvel, assim como tem sido a realidade para milhares de vítimas.
Os filhos de Abdou, porém, não estavam no edifício naquele momento e escaparam. Hoje, segundo ele, vivem nas ruas de Raffa, cidade que faz fronteira com o Egito, com suas tias, irmãs de Abdou.
"Não consigo dormir e estou preocupado com meus filhos e irmãs", disse o palestino-brasileiro.
"Khaled tem 5 anos de idade; Inshirah, 7, e Ala, 6. Não sobrou ninguém para eles lá. Meus filhos estão morrendo de frio", lamentou.
"A guerra se intensificou, e a mãe foi morta. Agora, apelo a todas as agências governamentais, incluindo o presidente e o Itamaraty, para que trabalhem numa terceira lista dos que estão retidos lá", pediu.
Abdou conta que tem tentando pedir ao governo brasileiro que transfira as crianças para uma casa segura. Hoje, o Itamaraty mantém quatro residências em Raffa, onde 41 pessoas inscritas numa segunda lista de evacuação estão abrigadas.
Mas, segundo ele, a chancelaria afirmou que não poderia abrigar as crianças e suas tias por não fazerem parte da lista que já foi entregue aos governos de Israel e Egito para análise. Sem a chancela dos dois governos, não há uma evacuação possível.
"Eles não têm nenhum abraço. Só o meu", completou, contando como tem sido difícil a comunicação.
Conforme o UOL revelou na manhã de terça-feira, a intensificação dos ataques de Israel após o fim da trégua levou os brasileiros já evacuados de Gaza a temer pelos seus parentes que ficaram na região.
No total, já são mais de cem pessoas que tentam ainda sair do conflito, com a ajuda do Brasil. Ao receber o primeiro grupo de repatriados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que o país não deixaria ninguém para trás.
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