Martins defendeu alinhamento com Trump e foi apelidado de 'SorocaBannon'
Filipe Martins, preso hoje numa operação que investiga uma tentativa de golpe de Estado, foi um dos responsáveis por construir a política externa de Jair Bolsonaro, considerada por observadores nacionais e estrangeiros como um dos feitos mais devastadores para a imagem do Brasil no exterior em décadas.
Diplomatas relatam que ele fez parte de uma espécie de triunvirato ao lado de Eduardo Bolsonaro e Ernesto Araújo (ex-chefe do Itamaraty) que redefiniu as bases da diplomacia do país.
Seu foco foi sempre a aliança com o governo americano de Donald Trump, que chegou a recebê-lo no Salão Oval.
Ele é ainda creditado por ter sido um dos principais inspiradores do discurso de Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU, em 2019. A fala deixou parceiros tradicionais do Brasil revoltados e em choque com a violência apresentada. A agressividade adotada em relação aos governos de Cuba e Venezuela também teria nascido de suas propostas.
Discípulo de Olavo de Carvalho, Martins se aproximou da família Bolsonaro antes das eleições de 2018 com um discurso ideológico e inflexível. Com pouco mais de 30 anos e sem qualquer experiência em órgãos oficiais, ele foi alçado a assessor especial do Planalto para Assuntos Internacionais. O gesto deixou dezenas de experientes diplomatas preocupados.
Dois anos depois, em meio a uma crise entre os senadores e o então chanceler Ernesto Araújo, o Ministério Público Federal acusou Martins de ter feito um gesto que poderia ser interpretado como uma alusão a movimentos supremacistas dos EUA. Ele sempre negou.
Já fora do governo, Martins concedeu uma entrevista para o apresentador americano Tucker Carlson afirmando que "Joe Biden entendeu que é melhor que Bolsonaro continue no poder" no Brasil. Na mesma conversa, ele afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiava "terroristas e o crime organizado".
Em 2021, ele se envolveu em outra polêmica. De acordo com um informe da Polícia Federal de 7 de setembro daquele ano, Martins acompanhou Jason Miller, CEO da rede social Gettr e ex-assessor de Trump, e o empresário Gerald Brant, quando ambos foram levados pela PF para depor.
"Cumpre informar que durante o procedimento, entrou na sala um Senhor que se identificou como Filipe Martins. Ao ser questionado pela autoridade policial se este era advogado de Jason ou Gerald, Milena informou que se tratava de seu amigo e que ele estava no local apenas para resolver questões dos honorários", escreveu o informe da PF.
"Foi solicitada a identificação de Filipe para que fosse registrada sua presença. Filipe Garcia Martins Pereira apresentou sua identificação. Após alguns instantes, compareceu ao local Adam Vogelzang (secretário da Embaixada dos EUA no Brasil). Próximo do término das diligências, a advogada Milena solicitou que não fosse certificada a presença de FILIPE MARTINS tendo em vista que este era apenas seu namorado e que estava ali no local apenas esperando para que almoçassem juntos", afirmou.
Nos corredores do Itamaraty, o assessor ganhou diversos apelidos. Um dos mais citados era "SorocaBannon", em referência a suas ligações com Steve Bannon e ao fato de ser originário da região de Sorocaba (SP).
Bannon foi um dos mentores de comunicação de Trump e, após o 8 de Janeiro de 2023 no Brasil, comemorou a iniciativa dos apoiadores de Bolsonaro.
Outro nome usado para designar Martins dentro do Itamaraty era Robespirralho, numa alusão a um dos líderes da Revolução Francesa, Robespierre. Ele acabaria guilhotinado.
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