Brasil opera para abafar 'crise das joias' com sauditas e quer investimento
Por uma determinação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a diplomacia brasileira operou para neutralizar a crise instalada na relação bilateral com a Arábia Saudita por causa das joias que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu do regime em Riad.
A meta foi "desintoxicar" os contatos para garantir que as promessas de fluxo de investimentos e de comércio pudessem se concretizar, abrindo um novo capítulo. O UOL apurou que, da parte da diplomacia, a orientação foi a de deixar claro que esse não seria um assunto que dominaria a agenda nem pautaria a relação bilateral.
Ou seja, não haveria nenhum tipo de questionamento por parte do Brasil sobre a motivação que poderia estar na base do presente ao ex-presidente.
No ano passado, as diferentes revelações sobre presentes que as autoridades da Arábia Saudita deram para Bolsonaro —e as tentativas de vendê-los— causaram um mal-estar doméstico e na região. Acostumados a distribuir presentes a chefes de Estado e de governo, os sauditas ficaram em uma saia-justa com a descoberta de que houve uma tentativa de trazer os bens ao Brasil de forma ilegal, sem declará-los. As joias acabaram detidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos.
Fontes em Riad confirmaram ao UOL que houve uma "incompreensão" por parte de membros do regime do príncipe Mohamed Bin Salman.
Nos primeiros meses do governo Lula, contaminada por esse caso e pelas denúncias de graves violações de direitos humanos, Brasília hesitou em instalar um contato mais direto com os sauditas. O presidente brasileiro chegou a cancelar um jantar que teria com o príncipe, em Paris, poucas horas antes do evento, em junho. O argumento oficial naquele momento da parte do Palácio do Planalto era a sobrecarga da agenda do presidente.
A aproximação, portanto, foi por etapas. Em meados de 2023, os sauditas foram ao Brasil com uma delegação liderada por um ministro e empresários. Na ocasião, estiveram com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, que chegou a devolver um presente que havia recebido dos sauditas.
As autoridades em Riad entenderam que, naquele momento, não havia outro procedimento possível a ser tomado pelo governo governo brasileiro.
A reaproximação foi consolidada com uma visita do presidente Lula ao país, no final de 2023. E, com ela, veio a completa neutralização da situação das joias. Estava aberto o caminho para retomar a agenda de investimentos.
Nos primeiros meses do governo de Jair Bolsonaro, as autoridades de Brasília anunciaram com pompas a intenção dos sauditas de investir US$ 10 bilhões no Brasil em dez anos. Mas a equipe bolsonarista apresentou propostas que não atendiam aos interesses sauditas. Os brasileiros insistiam em atrair investimentos para a área de infraestrutura, o que não era prioridade de Riad.
O resultado foi um impasse e a não concretização dos planos.
O governo Lula, agora, retoma a negociação. A Embraer quer usar a Arábia Saudita como seu centro de produção para o Oriente Médio, enquanto delegações sauditas viajam ao Brasil nos próximos dias em busca de comprar participação em empresas de soja e milho.
O Ministério do Investimento da Arábia Saudita também deve abrir um escritório em São Paulo até meados do ano, e a projeção é que o comércio bilateral cresça.
Ainda assim, o governo Lula já foi avisado de que os sauditas dificilmente aceitariam entrar no Novo PAC e que as apostas precisam estar focadas em outros segmentos, principalmente no setor de minérios, agricultura e energia.
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