Violência, ameaças de morte e símbolos fascistas marcam eleição francesa
A eleição de 2024 na França entrará para a história não apenas como um divisor de águas para a extrema direita europeia. Dados divulgados pelas forças de ordem e por autoridades eleitorais indicam que o pleito que ocorre neste domingo está sendo marcado por violência, atos de racismo, a proliferação de símbolos fascistas e até ameaças de morte.
Milhões de franceses vão às urnas para escolher os novos membros da Assembleia Nacional, o poder legislativo do país. Mas temendo manifestações e confrontos, o governo de Emmanuel Macron anunciou que 30 mil soldados e policiais estarão nas ruas das cidades francesas para garantir a ordem, após o anúncio dos resultados no domingo pela noite.
Macron e seus aliados vêm alertando que, no caso de uma vitória da extrema direita, protestos podem eclodir. O próprio presidente chegou a alertar sobre o risco de uma "guerra civil" caso os extremismos vençam. As pesquisas de voto indicam que a extrema direita liderada pela Reunião Nacional deve vencer. Mas sem os assentos suficientes para formar um governo.
Na sexta-feira, o ministro do Interior Gérald Darmanin revelou que 51 candidatos ou militantes foram agredidos fisicamente. Mesmo a porta-voz do governo, Prisca Thevenot, foi vítima de um ataque ao colar cartazes pela cidade. Quatro pessoas foram detidas. "Violência e intimidação não têm lugar na democracia francesa", afirmou o primeiro-ministro Gabriel Attal.
Na última quinta-feira, um político de Isère do movimento de esquerda também foi agredido ao fazer campanha na região de Grenoble. O Ministério Público solicitou que o jovem acusado de agredir Bernard Dupré, vice-prefeito de La Tronche, enquanto este colava cartazes do candidato Olivier Véran fosse colocado sob supervisão judicial.
Outros casos, inclusive com golpes e socos, foram registrados pelo país. A agressão também ganhou um componente homofóbico, no caso da região de Loire-Atlantique. Em Paris, no início da semana, uma equipe que distribuia material de campanha foi agredida por membros da extrema direita que prometiam "acabar com a esquerda".
A extrema direita também denunciou atos de violência contra uma de suas candidatas, a deputada Marie Dauchy na região de Savoie. Marine Le Pen, líder da Reunião Nacional, sugeriu que também foi alvo de insultos numa visita a um mercado.
Ameaças de morte: lista de pessoas a serem eliminadas
Ainda que os últimos anos tenham registrado uma tensão cada vez maior nas eleições francesas, observadores apontam que a nova dimensão da violência é inédita nos últimos 50 anos. Nesta semana, cerca de 70 advogados abriram uma denúncia em Paris contra um grupo de extrema direita que havia publicado num site uma lista de juristas que deveriam ser "eliminados".
A apresentadora Nassira El Moaddem também foi incluída entre as pessoas ameaçadas. Nas redes sociais, o grupo pedia um "caixão" para a jornalista.
Racismo solto
Um dos aspectos identificados por instituições de direitos humanos é a onda de ataques racistas e xenófobos, assim como a descoberta de símbolos fascistas pintados em paredes em cidades como Avallon e em manifestações da extrema direita. Uma delas é a cruz celta, uma referência cristã sequestrada pela extrema direita.
A imprensa francesa passou a relatar casos cada vez mais explícitos de insultos contra minorias. Num episódio com ampla repercussão, uma mulher estrangeira relatou que encontrou um cartaz na porta de sua casa com um recado: "prepare sua volta para a África". Ao lado, um panfleto da campanha de Marine Le Pen.
A França também passou a viver uma proliferação de vandalismo, com o desenho de símbolos fascistas e de extrema direita em cemitérios, locais de comércio ou centros de estrangeiros.
As polêmicas também chegaram aos candidatos da Reunião Nacional, acusados de tecer comentários racistas ou antissemitas. Daniel Grenon, deputado de Yonne, afirmou que os "magrebinos binacionais não têm lugar nas altas esferas" da França, numa alusão a um projeto de lei que destinaria certos cargos públicos para pessoas exclusivamente com nacionalidade francesa.
Laurent Gnaedig, candidato em Haut-Rhin, disse que não era antissemita a polêmica declaração de Jean-Marie Le Pen - pai de Marine Le Pen - de que as câmaras de gás na Alemanha nazista eram "apenas um detalhe da história".
Em Calvados, a candidata Ludivine Daoudi foi obrigada a desistir de sua campanha depois da revelação de uma foto sua com um boné nazista.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.