Nota de esclarecimento: não contem comigo para justificar ditaduras
Prezadas leitoras e leitores,
Há uns dias, publiquei uma matéria revelando cartas confidenciais e inquéritos denunciando a repressão num certo país. Na mesma matéria, mostrei como o governo Lula se manteve em silêncio nas reuniões diante das acusações de crimes.
Semanas antes, eu havia publicado uma outra matéria. Desta vez, com os informes denunciando os crimes cometidos por outro país.
No primeiro, fui acusado de ter sido pago pela CIA. Questionaram a procedência das informações. Perguntaram, num clima de clássico de fim de semana, de que lado eu estava. Para qual time eu jogo.
No segundo caso, fui elogiado. As denúncias, nesse caso, não foram colocadas em questão. Apenas chanceladas.
Quero contar, então, algo a vocês: os informes e cartas são produzidos pela mesma entidade. Em alguns casos, escritos pelas mesmas pessoas. Pelas mesmas mãos.
Não há nada de errado em questionar. Precisamos fazer isso, permanentemente. Mas, então, de forma coerente.
O que é complicado é fazer uma escolha de quem denunciamos, com base em nossas ideologias e paixões.
Seria, então, seletiva a defesa da democracia, dos direitos humanos e da paz?
O que eu posso dizer, de uma maneira muito clara, é que não contem comigo para buscar argumentos para defender um ditador, seja ele quem for.
Não contem comigo para justificar a violência.
Não contem comigo para buscar uma desculpa que ampare um crime, ainda que seja a reação a uma outra violação.
Denunciarei o impacto das sanções e dos ecos do imperialismo. Mas não fecharei os olhos para a repressão.
Denunciarei a ingerência externa, a ocupação, a destruição de vidas forçadas a ir ao exílio, a tentativa de desestabilizar um governo e uma região.
Denunciarei, como tenho feito ao longo dos anos, o avanço da extrema direita e a ameaça que ela representa para as democracias, para o avanço dos direitos das mulheres e das minorias.
Denunciarei a hipocrisia das potências ocidentais, incapazes de aceitar ou deliberadamente cegas diante da transformação do epicentro do poder mundial.
Denunciarei um sistema econômico injusto, perverso e desumano que, nem mesmo diante da morte de um vírus que colocou o mundo de joelhos, foi capaz de abrir mão da propriedade privada e ceder vacinas.
Mas lido com fatos. E quando existe uma violação, meu papel é denunciá-la. Independente da mão que a cometeu.
Não existe fake news do bem, não existe campanhas de ódio justificáveis.
Não quero e não tenho as mesmas armas daqueles que não tem limites éticos.
Não me cabe avaliar se publico uma história baseada em considerações, cálculos políticos e táticas eleitorais. Estaria cometendo uma traição ao meu papel de jornalista.
Sobre a pergunta que me fizeram em relação a qual lado eu estou, a resposta é simples: o da democracia, dos direitos humanos e das vítimas. Todas elas.
Saudações democráticas, sempre
Jamil Chade
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