Jamil Chade

Jamil Chade

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Maduro se transforma em maior teste de diplomacia do governo Lula

A crise gerada na Venezuela diante do anúncio da vitória de Nicolás Maduro, neste domingo, ameaça abrir o maior teste da diplomacia brasileira, desde a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

A eleição era a grande aposta do Palácio do Planalto para normalizar a situação venezuelana, permitindo a retomada do processo de integração regional, estabilizando o fluxo de refugiados e ainda lidando com ameaças às fronteiras nacionais.

Mas, pelo menos por enquanto, governos como o da Argentina, Uruguai, Peru e Costa Rica, deixaram claro que não reconhecem os resultados que apontam Maduro como vencedor. EUA e União Europeia também cobraram transparência, enquanto Xi Jinping e Vladimir Putin se apressaram para felicitar o aliado estratégico.

Já o Brasil permanece — pelo menos publicamente — em silêncio, e indica que aguarda a disponibilidade das atas para tomar uma posição.

Desde que tomou posse, Lula passou a articular com os americanos uma mudança de postura por parte da Casa Branca, depois da frustrada campanha de Donald Trump na região que não resultou no enfraquecimento de Maduro, apesar das sanções.

A partir de março de 2023, Lula e Joe Biden iniciaram um diálogo sobre a crise venezuelana. O brasileiro reabriu embaixada e consulados no país e recebeu Maduro. Nos meses que se seguiram, e de forma confidencial, Washington negociou um acordo tanto com a oposição quanto com o governo da Venezuela.

Em troca de eleições livres, sanções poderiam ser retiradas, aliados de Maduro que estavam presos nos EUA seriam soltos e até mesmo o voos para repatriar venezuelanos seriam retomados.

Mas a recusa da oposição em aceitar os resultados, as denúncias de irregularidades e a falta de transparência por parte do governo Maduro colocam o Brasil numa saia justa que testará a diplomacia nacional.

Se chancelar o resultado, mesmo sem transparência, o governo brasileiro ameaça aprofundar as divisões na América Latina e ser visto como um ator parcial.

Continua após a publicidade

Se, no caso de uma fraude, o governo brasileiro não convencer Maduro a jogar o jogo diplomático, a crise vai escancarar até que ponto o país tem influência na região e na Venezuela.

O caso ainda testa as credenciais do Brasil, que pode sair chamuscado diante do uso de Maduro do sistema eleitoral para se perpetuar no poder. Num recente informe, a comissão de inquérito da ONU já havia questionado a capacidade de que eleições pudessem de fato ocorrer de maneira transparente e justa na Venezuela. Na ocasião, o governo brasileiro se manteve em silêncio.

Para completar, se mesmo com provas a oposição se recusar a aceitar a eleição, a crise e instabilidade continuarão a ameaçar o território brasileiro.

Resta saber, agora, se Brasília atuará de forma técnica para examinar o processo eleitoral e, se necessário, denunciar a falta de transparência. E como irá lidar na região caso a oposição venezuelana não acate um eventual resultado legítimo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes