Diplomatas ameaçam entrar em greve às vésperas da cúpula do G20
Pela primeira vez na história do Itamaraty, diplomatas aprovam um indicativo de greve. Nesta segunda-feira, a Assembleia Geral Extraordinária da Associação e Sindicato dos Diplomatas Brasileiros) chancelou a decisão e um estado inédito de mobilização permanente da categoria na história do Itamaraty.
A ameaça de greve ocorre às vésperas das principais reuniões do G20, bloco presidido pelo Brasil em 2024, e escancara um mal-estar na chancelaria brasileira.
O indicativo é um aviso político. O próximo passo é convocar uma assembleia para que os diplomatas confirmem a greve. Procurado, o Itamaraty ainda não se manifestou. Fontes em Brasília confirmam que a pasta tenta abrir canais de negociação entre o sindicato e o Ministério da Gestão e Inovação (MGI), responsável pela proposta que desagradou os funcionários.
De acordo com o sindicato, 95% dos presentes na reunião desta segunda-feira deram seu voto favorável ao indicativo de greve. Numa nota, o sindicato explicou que "a decisão surge em resposta à contraproposta de readequação salarial apresentada pelo Ministério da Gestão e Inovação (MGI), que ficou muito abaixo das expectativas da categoria".
De acordo com o texto, os diplomatas rejeitaram a proposta, que previa um aumento salarial não linear, com percentuais variando de 7,8% para a classe de Terceiros Secretários (TS) até 23% para os Embaixadores (Ministros de Primeira Classe, MPC), escalonados entre 2025 e 2026.
"Diferentemente de outras carreiras públicas, nas quais os servidores podem chegar ao topo salarial em pouco mais de 10 anos, diplomatas costumavam levar até 30 anos para alcançar o nível máximo da carreira", afirmam.
"Com o aumento da idade de aposentadoria para 75 anos e uma estrutura engessada com vagas limitadas por classe, número significativo de diplomatas fica estagnado nas classes iniciais ou intermediárias da carreira", disseram.
"Por esta razão, é grande a insatisfação nas gerações mais recentes do Itamaraty, que não têm perspectivas de desenvolvimento profissional na carreira", alertam.
A nota aponta que, diante desse quadro de fluxo estagnado, a maior parte dos diplomatas, pertencente às classes de Terceiro Secretário, Segundo Secretário e Primeiro Secretário, ficaria com um reajuste abaixo de 16%, o que seria insuficiente para recompor as perdas inflacionárias do período recente.
"A oferta salarial foi considerada insuficiente em comparação com a proposta original da ADB Sindical, que previa um reajuste linear de 36,9%", disse o sindicato.
"A decisão de um indicativo de greve reflete a insatisfação geral da categoria com a falta de valorização e reconhecimento da importância da carreira diplomática, em um momento em que o Brasil retoma suas ambições na política externa, sediando importantes eventos como as cúpulas do G20, do BRICS e a COP-30", completa.
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