Jamil Chade

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Reportagem

Em dia 'histórico', Palestina assume lugar na Assembleia Geral da ONU


Num dia considerado como "histórico" pela diplomacia dos países árabes, as autoridades palestinas assumiram um assento oficial na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. A diplomacia palestina anunciou, imediatamente após ocupar o posto nesta terça-feira, que irá apresentar uma resolução pedindo a retirada de Israel dos territórios ocupados num prazo de seis meses. Trata-se da primeira resolução de autoria dos palestinos, em mais de 70 anos da ONU.

Ainda que os discursos de chefes de estado ocorram apenas no final de setembro, inclusive com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Assembleia Geral iniciou seus nesta terça-feira, desta vez com a presença dos palestinos.

Minutos antes do início do encontro, a reportagem do UOL presenciou como delegações de diferentes países se dirigiram até o local reservado para os palestinos para tirar fotos e saudar o embaixador palestino, Riyad Mansour. Coube à delegação do Egito anunciar a "chegada" dos palestinos, sob os aplausos da Assembleia. "Esse é um dia histórico", disse a diplomacia do Cairo. "140 países reconhecem a Palestina como um estado soberano. Ela precisa estar sentada entre nós", completou.

O governo de Israel rebateu, alertando que a medida era um "favoritismo político". "Apenas estados soberanos podem fazer parte. Por acaso a Carta da ONU foi reformada?", criticou a delegação de Israel. "Isso é uma recompensa ao Hamas", disse.

Em maio, com o patrocínio e voto do Brasil, a entidade aprovou uma resolução que pede o reconhecimento da Palestina como um Estado soberano, defende a entrada do país nas Nações Unidas e amplia os direitos dos palestinos nos trabalhos do organismo internacional.

O ato, porém, ainda não garantiu a adesão plena dos palestinos como membros da ONU, já que ela precisa passar pelo Conselho de Segurança, onde o governo dos EUA já vetou a proposta.

Em sua capacidade de observador, porém, o Estado da Palestina não tem o direito de votar na Assembleia Geral ou de apresentar sua candidatura aos órgãos das Nações Unidas. Mas, simbolicamente, agora tem um lugar entre os demais estados.

A partir de agora, a delegação palestina tem o direito:

  • de se sentar entre os países da ONU em ordem alfabética
  • de se inscrever na lista de palestrantes em itens da agenda que não sejam questões palestinas e do Oriente Médio, na ordem em que manifestar seu desejo de falar;
  • de fazer declarações em nome de um grupo de países
  • de apresentar propostas e emendas e introduzi-las, inclusive oralmente, inclusive em nome de um grupo de países
  • de co-patrocinar propostas e emendas
  • de fazer declarações de voto em nome dos Estados Membros de um grupo;
  • de levantar moções processuais, incluindo pontos de ordem e solicitações para colocar propostas em votação, incluindo o direito de contestar a decisão do presidente da sessão
  • de propor itens a serem incluídos na pauta provisória das sessões regulares ou especiais e o direito de solicitar a inclusão de itens suplementares ou adicionais na pauta das sessões regulares ou especiais;
  • De ter membros de sua delegação eleitos como oficiais no Plenário e nos Comitês Principais da Assembleia Geral;
  • a ter uma participação plena e efetiva nas conferências das Nações Unidas e nas conferências e reuniões internacionais convocadas sob os auspícios da Assembleia Geral.
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Apoio do Brasil

Em maio, os palestinos conseguiram 143 votos, inclusive o Brasil. Votaram contra o projeto apenas 9 países: EUA, Israel, Argentina, Hungria, Nauru, Palau, Micronésia, República Tcheca e Papua-Nova Guiné. Outros 25 países optaram pela abstenção, entre eles Alemanha, Paraguai, Suíça, Itália e Reino Unido.

Eram necessários dois terços dos países da ONU para que a resolução fosse aprovada. O resultado foi usado para demonstrar o isolamento do governo de Joe Biden e colocar pressão para que a soberania palestina seja respeitada.

Na época, Riyad Mansour, embaixador palestino na ONU, lembrou que o "voto histórico" ocorre num momento em que Gaza está sendo "destruída", acusando Israel de fechar qualquer acesso humanitário à população. Segundo ele, há uma "ameaça existencial" aos palestinos.

"Como podemos explicar que Israel é parte da ONU há 75 anos e os palestinos não?", questionou. Ele concluiu o emotivo discurso repetindo: "Palestina Livre, Palestina Livre".

Já o embaixador de Israel, Guilad Erdan, afirmou que o diplomata palestino "jorra lágrimas de crocodilo". "Esse é o dia da infâmia", disse. Ele acusou os apoiadores da resolução de serem "cegos". "Vocês vão aprovar um estado terrorista, liderado pelo Hitler de nosso tempo", disse o diplomata aos demais governos. "Vocês estão abrindo a ONU a um grupo terrorista. Isso me faz sentir doente", disse.

Reportagem

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