Lula critica ricos, alfineta Gates e diz que 'mundo está desgovernado'
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou sua participação num evento ao lado de Bill Gates nesta segunda-feira em Nova York para criticar os ricos, alertar para o fato de o mundo estar "desgovernado" e até mesmo alfinetar o inventor da Microsoft. Para ele, a fome no mundo não é falta de dinheiro, mas falta de vergonha dos governos.
Ovacionado, Lula recebeu o prêmio Goalkeepers, organizado pela Fundação Bill e Melinda Gates. Num esforço para mobilizar recursos para atingir as metas de desenvolvimento social da ONU até 2030, o evento transformou políticos e líderes em popstars, num dos palcos mais importantes de Nova York, o Jazz em Lincoln Center.
Coube a Blll Gates apresentar Lula a um teatro lotado. "Existem países que fizeram um trabalho fantástico", disse o americano, que lembrou como o presidente foi para cama, muitas vezes, com fome em sua infância. Gates, que o chamou de "inspirador", apontou como o projeto agora de Lula é de ir além do Brasil e criar uma aliança contra a fome no mundo.
Lula usou o palco para criticar a ausência de recursos contra a fome. "Eu achava que precisamos passar fome para lutar. Mas isso não leva ninguém à revolução. Isso leva à submissão", disse. O presidente insistiu que "rico não precisa do estado" e alfinetou Gates. "Quem precisa são os que não tem oportunidade de estudar, quem não inventou a Microsoft", afirmou.
Lula ainda chamou a decisão de Gates de criar uma fundação de "louvável". Mas alertou que isso não vai resolver os problemas do mundo e lembrou até mesmo da fome nos EUA. "O que vai resolver não é doação. Mas politicas públicas", disse, arrancando aplausos de um teatro lotado.
O presidente ainda fustigou os bilionários, numa alusão a Elon Musk. "Os mais ricos do mundo estão fazendo foguete para morar e outro lugar, em outro planeta. E não tem. Vão ter de aprender a cuidar da terra", disse.
Para ele, o problema do mundo "não é falta de dinheiro". "Trilhões de dólares circulam, com gente cada vez mais rica sem produzir um copo e vivendo de especulação", disse. Lula lembrou que, em 2023, US$ 2,4 trilhões em armas. Aplicado em programas sociais, esses recursos acabariam a fome.
"A fome não é falta de dinheiro, mas falta dose vergonha na nossa cara de quem governa o mundo", completou.
"O problema é que temos cinco mega empresários que tem mais dinheiro que dez países", disse."Não sou contra ricos. Mas sou contra existir gente pobre", insistiu Lula, ao lado de um dos homens mais ricos do mundo.
"Não é possível uma pessoa sozinha ter mais dinheiro que o Reino Unido ou Brasil", disse, lembrando que o mundo conta com 733 milhões de famintos.
Defende tese capitalista, não marxista
Lula arrancou risos quando disse que "não era um homem radical". Mas alertou que defendia, quando líder sindical, uma tese capitalista. "Não era marxista", disse.
A tese, segundo ele, era de Henry Ford e sua defesa de que o trabalhador tivesse um salário suficiente para comprar o produto que fabrica.
Mundo desgovernado e críticas contra a ONU
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberUm dia antes de abrir a Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira, Lula ainda usou o palco para tecer duras críticas contra a ONU e a concentração de poder nas mãos de apenas poucos países.
"O mundo está desgovernado. Ninguém respeita ninguém", disse. Segundo ele, se a ONU teve o poder de criar o estado de Israel há quase 70 anos, ela hoje não tem "a coragem de criar o estado palestino".
Lula também estimou que guerras como a do Iraque, Líbia e tantas outras não existiriam se a ONU pudesse cumprir seu mandato.
Parte de sua crítica mais dura se refere à ausência de governança no mundo. Lula listou acordos e compromissos entre governos que, após assinados, jamais foram cumpridos. "Não há governança e nem autoridade mundial", disse.
"Precisamos ter uma autoridade mundial", insistiu. "O mundo não pode continuar tendo só cinco países permanentes no Conselho de Segurança. Ninguém mais respeita a ONU", sentenciou.
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