Em ação de retaliação, Israel ataca Irã; dois soldados morrem após operação
Israel realizou, durante horas, uma onda de ataques contra o Irã, com explosões registradas nas proximidades de Teerã, capital do Irã, e em outras cidades do país na madrugada entre sexta-feira e sábado [horário local]. Os ataques, já oficialmente encerrados, foram conduzidos como parte da resposta do governo de Benjamin Netanyahu à ofensiva militar que Israel sofreu por parte do regime iraniano, no início de outubro.
O ataque usou dezenas de aeronaves da Força Aérea Israelense, incluindo caças, e foram realizados a 1.600 quilômetros de Israel. De acordo com o governo de Netanyahu, todas as aeronaves retornaram com segurança às bases.
Em informe neste sábado, o Irã noticiou que dois soldados morreram após os ataques de Israel. "O Exército da República Islâmica do Irã, ao defender a segurança do país e proteger o povo, sacrificou dois dos seus combatentes durante ataque do regime criminoso".
Israel insistiu que apenas instalações militares foram atingidas, incluindo baterias de defesa aérea e locais de fabricação de mísseis balísticos que tinham sido usados contra as cidades israelenses, há quase um mês.
"O ataque retaliatório foi concluído e a missão foi cumprida", disseram as Forças de Defesa de Israel em um comunicado. "Nossos aviões voltaram para casa em segurança".
Militares israelenses ainda atingiram "conjuntos de mísseis terra-ar e outras capacidades aéreas iranianas, que tinham a intenção de restringir a liberdade de operação aérea de Israel no Irã".
Ainda que os resultados não tenham sido divulgados, os militares israelenses garantem que o Irã "pagou um preço por seus ataques", no começo de outubro.
Israel alerta que pode voltar a atacar
Ao encerrar os ataques, Daniel Hagari, porta-voz das Forças de Defesa de Israel, fez um alerta às autoridades israelenses. "Realizamos ataques direcionados e precisos contra alvos militares no Irã - frustrando ameaças imediatas ao Estado de Israel. As Forças de Defesa de Israel cumpriram sua missão", disse ele.
Segundo ele, se o Irã iniciar "uma nova rodada de escalada", Israel será "obrigado a responder". "Nossa mensagem é clara: todos aqueles que ameaçam o Estado de Israel e procuram arrastar a região para uma escalada mais ampla pagarão um preço alto", disse. "Demonstramos hoje que temos a capacidade e a determinação de agir de forma decisiva e que estamos preparados no ataque e na defesa para defender o Estado de Israel e o povo de Israel."
Irã admite "danos limitados"
No início do sábado (horário local), o governo Irã anunciou que seu sistema de defesa aérea teve êxito em impedir os ataques de Israel, mas admitiu que "danos limitados" foram identificados. Os alvos ocorrem em bases militares em Teerã, Khuzestan e Ilam.
O Irã e o Iraque fecharam o espaço aéreo de ambos os países após o ataque israelense ao território iraniano. As autoridades locais não forneceram mais detalhes sobre a medida.
Eleição americana e inflação
Os ataques ainda ocorrem momentos após o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, ter pousado nos EUA, depois de uma turnê pelo Oriente Médio. Na viagem, ele pediu que Israel evitasse uma resposta que representasse uma escala da crise, às vésperas da eleição presidencial americana.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberTel Aviv admitiu que conduziu "ataques precisos contra alvos militares iranianos" e que nenhuma instalação relacionada com a indústria do petróleo foi atingida. Mas o temor é de que o novo capítulo da crise na região conduza os governos a um confronto de grande escala.
A escolha dos alvos, segundo Israel, foi feita com base numa avaliação do que seria considerada como uma "ameaça". O processo também envolveu consultas com os EUA e até mesmo uma conversa entre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o presidente Joe Biden.
Guerra de narrativas
De acordo com a agência oficial irianiana Fars, "múltiplas bases militares no Oeste e Sudeste" de Teerã foram atacadas. Mas outra agência de notícias oficial do Irã, Irna, citou uma fonte de segurança dizendo que alguns dos sons ouvidos na capital foram causados por "atividades de defesa em Teerã, e a defesa aérea foi bem-sucedida durante este incidente".
Imediatamente após o anúncio dos ataques, a guerra de narrativas foi estabelecida, com sites iranianos insistindo que os ataques foram inofensivos. Já a agência semi-oficial do Irã, a Tasnim, afirmou que a situação seria "normal" em Teerã.
O governo israelense avisou às autoridades na Casa Branca, momentos antes da ofensiva, que os ataques seriam realizados, mas deixou claro que toda a operação é realizada a partir de uma cooperação e troca de informações com os americanos. Instantes depois, o governo de Joe Biden fez questão de anunciar que os Estados Unidos não estavam participando das operações militares contra o Irã.
"Entendemos que Israel está realizando ataques direcionados contra alvos militares no Irã como um exercício de autodefesa e em resposta ao ataque de mísseis balísticos do Irã contra Israel em 1º de outubro", disse Sean Savett, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
Os americanos tinham recebido um alerta por parte do Irã de que qualquer envolvimento de Washington daria às autoridades em Teerã o direito de atacar bases dos EUA pela região.
Israel diz que tem direito de se defender
De acordo com as IDF (Forças de Defesa de Israel), os ataques são uma resposta ao Irã, que vem "atacando implacavelmente" Israel desde 7 de outubro "em sete frentes - incluindo ataques diretos do solo iraniano". "Como qualquer outro país soberano do mundo, o Estado de Israel tem o direito e o dever de responder", acrescentou a declaração.
Israel ainda afirmou que suas "capacidades defensivas e ofensivas estão totalmente mobilizadas".
Na quarta-feira, o ministro da defesa israelense, Yoav Gallant, disse que os ataques aéreos planejados contra o Irã fariam o mundo entender o poderio militar de Israel. O Oriente Médio, de fato, se preparava para essa retaliação, com governos da região e de outras partes do mundo tentando decifrar de que maneira Netanyahu daria sua resposta.
Síria diz ter sido alvo também de ataques
Já a agência de notícias estatal da Síria, Sana, informou que Israel atacou várias instalações militares no sul e no centro da Síria. Segundo a agência de Damasco, os sistemas de defesa aérea derrubaram alguns dos mísseis israelenses. Mas não informou a dimensão do dano.
Retaliações em série
O Irã havia atacado Israel como uma resposta ao fato de que, em seu território e no Líbano, líderes do Hamas e do Hezbollah foram assassinados por operações conduzidas por Netanyahu. Em cartas às Nações Unidas, o regime de Teerã alegou que tinha o "direito" de se defender e que, portanto, havia lançado os ataques contra Israel em 1 de outubro.
Naquele momento, porém, o chefe de governo israelense alertou que "o Irã cometeu um grande erro - e pagará por ele". "O regime do Irã não entende nossa determinação de nos defender e nossa determinação de retaliar nossos inimigos", disse Netayahu.
Pensando em eleição, Biden pediu que não houvesse ataque contra petróleo
Nos últimos dias, o governo de Joe Biden tentou convencer Tel Aviv a não atacar a produção de petróleo ou as instalações nucleares do Irã. O temor dos democratas era de que, num eventual impacto nos mercados, uma das consequências seria a alta no preço do petróleo. Às vésperas de uma eleição nos EUA onde a questão da inflação tem favorecido o discurso de Donald Trump, a Casa Branca apelou para que esse não fosse o caminho adotado por Netanyahu.
Os ataques levaram governos europeus, a cúpula da ONU e o governo americano a suspender atividades para acompanhar de perto as possíveis consequências. Nas Nações Unidas, o temor é de que a constante lógico de retaliação acabe saindo do controle, com uma ofensiva que acabe mergulhando potências em um conflito internacional.
Durante a cúpula do Brics, há dois dias, um dos alertas emitidos pelo bloco foi justamente sobre o risco de uma "guerra total".
Horas antes dos ataques, porém, fontes iranianas tinham alertado o governo dos EUA que iriam retaliar contra as bases militares americanas na região caso elas fossem usadas num ataque contra o país.
A ofensiva militar de Israel ocorre 25 dias após o Irã lançar 180 mísseis contra Tel Aviv e outras cidades. Praticamente todos os disparos foram interceptados.
Ainda assim, Israel anunciou que iria retaliar e que isso seria realizado dentro de seu próprio planejamento militar.
Nesta sexta-feira, o jornal New York Times informou que o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, ordenou que as forças armadas do Irã formulassem vários planos com base no possível resultado de um esperado ataque de retaliação por parte de Israel. "O Irã ordenou que as forças armadas se preparassem para a guerra, mas também tentassem evitá-la", disse o relatório.
Se Israel infligisse danos significativos a locais sensíveis, como instalações petrolíferas e nucleares, ou se tivesse como alvo autoridades iranianas de alto escalão, o Irã estaria disposto a escalar a guerra.
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