Jamil Chade

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Reportagem

Maduro chama embaixador no Brasil de volta em ato de repúdio e amplia crise

O governo de Nicolás Maduro ampliou a crise diplomática com o Brasil, após o governo de Luiz Inácio Lula da Silva ter vetado a entrada do país vizinho no Brics.

Num comunicado emitido hoje (30), Caracas anunciou que convocou seu embaixador em Brasília, Manuel Vadell, de volta para a capital para "consultas". Na prática diplomática, isso é um gesto para mostrar repúdio a outro governo e um primeiro passo para uma eventual retirada completa da representação no país.

Além do veto à adesão ao Brics, o motivo alegado seria ainda o comportamento de Celso Amorim, assessor especial de Lula para assuntos internacionais.

No Itamaraty, a ordem é não reagir nem comentar o gesto venezuelano.

Não se trata, ao menos por enquanto, de uma ruptura das relações diplomáticas. O Brasil não reconhece a vitória de Maduro nas eleições de junho, mas o chanceler Mauro Vieira conversou com a diplomacia venezuelana tanto em Nova York, em setembro, como às margens da cúpula em Kasan, na Rússia, na semana passada.

O Brasil havia feito um pedido para que o ditador Maduro desse um salvo-conduto para que opositores que estão na embaixada da Argentina, hoje protegida pelo Brasil, pudessem deixar o país. Entretanto, os venezuelanos não deram uma resposta.

O diplomata brasileiro que representa interinamente o país em Caracas também foi convocado pelo governo Maduro. A convocação deveria ser dirigida à embaixadora do Brasil na capital venezuelana, Glivânia Maria de Oliveira — que está em férias. Caracas anunciou que a medida é para "manifestar o seu mais firme repúdio à ingerência recorrente e às declarações grosseiras de porta-vozes autorizados pelo governo brasileiro".

Amorim é chamado de "mensageiro do imperialismo dos EUA"

Os ataques no comunicado oficial de Caracas são dirigidos em especial a Celso Amorim.Segundo o texto, o assessor de Lula vem se "comportando mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano."

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Tem se dedicado impertinentemente a emitir juízos de valor sobre processos que só pertencem aos homens e mulheres venezuelanos e às suas instituições democráticas, o que constitui uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem ambos os países.
Governo Maduro critica Celso Amorim

Amorim é a pessoa que, desde o início do governo Lula, foi destacado para negociar uma aproximação entre a oposição venezuelana e Maduro e trabalhar para o fim das sanções americanas contra a Venezuela.

Seu papel foi central nos acordos de Barbados, que, em 2023, estabeleceram o projeto de uma eleição com a participação de observadores e condições concretas da votação.

Ataque ao veto do Brasil no Brics

Um elemento central, porém, foi a decisão do governo Lula de vetar, na semana passada, a adesão da Venezuela ao grupo de parceiros do Brics. Caracas tinha sido um dos governos mais votados pelos demais membros do bloco. Mas qualquer decisão exigia consenso. No lugar dos venezuelanos, o grupo passou a contar com Cuba e Bolívia.

Maduro, numa tentativa de virada de mesa, chegou a viajar para Kasan, para a surpresa dos brasileiros. Mas o veto foi mantido e, desde então, os venezuelanos passaram a atacar Brasília.

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"Da mesma forma, manifestamos o nosso total repúdio pela atitude antilatino-americana, contra os princípios fundamentais da integração regional, expressos na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), bem como na longa história de unidade da nossa região, consumada no veto aplicado pelo Brasil na cimeira dos BRICS em Kazan, com o qual a Venezuela foi excluída da lista de membros associados convidados dessa organização", disse o comunicado.

Venezuela diz que atuação do Brasil é equivalente às sanções que sofrem dos EUA. O governo de Maduro ainda denunciou "o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros que, contrariamente à aprovação dos outros membros do Brics, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e de punição coletiva de todo o povo venezuelano".

"Foi expresso que a Venezuela reserva, no âmbito da sua política externa, as ações necessárias em resposta a esta atitude, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto que até agora tinha sido desenvolvido em todos os espaços multilaterais", alertou Caracas.

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