Procuradores pedem 'transição pacífica de poder' e mandam recado para Trump
Em um sinal explícito dos temores de que a eleição nos Estados Unidos caminhe para violência e questionamento dos resultados, procuradores-gerais de todo o país se unem para fazer um apelo por uma "transição pacífica de poder". Se o pedido é normalmente feito pelo governo dos EUA para outras regiões do mundo onde o processo eleitoral é incerto, a declaração nesta terça-feira foi interpretada como um sinal da fragilidade da democracia americana.
O apelo é feito num momento em que a campanha de Donald Trump sinaliza que não vai aceitar uma derrota e que prepara diversas ações para contestar os resultados. No campo democrata, a campanha de Kamala Harris vem alertando sobre os riscos dessa atitude e planejam uma ação caso Trump decida se declarar vencedor durante a madrugada de terça-feira para quarta-feira, mesmo sem contar com os votos necessários.
Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, vem insistindo que cabe à base do republicano estar nas ruas para "proteger" o sistema eleitoral. Sua convocação foi recebida com preocupação por forças de ordem, que temem que grupos mais radicais possam usar da violência para supostamente fazer valer uma declaração de vitória por parte de Trump.
"Independentemente do resultado da eleição de terça-feira, esperamos que os americanos respondam pacificamente e condenamos quaisquer atos de violência relacionados aos resultados", afirmou o comunicado da Associação Nacional de Procuradores Gerais (NAAG), uma coalizão bipartidária de 51 procuradores-gerais, liderada pelos representantes de Ohio, Dave Yost, do Oregon, Ellen Rosenblum, de Connecticut, William Tong, e do Kansas, Kris Kobach.
O temor da violência fez Washington DC se blindar e tomar medidas inéditas de segurança num dia de eleição. Autoridades indicam que existem riscos reais de que cenas como a da invasão do Capitólio, em 2021, voltem a ser registradas. O governo de Joe Biden alertou que não irá tolerar.
Uma transferência pacífica de poder é o maior testemunho do estado de direito, uma tradição que está no centro da estabilidade de nossa nação. Como Procuradores Gerais, afirmamos nosso compromisso de proteger nossas comunidades e defender os princípios democráticos aos quais servimos
Coalizão de procuradores
"Pedimos a todos os americanos que votem, participem de discursos civis e, acima de tudo, respeitem a integridade do processo democrático", pediram.
"Vamos nos reunir após essa eleição, não divididos por resultados, mas unidos em nosso compromisso compartilhado com o estado de direito e a segurança de todos os americanos. A violência não tem lugar no processo democrático; exerceremos nossa autoridade para fazer cumprir a lei contra quaisquer atos ilegais que a ameacem", completam.
Tensão e campanha marcada por violência
Nesta terça-feira, milhões de americanos vão às urnas para a escolha do novo presidente dos Estados Unidos. A vice-presidente entrou na corrida eleitoral apenas em agosto, quando o partido decidiu substituir o atual presidente, Joe Biden, que tentava a reeleição, em decorrência do desempenho ruim no primeiro debate.
A campanha também foi marcada por dois episódios de ameaças contra Trump. Durante um comício na Pensilvânia, o candidato foi alvo de disparos. Mas a bala apenas tocou sua orelha e a imagem passou a ser usada como símbolo da resistência do republicano. Os agentes secretos ainda impediram um segundo atentado, enquanto Trump jogava golfe na Flórida.
Pesquisas indicam um empate técnico entre os dois candidatos. Mas a eleição ainda tem sido marcada por uma onda de ódio, xenofobia e desinformação, inclusive com a participação de Elon Musk, aliado dos republicanos. Como parte da campanha, Trump insistiu que a votação de 2020, quando ele foi derrotado, foi alvo de uma fraude. Isso, porém, não ocorreu. Ele ainda prometeu uma "deportação em massa" e acusou estrangeiros de comer animais de estimação dos americanos.
A eleição, decisiva para a política internacional ocorre num momento de fragilidade da economia, com baixo crescimento da renda média, a insistência das taxas de pobreza e um sentimento de perda relativa de relevância dos EUA no mundo.
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